No restaurante do aeroporto Santos Dumont, no Rio, almoçaram, em 1942, em plena ditadura Vargas, cinco amigos, mineiros ilustres: Virgílio Melo Franco, Luís Camilo de Oliveira Neto, Pedro Aleixo, Afonso Arinos de Melo Franco e José de Magalhães Pinto.
Conversaram sobre o livro do padre José Antonio Marinho, “História do Movimento Político de 1842”, a histórica batalha de Santa Luzia, perto de Belo Horizonte, em que “três mil mineiros em armas, inclusive com artilharia, haviam enfrentado as forças imperiais”.
Os cinco mineiros buscavam como comemorar o centenário da rebelião mineira. Não conseguiram. Quem comemorou foi a ditadura de Getúlio, numa cerimônia, no local da batalha perdida, em Santa Luzia, em homenagem a Caxias, o general que esmagou os mineiros rebeldes.
Eles queriam fazer alguma coisa que sinalizasse a reação à ditadura.
Em agosto de 1943, a delegação de Minas ao Congresso Jurídico Nacional, organizado pelo Instituto dos Advogados do Brasil, retirou-se, em companhia da delegação do Rio, em protesto porque o governo proibiu o congresso de tomar deliberações sobre pontos da maior importância.
OS MINEIROS
Uma tarde, no Banco do Brasil, onde ambos eram advogados, Afonso Arinos e Odilon Braga discutiam a necessidade de ser preparado e divulgado um documento, um manifesto aos mineiros sobre a situação nacional. Odilon Braga escreveu logo um esboço. Virgílio de Melo Franco, sabendo do assunto, preparou também um anteprojeto.
Um terceiro texto foi escrito por Dario de Almeida Magalhães. Fizeram uma reunião na casa de Virgilio e juntaram os três em um só. E em um almoço, novamente no restaurante do aeroporto, dos três redatores e mais Luís Camilo, Afonso Arinos, Pedro Aleixo e Magalhães Pinto, foi aprovado. E mandaram para Belo Horizonte, para Milton Campos opinar..
Luís Camilo e Virgílio de Melo Franco ficaram encarregados de pegar as assinaturas, no maior sigilo, porque, se a polícia de Vargas tomasse conhecimento, iria abortar. Na última hora, como acontece no Congresso, alguns que já haviam assinado retiraram suas assinaturas.
A DITADURA
Mas saiu. Assinado por 88 líderes mineiros, impresso às escondidas em uma tipografia de Barbacena, com a data de 24 de outubro de 1943. (aniversário da revolução de 30), o “Manifesto dos Mineiros”, sob o título de “Ao Povo Mineiro”, foi mandado aos pacotes para todo o País.
Numa manhã, em que ia para o centro do Rio com o cunhado José Tomás Nabuco, Virgílio de Melo Franco cruzou na praia de Botafogo com o chefe de Polícia do Rio, João Alberto, que lhe disse:
- A pedra que vocês lançaram da montanha ninguém mais vai parar.
Getúlio sabia o peso que aquela pedra tinha. Pedia o fim da censura, eleições e Constituinte. O ditador começou a demitir quem podia. Luís Camilo era bibliotecário do Itamaraty e um dos principais redatores de discursos de Osvaldo Aranha, ministro do Exterior, que mandou chamá-lo:
- Tu me puseste numa situação difícil porque Getúlio exige a tua demissão. Agora vê como eu fico. Vê se tu te colocas na minha posição.
- Bem, ministro, isso é impossível.
- Por quê?
- Porque eu nunca ficaria na sua posição.
Foi demitido, saiu. Não tinha carro, alugou um táxi e passava o dia de táxi, conspirando, fazendo ligações. Em 45, acabou convencendo José Américo a dar a Carlos Lacerda sua histórica entrevista contra a censura.
A MENSAGEM
O “Manifesto dos Mineiros” está fazendo 70 anos. A Assembleia de Minas fez sessão especial. E a Imprensa Oficial, dirigida pelo brilhante jornalista e escritor Eugenio Ferraz, perpetuou o documento editando em primoroso livro o “fac-simile” do Manifesto com todos os 88 nomes.
Na capa, a mensagem síntese: – “Em verdade, Minas não seria fiel a si mesma se abandonasse sua instintiva inclinação para sentir e realizar os interesses fundamentais de toda a Nação”.
Atenção Lula e Dilma. Até Vargas aprendeu. Não há Brasil sem Minas.
13 de novembro de 2013
sebastião nery
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