A marca registrada dos acordos que estão sendo tecidos, porém, é o continuísmo. Nada de mudança. Nem assim os conflitos entre o PT e o PMDB são superados
A maior contradição do projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff beira a esquizofrenia: faz um governo de continuidade em relação ao mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas as pesquisas de opinião apontam que a maioria dos eleitores deseja mudanças. Indicadores negativos em relação aos serviços oferecidos à população — na educação, na saúde, na segurança, nos transportes, no combate à inflação etc. — corroboram essa necessidade, porém, o sistema de alianças que garante a sustentação do governo funciona como um muro de contenção. Esse status quo político é que deixa insatisfeita a população. Eis o dilema de Dilma Rousseff.
Como toda aliança muito ampla, que o Palácio do Planalto se esforça para preservar — haja vista a rodada de negociações realizadas no fim de semana pela presidente Dilma com a participação do ex-presidente Lula —, esse sistema de forças tem um programa raso, se é que existe. Sustenta-se principalmente no toma-lá-da-cá entre o Palácio do Planalto e suas lideranças no Congresso, com refregas que se acentuam na medida em que as eleições se aproximam. Toda vez que Dilma endurece o jogo com os aliados, sofre uma retaliação no Congresso. E la nave vá.
O eixo desse sistema de aliança é o pacto firmado entre o PT e o PMDB no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que garantiu a eleição de Dilma Rousseff em 2010 e o revezamento no comando da Câmara entre PT e PMDB. Esse pacto estremece sempre que o Palácio do Planalto contraria os interesses dos caciques do PMDB e demais aliados. Até recentemente, Dilma acreditava que poderia fazê-lo sem consequências negativas para o governo, muito pelo contrário, faturava junto à opinião pública uma certa aversão em relação aos aliados, que não escondia.
O ponto de inflexão nessa relação áspera com os aliados ocorreu logo após as manifestações de junho passado, quando Dilma tentou capitalizá-las. Propôs um plebiscito para a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, já nas próximas eleições, com propósito de realizar a reforma política. A manobra foi interpretada como uma tentativa de jogar o descontentamento da população exclusivamente contra o Congresso e foi prontamente rechaçada. A avaliação do governo e da própria presidente despencou junto a dos demais políticos. O PT acabou isolado pelo PMDB no Congresso. Coincidentemente, entre os petistas e seus aliados, recrudesceu a campanha do “Volta, Lula!”.
De lá pra cá, a postura de Dilma mudou. Ao mesmo tempo que busca melhorar sua avaliação nas pesquisas de opinião, paparica os aliados e realiza negociações políticas com objetivo de articular os palanques regionais para sua reeleição. A marca registrada dos acordos que estão sendo tecidos, porém, é o continuísmo. Nada de mudança. Nem assim os conflitos entre o PT e o PMDB são superados. No fim de semana, durante o encontro de cúpula dos dois partidos, isso ficou muito claro. O PT precisa escolher entre a reeleição de Dilma ou a eleição de seus candidatos aos governos estaduais. Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Paraná, Bahia, Rio Grande do Sul e Pará são os estados onde é maior a fricção.
Renúncias — O deputado José Genoino (PT-SP), que se encontra em prisão domiciliar, surpreendeu os aliados ontem ao anunciar sua renúncia ao mandato com o propósito de evitar o constrangimento de um processo de cassação. Fez o que Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-GO), também condenados na Ação Penal 470, anunciaram, mas não concretizaram ainda. Resta saber se o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) repetirá o gesto ou enfrentará o plenário.
Luiz Carlos Azedo, Correio Braziliense
04 de dezembro de 2013
A maior contradição do projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff beira a esquizofrenia: faz um governo de continuidade em relação ao mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas as pesquisas de opinião apontam que a maioria dos eleitores deseja mudanças. Indicadores negativos em relação aos serviços oferecidos à população — na educação, na saúde, na segurança, nos transportes, no combate à inflação etc. — corroboram essa necessidade, porém, o sistema de alianças que garante a sustentação do governo funciona como um muro de contenção. Esse status quo político é que deixa insatisfeita a população. Eis o dilema de Dilma Rousseff.
Como toda aliança muito ampla, que o Palácio do Planalto se esforça para preservar — haja vista a rodada de negociações realizadas no fim de semana pela presidente Dilma com a participação do ex-presidente Lula —, esse sistema de forças tem um programa raso, se é que existe. Sustenta-se principalmente no toma-lá-da-cá entre o Palácio do Planalto e suas lideranças no Congresso, com refregas que se acentuam na medida em que as eleições se aproximam. Toda vez que Dilma endurece o jogo com os aliados, sofre uma retaliação no Congresso. E la nave vá.
O eixo desse sistema de aliança é o pacto firmado entre o PT e o PMDB no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que garantiu a eleição de Dilma Rousseff em 2010 e o revezamento no comando da Câmara entre PT e PMDB. Esse pacto estremece sempre que o Palácio do Planalto contraria os interesses dos caciques do PMDB e demais aliados. Até recentemente, Dilma acreditava que poderia fazê-lo sem consequências negativas para o governo, muito pelo contrário, faturava junto à opinião pública uma certa aversão em relação aos aliados, que não escondia.
O ponto de inflexão nessa relação áspera com os aliados ocorreu logo após as manifestações de junho passado, quando Dilma tentou capitalizá-las. Propôs um plebiscito para a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, já nas próximas eleições, com propósito de realizar a reforma política. A manobra foi interpretada como uma tentativa de jogar o descontentamento da população exclusivamente contra o Congresso e foi prontamente rechaçada. A avaliação do governo e da própria presidente despencou junto a dos demais políticos. O PT acabou isolado pelo PMDB no Congresso. Coincidentemente, entre os petistas e seus aliados, recrudesceu a campanha do “Volta, Lula!”.
De lá pra cá, a postura de Dilma mudou. Ao mesmo tempo que busca melhorar sua avaliação nas pesquisas de opinião, paparica os aliados e realiza negociações políticas com objetivo de articular os palanques regionais para sua reeleição. A marca registrada dos acordos que estão sendo tecidos, porém, é o continuísmo. Nada de mudança. Nem assim os conflitos entre o PT e o PMDB são superados. No fim de semana, durante o encontro de cúpula dos dois partidos, isso ficou muito claro. O PT precisa escolher entre a reeleição de Dilma ou a eleição de seus candidatos aos governos estaduais. Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Paraná, Bahia, Rio Grande do Sul e Pará são os estados onde é maior a fricção.
Miscelânea
Jovens— A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios divulgada na semana passada lança luzes sobre a grande insatisfação dos jovens, que deve recrudescer nas próximas eleições.
O número de jovens de 15 a 29 anos que não estudava nem trabalhava chegou a 9,6 milhões no país no ano passado, isto é, uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária.
O Nordeste é a região na qual estava concentrada a maior parte da geração “nem-nem”: 23,9%. O Norte, por sua vez, tinha 21,9%.
As regiões Sudeste (18,1%), Centro-Oeste (17,4%) e Sul (15%) estavam abaixo dos 20%. Faltam jovens qualificados para ocupar vagas nos setores mais modernos da economia e sobra mão-de-obra nas áreas que exigem menor qualificação.
Conclusão: nossa política educacional e de formação de mão-de-obra fracassaram.
Renúncias — O deputado José Genoino (PT-SP), que se encontra em prisão domiciliar, surpreendeu os aliados ontem ao anunciar sua renúncia ao mandato com o propósito de evitar o constrangimento de um processo de cassação. Fez o que Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-GO), também condenados na Ação Penal 470, anunciaram, mas não concretizaram ainda. Resta saber se o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) repetirá o gesto ou enfrentará o plenário.
Luiz Carlos Azedo, Correio Braziliense
04 de dezembro de 2013
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