Criar ciclovias e vias para ônibus é importante, mas sistema de transporte público precisa de mais qualidade, o que inclui expandir o metrô
O projeto da Prefeitura de São Paulo de construir 400 km de ciclovias até o fim de 2016 vai ao encontro de uma tendência que já é realidade em algumas das principais metrópoles do mundo. O ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (2002-2013), por exemplo, implantou 450 km de vias para ciclistas, retirando espaço de faixas antes reservadas a automóveis.
Também na capital paulista os carros perderão parte da área para estacionamentos --cerca de 40 mil vagas, segundo estimativa oficial.
Desde que conectados a terminais de ônibus, estações de metrô e outros destinos relevantes, os percursos ciclísticos poderão ser uma alternativa real de deslocamento. Mais que modismo de jovens de classe média, esse é um meio de transporte usado cotidianamente por cidadãos de baixa renda em bairros periféricos da cidade.
Mas, sendo parte diminuta do sistema, as ciclovias não são a solução para a mobilidade.
As faixas exclusivas de ônibus, por sua vez, também têm alcance restrito. Embora propiciem ganhos de tempo para os usuários, o que não é pouco, elas não bastaram para desincentivar o uso do automóvel e agilizar deslocamentos.
Apesar dos mais de 300 km de faixas criadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT), o número de passageiros de ônibus não aumentou. A velocidade média do trânsito em geral e os índices de congestionamento, estes subiram.
Tais resultados não devem ser entendidos como sinal de que a iniciativa vai na direção errada. Na realidade, mostram que a equação não fechará sem o concurso de outros fatores, como o aumento da frota de ônibus, a qualidade desses veículos e o planejamento de linhas. Se a prefeitura deve muito nesses aspectos, a dívida do governo do Estado é ainda maior no que lhe diz respeito --o metrô.
Meio de deslocamento por excelência das grandes cidades, a malha metroviária paulistana, com 74 km, é vexatória. Santiago (Chile), com metade da população, possui 102 km. Cidades como Londres e Xangai têm mais de 400 km.
Uma rede de metrô ampla e eficiente, conectada a outros modais, é crucial para esta ação decisiva: incentivar o motorista de carro a usar transporte público.
Corredores de ônibus inteligentes, faixas exclusivas e ciclovias têm papel a cumprir, mas não haverá deslocamento urbano aceitável em São Paulo enquanto o metrô continuar tão aquém da demanda.
11 de junho de 2014
Editorial Folha de SP
O projeto da Prefeitura de São Paulo de construir 400 km de ciclovias até o fim de 2016 vai ao encontro de uma tendência que já é realidade em algumas das principais metrópoles do mundo. O ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (2002-2013), por exemplo, implantou 450 km de vias para ciclistas, retirando espaço de faixas antes reservadas a automóveis.
Também na capital paulista os carros perderão parte da área para estacionamentos --cerca de 40 mil vagas, segundo estimativa oficial.
Desde que conectados a terminais de ônibus, estações de metrô e outros destinos relevantes, os percursos ciclísticos poderão ser uma alternativa real de deslocamento. Mais que modismo de jovens de classe média, esse é um meio de transporte usado cotidianamente por cidadãos de baixa renda em bairros periféricos da cidade.
Mas, sendo parte diminuta do sistema, as ciclovias não são a solução para a mobilidade.
As faixas exclusivas de ônibus, por sua vez, também têm alcance restrito. Embora propiciem ganhos de tempo para os usuários, o que não é pouco, elas não bastaram para desincentivar o uso do automóvel e agilizar deslocamentos.
Apesar dos mais de 300 km de faixas criadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT), o número de passageiros de ônibus não aumentou. A velocidade média do trânsito em geral e os índices de congestionamento, estes subiram.
Tais resultados não devem ser entendidos como sinal de que a iniciativa vai na direção errada. Na realidade, mostram que a equação não fechará sem o concurso de outros fatores, como o aumento da frota de ônibus, a qualidade desses veículos e o planejamento de linhas. Se a prefeitura deve muito nesses aspectos, a dívida do governo do Estado é ainda maior no que lhe diz respeito --o metrô.
Meio de deslocamento por excelência das grandes cidades, a malha metroviária paulistana, com 74 km, é vexatória. Santiago (Chile), com metade da população, possui 102 km. Cidades como Londres e Xangai têm mais de 400 km.
Uma rede de metrô ampla e eficiente, conectada a outros modais, é crucial para esta ação decisiva: incentivar o motorista de carro a usar transporte público.
Corredores de ônibus inteligentes, faixas exclusivas e ciclovias têm papel a cumprir, mas não haverá deslocamento urbano aceitável em São Paulo enquanto o metrô continuar tão aquém da demanda.
11 de junho de 2014
Editorial Folha de SP
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