Alá, Jeová, Tupã, Olodumaré, Oxalá, Guaraci, Brâman. Todos o mesmo Deus, representado por crenças de códigos e rituais distintos. Em nome da mesma deidade, o homem ignora preceitos invioláveis de sua fé para cometer barbáries. No Iraque, militantes do Estado Islâmico ocuparam cidades ao norte e impuseram um código de horror. Cristãos e yazidis - seguidores de uma doutrina que mistura traços do judaísmo, do cristianismo e do zoroastrismo e que crê no demônio como o líder dos anjos - são obrigados pelos jihadistas à conversão ao islã. Quem não se curvar ao islã e não pagar uma taxa imposta aos "infiéis" ou não muçulmanos pode ter uma morte dolorosa ao extremo, que inclui a decapitação ou a crucificação. O mesmo ocorre na Nigéria, onde os terroristas do Boko Haram explodem igrejas e massacram a minoria cristã do norte.
Qualquer tipo de intolerância - seja ela religiosa, seja sexual, seja racial - fere a dignidade e a liberdade do homem. Impor uma fé, espezinhar uma crença ou matar em nome de uma verdade individual equivale a retornar à idade das trevas e renegar qualquer traço de civilidade. É voltar ao obscurantismo da Idade Média, quando a própria Igreja Católica perseguiu os "hereges", termo que reunia adeptos de outras doutrinas, ateus e cientistas.
O bispo evangélico que chuta a imagem da santa católica, os protestantes que "decapitam" as estátuas dos orixás na Prainha, as ofensas propagadas ao candomblé e a outras religiões de raiz africana por meio das redes sociais destoam do caráter ecumênico e harmônico da sociedade brasileira. Caluniam um direito que deveria ser considerado inviolável e particular, o de seguir ao Deus que assim desejar. Não cabe a ninguém contestar ou criticar outra pessoa apenas porque ela professa crença estranha a seus conceitos ou dogmas.
Não existe uma fé errada. O radicalismo cego e alçado à condição de verdade única e absoluta viola o senso de misericórdia e de amor propagado pelas religiões. Agride a privacidade alheia e vilipendia o caráter laico do Estado. Em nome de Deus, fonte de compaixão e misericórdia, o homem devia aprender a tolerar e a respeitar. Antes que sua própria fé mate qualquer resquício de humanidade.
13 de agosto de 2014
Rodrigo Craveiro, Correio Braziliense
Qualquer tipo de intolerância - seja ela religiosa, seja sexual, seja racial - fere a dignidade e a liberdade do homem. Impor uma fé, espezinhar uma crença ou matar em nome de uma verdade individual equivale a retornar à idade das trevas e renegar qualquer traço de civilidade. É voltar ao obscurantismo da Idade Média, quando a própria Igreja Católica perseguiu os "hereges", termo que reunia adeptos de outras doutrinas, ateus e cientistas.
O bispo evangélico que chuta a imagem da santa católica, os protestantes que "decapitam" as estátuas dos orixás na Prainha, as ofensas propagadas ao candomblé e a outras religiões de raiz africana por meio das redes sociais destoam do caráter ecumênico e harmônico da sociedade brasileira. Caluniam um direito que deveria ser considerado inviolável e particular, o de seguir ao Deus que assim desejar. Não cabe a ninguém contestar ou criticar outra pessoa apenas porque ela professa crença estranha a seus conceitos ou dogmas.
Não existe uma fé errada. O radicalismo cego e alçado à condição de verdade única e absoluta viola o senso de misericórdia e de amor propagado pelas religiões. Agride a privacidade alheia e vilipendia o caráter laico do Estado. Em nome de Deus, fonte de compaixão e misericórdia, o homem devia aprender a tolerar e a respeitar. Antes que sua própria fé mate qualquer resquício de humanidade.
13 de agosto de 2014
Rodrigo Craveiro, Correio Braziliense
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