Sem reservas expressivas de carvão mineral ou de petróleo (essas últimas somente descobertas a partir da década de 1970), o Brasil calcou no século XX sua matriz de energia elétrica no aproveitamento de recursos hídricos. Junto a quedas naturais, e preferencialmente próximas aos centros de consumo, foram construídas várias hidrelétricas. Mas uma matriz com essas características precisa armazenar água para os anos seguintes, pois o regime de chuvas que alimentam os mananciais não é totalmente previsível. Assim, nos anos de chuvas mais abundantes, armazena-se água para utilização no chamado período seco, quando a vazão dos rios diminui.
Os aproveitamentos hídricos próximos aos centros de consumo foram se esgotando e, além disso, por restrições ambientais, as novas hidrelétricas passaram a ser construídas sem reservatórios de acumulação de água. Ou seja, as novas usinas são a “fio d’água”, e dependem da vazão natural dos rios. O desenvolvimento tecnológico permitiu incorporar à matriz os aproveitamentos hídricos na Amazônia, embora lá as restrições para a construção de reservatórios que acumulem água sejam ainda maiores, pelo fato de a topografia da região não contar com vales relativamente estreitos, o que aumentaria a necessidade de se ampliar as áreas inundáveis. Há, sem dúvida, um exagero nessas restrições, pois nos períodos de cheias as margens de muitos rios são ocupadas pelas águas, impedindo a utilização dessas áreas para outros fins.
O fato é que as distâncias entre as regiões brasileiras e os diferentes regimes de chuvas ao longo do ano exigiram a formação de um complexo sistema interligado, com milhares de quilômetros de linhas para transmissão da energia. Pela ausência de reservatórios de acumulação de água, esse sistema é mais dependente do humor de São Pedro. A forma de torná-lo menos vulnerável é incorporar a essa matriz usinas termelétricas, que complementam as hidrelétricas (no caso das nucleares ou que utilizam biomassa) ou constituem uma reserva para momentos críticos (usinas que queimam óleo, gás natural, carvão).
As peculiaridades da matriz brasileira vêm exigindo uma participação crescente das termelétricas. E nisso há uma contradição na política energética, pois a matriz está ficando mais “suja” devido às restrições ambientais que impedem a construção de hidrelétricas com reservatórios de acumulação de água.
Investimentos expressivos têm sido feitos nas chamadas fontes alternativas, haja vista o grande número projetos de usinas eólicas que se candidatam aos leilões de fornecimento de energia. No entanto, mesmo com todo esse esforço, as usinas eólicas ainda não atingiram 2% de toda a capacidade de geração de eletricidade do país, e respondem por menos de 1% da carga consumida. As usinas eólicas não acumulam energia e dependem inteiramente da continuidade dos ventos. Uma matriz baseada nessas fontes alternativas precisa de uma enorme reserva de usinas termelétricas, encarecendo brutalmente todo o sistema.
11 de junho de 2014
Editorial O Globo
Os aproveitamentos hídricos próximos aos centros de consumo foram se esgotando e, além disso, por restrições ambientais, as novas hidrelétricas passaram a ser construídas sem reservatórios de acumulação de água. Ou seja, as novas usinas são a “fio d’água”, e dependem da vazão natural dos rios. O desenvolvimento tecnológico permitiu incorporar à matriz os aproveitamentos hídricos na Amazônia, embora lá as restrições para a construção de reservatórios que acumulem água sejam ainda maiores, pelo fato de a topografia da região não contar com vales relativamente estreitos, o que aumentaria a necessidade de se ampliar as áreas inundáveis. Há, sem dúvida, um exagero nessas restrições, pois nos períodos de cheias as margens de muitos rios são ocupadas pelas águas, impedindo a utilização dessas áreas para outros fins.
O fato é que as distâncias entre as regiões brasileiras e os diferentes regimes de chuvas ao longo do ano exigiram a formação de um complexo sistema interligado, com milhares de quilômetros de linhas para transmissão da energia. Pela ausência de reservatórios de acumulação de água, esse sistema é mais dependente do humor de São Pedro. A forma de torná-lo menos vulnerável é incorporar a essa matriz usinas termelétricas, que complementam as hidrelétricas (no caso das nucleares ou que utilizam biomassa) ou constituem uma reserva para momentos críticos (usinas que queimam óleo, gás natural, carvão).
As peculiaridades da matriz brasileira vêm exigindo uma participação crescente das termelétricas. E nisso há uma contradição na política energética, pois a matriz está ficando mais “suja” devido às restrições ambientais que impedem a construção de hidrelétricas com reservatórios de acumulação de água.
Investimentos expressivos têm sido feitos nas chamadas fontes alternativas, haja vista o grande número projetos de usinas eólicas que se candidatam aos leilões de fornecimento de energia. No entanto, mesmo com todo esse esforço, as usinas eólicas ainda não atingiram 2% de toda a capacidade de geração de eletricidade do país, e respondem por menos de 1% da carga consumida. As usinas eólicas não acumulam energia e dependem inteiramente da continuidade dos ventos. Uma matriz baseada nessas fontes alternativas precisa de uma enorme reserva de usinas termelétricas, encarecendo brutalmente todo o sistema.
11 de junho de 2014
Editorial O Globo
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