Com a campanha eleitoral a todo vapor, os interesses políticos do governo e de seu partido prevaleceram mais uma vez e a Petrobrás foi condenada a operar, de novo, com preços insuficientes para suas necessidades de caixa e para seu plano de investir US$ 236,7 bilhões entre 2013 e 2017. Na sexta-feira as ações da empresa subiram, nas bolsas, com a expectativa de ajuste dos preços da gasolina e do diesel. Na segunda-feira, a decepção com os números anunciados e com o lacônico informe divulgado pela estatal provocou o efeito contrário. No fim da tarde os papéis da companhia acumulavam perdas próximas de 10%, apenas parcialmente compensadas no dia seguinte.
A decisão de manter em sigilo a fórmula seguida pelo reajuste foi especialmente criticada por vários analistas. Mas essa crítica foi a menos fundamentada. Quanto aos critérios, a decisão do Conselho Administrativo, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi perfeitamente clara: o governo continuará a controlar os preços dos combustíveis de acordo com sua conveniência político-eleitoral.
Ao seguir essa estratégia, o Executivo continuará tentando administrar os índices de inflação. Combater seriamente a inflação daria muito mais trabalho e seria incompatível com a orientação consagrada no Palácio do Planalto, executada pelo ministro da Fazenda, imposta há vários anos à Petrobrás, adotada este ano em relação às tarifas de eletricidade e enfiada pela goela de prefeitos e governadores, forçados, há alguns meses, a anular reajustes das passagens de transporte urbano.
Na sexta-feira, depois de uma longa reunião, o Conselho Administrativo oficializou aumentos de 4% para a gasolina e de 8% para o diesel, cobrados em refinarias. Com isso, a diferença em relação aos preços internacionais da gasolina caiu de 15% para 10%. No caso do diesel, a redução foi de 20% para 12%, segundo cálculos de especialistas. As estimativas podem variar, mas os valores em reais permanecem defasados. A Petrobrás continuará subsidiando o consumo e acumulando perdas com as importações.
Com a geração de caixa prejudicada, terá de recorrer a mais financiamentos para investir. Segundo a nota distribuída na sexta-feira, depois da reunião, a empresa tentará, nos próximos 24 meses, levar os indicadores de endividamento e de alavancagem de volta aos limites estabelecidos no plano de negócios. A manutenção de preços defasados, no entanto, tornará difícil atingir essas metas mesmo num prazo tão longo quanto o de dois anos. Também segundo a nota, a companhia continuará buscando, "em prazo compatível", a convergência de seus preços com os internacionais.
A compatibilidade, no caso, será com a reeleição da presidente da República? Essa é, neste momento, a resposta mais provável. Com essa perspectiva, fica mais fácil de entender a indicação de metas financeiras para os próximos 24 meses, sem resultados prometidos para a fase de campanha eleitoral. O próximo ano, tudo indica, será mais um período ruim para a Petrobrás e para seus ambiciosos planos de investimento.
Para esse plano, a empresa dependerá de equipamentos cotados em dólares e terá de recorrer a enormes financiamentos em moeda estrangeira. Deverá levar em conta, em todo o seu planejamento, as condições e perspectivas de um mercado vinculado a valores fixados em moeda americana. Ao rejeitar a política de preços proposta pela presidente da Petrobrás, Graça Foster, a presidente Dilma Rousseff declarou-se contrária ao uso de cotações em dólares como referências para os preços internos.
Esse critério é uma aberração gerencial. Mas a presidente da República é a pessoa mais influente na definição de estratégias da Petrobrás, uma empresa gigante envolvida num complicadíssimo projeto de pesquisa e exploração de petróleo. Esse empreendimento, no entanto, vira questão secundária, quando se trata de maquiar a inflação em benefício de um projeto mais importante, para a presidente e seu partido: a reeleição. Em outros países, os preços dos combustíveis flutuam livremente e a inflação é baixa, porque o conjunto da política é mais sério. Seriedade dá trabalho.
04 de dezembro de 2013
Editorial do Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário