"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A BELA DA NEVE

RIO – Em dezembro de 1980, a caminho de três meses na Sibéria,  chego a Lima, no Peru, às duas da madrugada, depois de cinco horas de voo. Mudo da Varig para a Aeroflot,  em um enorme Iliushin-62.

O avião  cheio lá atrás, e só eu na primeira classe, recebido com um conhaque da Geórgia, daqueles que Stalin mandava para Churchill.

Cinco horas seguidas, até descer em Cuba. Duas horas no chão em Havana  e de novo nos céus. Mais 9 horas até Schenon, na Irlanda. Outras duas horas no chão, o frio roendo os ossos e o voo final de 4 horas até Murmansk, na península de Kola, extremo norte  da Rússia, 300 mil habitantes em pleno Polo Ártico.

Sol forte no céu iluminava o horizonte visivelmente curvo, lá em cima, e, de repente, a visão clara, real, inacreditável, da noite caminhando  apressada sobre as nuvens. O avião correndo para um lado e a noite para o outro. E daí  a pouco o meio-dia anoiteceu com a lua e nuvens rosas, como nas histórias bonitas da infância.

Engolido em fusos horários a cada instante renovados, o tempo enlouqueceu. Embaixo, a dez mil metros, já era Murmansk  e era meia-noite de novo. O aeroporto dormia sob a  neve a 10 graus abaixo de zero.

MURMANSK

Era a primeira etapa para a distante Sibéria, passando antes por Moscou, Stalingrado (hoje Volgogrado), Novosibirsk, Ikurtski e afinal Vladivostok, fronteira da Mongólia. Do avião tinha visto surgir o mundo mágico de Murmansk, a cidade mítica sobre o gelo eterno.

Longos TUS/2 turbinas e  esguios Iliushin pousados sobre um tapete branco e infinito e, andando para eles, grupos de homens e mulheres, nas cabeças grandes gorros peludos, de couro de veado, botas pretas, marrons, vermelhas, luvas e capotes de pele de todos os tipos e de todas as elegâncias. E lá em cima, sobre as nuvens, uma lua gorda boiando no céu azul marinho todo estrelado.

A neve caia sem parar, grossa, intensa. Como era possível os aviões chegarem e saírem? Caminhões enormes, como jamantas, empurrando largas navalhas negras, do tamanho das pistas, iam passando e raspando a neve. O avião desce, a neve volta, vem de novo o caminhão com sua navalha. Um avião, um caminhão, um avião, um caminhão. E a neve!

GREENPEACE

Quando meu avião aterrissou era um meigo e longilíneo tubo de neve, como doce fantasma arriado sobre o lençol branco.  Um caminhão se aproxima com grossos tubos, soprando bafo e derretendo a capa branca: turbinas de velhos aviões engatadas nos caminhões lançando jatos de ar.

Da janela do hotel eu ouvia o silencio gelado da noite sem fim e via apenas os blocos negros, como fantasmas, das plataformas de petróleo, uma a uma. E pensava como um povo consegue conviver, cada ano, meses inteiros, 6, 8, 10, com tudo coberto de gelo e frio. Rios e lagos endurecem. As ruas e calçadas sobem centímetros.
Os parques sobem metros  de neve acumulada. E é preciso ir tirando e ela voltando, hora a hora, dia a dia, cada manhã, meses diretos. Batalha interminável. Brinquei com os russos:

- Pensava que vocês tinham ficado livres de Napoleão, que atolou sua invasão na neve das estepes russas. Mas não, todo ano é uma guerra, a mesma guerra certa, fixa, marcada, de meses, guardando tudo, preservando tudo, até a primavera voltar e com ela o sol e as flores e os frutos da terra.
- É o inverno que nos faz fortes. Ele nos ensina a resistir e esperar.

ANA PAULA

Agora vejo presa, no frio daquela mesma Murmansk de 1980, a bela e valente brasileira Ana Paula Maciel, entre um grupo de 30 empregados da ONG americana Greenpeace, quando invadiam uma plataforma de petróleo da Rússia, em águas territoriais russas. Logo, praticavam uma ilegalidade.

Rubem Braga dizia que a prisão é a suprema indignidade. Tomara que Ana Paula saia de lá o mais rápido possível. Mas deve saber que o Greenpeace não é nenhuma benemérita entidade beneficente.  Diz que fazia “um ato de protesto contra a exploração de petróleo no Ártico”. Isto é uma fraude, uma farsa. Ele  é um pé de cabra norte-americano que pratica ações pelo mundo a serviço de negócios de empresas americanas concorrentes.

Diante das plataformas de petróleo russas, já no Ártico internacional,   vi lá, e Ana Paula certamente viu, dezenas de  plataformas da Noruega, Holanda, Inglaterra, EUA (no Alasca).
Por que o Greenpeace nunca invadiu nenhuma delas? Por que apenas a russa, a maior concorrente americana?
Ana Paula, a bela da neve, não é nenhuma ingênua. Sabe que trabalha para o mal. É uma alugada do mal. Obama também não sabia de nada.

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