Até há algumas semanas, o desalento de empresários e de boa parte da população era visto pelo governo como episódio inconsistente sem justificativa no comportamento real da economia. Tenderia a se dissipar à medida que os pessimistas também fossem desmentidos pelos fatos.
Agora, o governo já começa a tomá-lo como dado de natureza econômica e, por suposto, também política. Na última Ata do Copom, por exemplo, o Banco Central avisou que contava com o alastramento do pessimismo como fator de eficácia da política de combate à inflação. Está no final do parágrafo 26: "É plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária (política de juros) sobre a inflação tendem a ser potencializados". O presidente Lula, por sua vez, se mostrou visivelmente preocupado com o impacto da nova onda negativa. Lá do jeito dele, retomou os temas econômicos em suas manifestações públicas e sexta-feira, em Porto Alegre, sugeriu a aplicação de "um remédio já" para reverter a escalada de preços.
Nos próximos meses, deve espraiar-se a noção de que a economia está desarrumada. A inflação medida em 12 meses saltará para acima do teto da meta (6,5%), fator que, por si só, acirrará a percepção de que o trabalhador está perdendo poder aquisitivo. Os próximos indicadores da atividade produtiva também deverão apontar para um quadro de recessão que poderá ser comprovado estatisticamente no dia 29 de agosto, quando o IBGE divulgar mais um desempenho chinfrim do PIB, desta vez do segundo trimestre do ano.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já se queixou de que a inflação tem culpa na derrubada da produção e do consumo, como se o governo de que faz parte não tivesse nenhuma responsabilidade nisso.
Mais ainda, a percepção de que a economia está desandando deverá se acentuar algumas semanas antes das eleições. O quadro de desânimo vai sendo catapultado pelas greves e pelas manifestações que criam o caos nas grandes cidades. O governo sabe que isso não é bom para quem espera um resultado consagrador das urnas. Mas, afinal, de que maneira se pode esperar que a recomendação do presidente Lula venha a ser acatada e que a presidente Dilma se mostre disposta a fazer alguma coisa?
O problema é que agora sobra pouco tempo e pouco espaço para mudanças relevantes. Cortar despesas públicas ou aumentar a arrecadação com mais impostos não é o tipo de iniciativa que este governo queira colocar em marcha às vésperas das eleições. Proclamar que tudo mudará, "quando novembro vier", como já disse a presidente Dilma, graças à adoção de políticas redentoras, também cola pouco, até mesmo porque implica reconhecimento dos erros cometidos até agora.
O mais provável é que o governo tente seguir seu curso, empurrando as coisas do jeito que dá, contando mais com discursos e imagens de TV, do que com compromissos firmes de conserto.
11 de junho de 2014
Celso Ming, O Estadão
Agora, o governo já começa a tomá-lo como dado de natureza econômica e, por suposto, também política. Na última Ata do Copom, por exemplo, o Banco Central avisou que contava com o alastramento do pessimismo como fator de eficácia da política de combate à inflação. Está no final do parágrafo 26: "É plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária (política de juros) sobre a inflação tendem a ser potencializados". O presidente Lula, por sua vez, se mostrou visivelmente preocupado com o impacto da nova onda negativa. Lá do jeito dele, retomou os temas econômicos em suas manifestações públicas e sexta-feira, em Porto Alegre, sugeriu a aplicação de "um remédio já" para reverter a escalada de preços.
Nos próximos meses, deve espraiar-se a noção de que a economia está desarrumada. A inflação medida em 12 meses saltará para acima do teto da meta (6,5%), fator que, por si só, acirrará a percepção de que o trabalhador está perdendo poder aquisitivo. Os próximos indicadores da atividade produtiva também deverão apontar para um quadro de recessão que poderá ser comprovado estatisticamente no dia 29 de agosto, quando o IBGE divulgar mais um desempenho chinfrim do PIB, desta vez do segundo trimestre do ano.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já se queixou de que a inflação tem culpa na derrubada da produção e do consumo, como se o governo de que faz parte não tivesse nenhuma responsabilidade nisso.
Mais ainda, a percepção de que a economia está desandando deverá se acentuar algumas semanas antes das eleições. O quadro de desânimo vai sendo catapultado pelas greves e pelas manifestações que criam o caos nas grandes cidades. O governo sabe que isso não é bom para quem espera um resultado consagrador das urnas. Mas, afinal, de que maneira se pode esperar que a recomendação do presidente Lula venha a ser acatada e que a presidente Dilma se mostre disposta a fazer alguma coisa?
O problema é que agora sobra pouco tempo e pouco espaço para mudanças relevantes. Cortar despesas públicas ou aumentar a arrecadação com mais impostos não é o tipo de iniciativa que este governo queira colocar em marcha às vésperas das eleições. Proclamar que tudo mudará, "quando novembro vier", como já disse a presidente Dilma, graças à adoção de políticas redentoras, também cola pouco, até mesmo porque implica reconhecimento dos erros cometidos até agora.
O mais provável é que o governo tente seguir seu curso, empurrando as coisas do jeito que dá, contando mais com discursos e imagens de TV, do que com compromissos firmes de conserto.
11 de junho de 2014
Celso Ming, O Estadão
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