SÃO PAULO - Vegetarianos ficaram bravos com Josimar Melo por causa do relato pouco enaltecedor que ele fez de sua experiência de passar uma semana sem consumir proteínas de origem animal. É claro que todo mundo é livre para reclamar do que bem entender. O que eu me pergunto é quais são as perspectivas do vegetarianismo e suas variantes.
Quem coloca bem a questão é o psicólogo evolucionista Steven Pinker em "Melhores Anjos": "Será que nossos descendentes do século 22 vão ficar tão horrorizados com o fato de nós comermos carne como nós ficamos com o fato de nossos ancestrais terem escravizado pessoas?".
Para Pinker, a resposta é "provavelmente não". Embora a analogia entre libertação animal e escravidão seja retoricamente poderosa, ela não é exata. Para começar, no aspecto prático, humanos têm fome de carne. A obtenção de proteínas animais foi essencial para a evolução de nossos cérebros e moldou nossos relacionamentos sociais. As marcas dessa história aparecem no desejo por vezes irrefreável de devorar um filé.
Apesar dos avanços do vegetarianismo, esse movimento parece ter um teto. Mesmo na Índia, onde algumas das principais religiões e a pobreza o incentivam, a proporção de praticantes fica entre 24% e 42% da população. Em países ocidentais, raramente chega aos dois dígitos.
No plano teórico, uma boa justificativa para não consumir animais exigiria que resolvêssemos o problema da consciência --o que nem a ciência nem a filosofia parecem prestes a conseguir. Bichos vêm num amplo gradiente que inclui desde protozoários e insetos que precisamos destruir para assegurar nossa saúde até os simpáticos macacos. Enquanto não formos capazes de distinguir os que estão na zona cinzenta com base numa teoria mais ou menos completa da consciência, haverá espaço para ambiguidades que vão garantir se não o filé pelo menos o "escargot" e o camarão dos carnívoros renitentes.
Quem coloca bem a questão é o psicólogo evolucionista Steven Pinker em "Melhores Anjos": "Será que nossos descendentes do século 22 vão ficar tão horrorizados com o fato de nós comermos carne como nós ficamos com o fato de nossos ancestrais terem escravizado pessoas?".
Para Pinker, a resposta é "provavelmente não". Embora a analogia entre libertação animal e escravidão seja retoricamente poderosa, ela não é exata. Para começar, no aspecto prático, humanos têm fome de carne. A obtenção de proteínas animais foi essencial para a evolução de nossos cérebros e moldou nossos relacionamentos sociais. As marcas dessa história aparecem no desejo por vezes irrefreável de devorar um filé.
Apesar dos avanços do vegetarianismo, esse movimento parece ter um teto. Mesmo na Índia, onde algumas das principais religiões e a pobreza o incentivam, a proporção de praticantes fica entre 24% e 42% da população. Em países ocidentais, raramente chega aos dois dígitos.
No plano teórico, uma boa justificativa para não consumir animais exigiria que resolvêssemos o problema da consciência --o que nem a ciência nem a filosofia parecem prestes a conseguir. Bichos vêm num amplo gradiente que inclui desde protozoários e insetos que precisamos destruir para assegurar nossa saúde até os simpáticos macacos. Enquanto não formos capazes de distinguir os que estão na zona cinzenta com base numa teoria mais ou menos completa da consciência, haverá espaço para ambiguidades que vão garantir se não o filé pelo menos o "escargot" e o camarão dos carnívoros renitentes.
04 de dezembro de 2013
HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de SP
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