É um erro pensar que ela já está vencida. Um mês de inflação zero e há quem considere que o problema foi resolvido. O IPCA do ano está em 3,8%, o que é, por exemplo, a taxa anual no México; em 12 meses, está no máximo permitido, 6,5%. A energia teve uma alta de 4,5% só em julho. Cidades como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Curitiba estão com números em torno de 7% em 12 meses.
Pelo contexto, os índices deveriam ser melhores. A economia está esfriando, há um ambiente de desinflação no mundo, commodities importantes estão em queda, o BC está segurando o câmbio através da venda forte de hedge e alguns preços administrados estão defasados. Há uma inflação hoje e outra prevista no futuro, quando houver menos represamento de tarifas sobre as quais o governo tem controle.
Seria tão equivocado anualizar a taxa dos últimos três meses e dizer que isso a leva para a meta quanto anualizar a do período em que sazonalmente ela fica muito alta e dizer que ela está fora de controle. Não está fora de controle, mas há riscos de que suba exatamente pelos elementos artificiais da inflação de hoje, com a manipulação de preços da gasolina, energia e outras tarifas, e a ação do BC no câmbio.
No futuro, será mais difícil segurar o câmbio, porque a tendência no ano que vem é de elevação do dólar no mundo inteiro pelo fortalecimento americano e o possível início do ciclo de alta das taxas de juros lá.
A economista Monica de Bolle acha que o Banco Central não poderá usar indefinidamente o mesmo instrumento de venda de operações de swap para segurar o dólar:
- Isso é bom quando o país enfrenta um período passageiro de crise de confiança. Mas o BC está usando isso há tempo demais, já há um volume alto de operações vendidas e tem uma hora que bate nas reservas. O país tem um bom volume de reservas, mas a tendência no futuro é de alta do dólar.
Como mostrei aqui ontem, outros países vizinhos têm inflação mais baixa. E eles costumam ter metas mais baixas também. O Brasil há quatro anos tem estado com a inflação oscilando em torno do teto de 6,5%, quando o que se considera um bom desempenho é oscilar perto de 4,5%, e o governo vem dosando reajustes que precisam ser feitos para evitar ficar acima do limite.
O ponto é esse: o tempo excessivamente longo em que a taxa anual tem ficado resistente em níveis altos demais. O Banco Central até tem falado sobre essa "resistência" da inflação em seus comunicados. Isso não mudou porque circunstancialmente o país teve a boa conjugação de uma deflação de alimentos em grande parte sazonal, com a redução dos preços de hotéis e passagens que haviam subido exageradamente durante a Copa.
A inflação da energia residencial foi, em julho, de 4,5%. Em um único mês. A tendência é continuar pesando nos orçamentos das famílias e das empresas este ano. E vai continuar subindo nos anos seguintes numa escala sobre a qual não há certeza, pela barafunda que virou o setor elétrico brasileiro. A cada dia, uma agonia. Ontem, foi o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões só para a Eletrobrás pagar a Petrobras. Antes, havia sido o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões para as distribuidoras pagarem as contas atrasadas, um papagaio que as distribuidoras espetam para que os consumidores paguem no futuro. A gasolina defasada tem prejudicado as contas da Petrobras, e o governo já deixa saber que depois das eleições dará um aumento à gasolina.
Esses meses estão bons, como era de se esperar, e a inflação zero de julho aumentou o sabor da trégua. Se o governo achar que está tudo resolvido alimentará o risco de que ela suba mais no futuro.
Pelo contexto, os índices deveriam ser melhores. A economia está esfriando, há um ambiente de desinflação no mundo, commodities importantes estão em queda, o BC está segurando o câmbio através da venda forte de hedge e alguns preços administrados estão defasados. Há uma inflação hoje e outra prevista no futuro, quando houver menos represamento de tarifas sobre as quais o governo tem controle.
Seria tão equivocado anualizar a taxa dos últimos três meses e dizer que isso a leva para a meta quanto anualizar a do período em que sazonalmente ela fica muito alta e dizer que ela está fora de controle. Não está fora de controle, mas há riscos de que suba exatamente pelos elementos artificiais da inflação de hoje, com a manipulação de preços da gasolina, energia e outras tarifas, e a ação do BC no câmbio.
No futuro, será mais difícil segurar o câmbio, porque a tendência no ano que vem é de elevação do dólar no mundo inteiro pelo fortalecimento americano e o possível início do ciclo de alta das taxas de juros lá.
A economista Monica de Bolle acha que o Banco Central não poderá usar indefinidamente o mesmo instrumento de venda de operações de swap para segurar o dólar:
- Isso é bom quando o país enfrenta um período passageiro de crise de confiança. Mas o BC está usando isso há tempo demais, já há um volume alto de operações vendidas e tem uma hora que bate nas reservas. O país tem um bom volume de reservas, mas a tendência no futuro é de alta do dólar.
Como mostrei aqui ontem, outros países vizinhos têm inflação mais baixa. E eles costumam ter metas mais baixas também. O Brasil há quatro anos tem estado com a inflação oscilando em torno do teto de 6,5%, quando o que se considera um bom desempenho é oscilar perto de 4,5%, e o governo vem dosando reajustes que precisam ser feitos para evitar ficar acima do limite.
O ponto é esse: o tempo excessivamente longo em que a taxa anual tem ficado resistente em níveis altos demais. O Banco Central até tem falado sobre essa "resistência" da inflação em seus comunicados. Isso não mudou porque circunstancialmente o país teve a boa conjugação de uma deflação de alimentos em grande parte sazonal, com a redução dos preços de hotéis e passagens que haviam subido exageradamente durante a Copa.
A inflação da energia residencial foi, em julho, de 4,5%. Em um único mês. A tendência é continuar pesando nos orçamentos das famílias e das empresas este ano. E vai continuar subindo nos anos seguintes numa escala sobre a qual não há certeza, pela barafunda que virou o setor elétrico brasileiro. A cada dia, uma agonia. Ontem, foi o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões só para a Eletrobrás pagar a Petrobras. Antes, havia sido o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões para as distribuidoras pagarem as contas atrasadas, um papagaio que as distribuidoras espetam para que os consumidores paguem no futuro. A gasolina defasada tem prejudicado as contas da Petrobras, e o governo já deixa saber que depois das eleições dará um aumento à gasolina.
Esses meses estão bons, como era de se esperar, e a inflação zero de julho aumentou o sabor da trégua. Se o governo achar que está tudo resolvido alimentará o risco de que ela suba mais no futuro.
13 de agosto de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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