"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

JULGAMENTO DA GANGUE DE LULA JÁ DUROU MAIS DO QUE A II GUERRA MUNDIAL

Julgamento já durou mais do que a II Guerra Mundial — desde o começo, entre muitos outros fatos, 4 ministros se aposentaram, 1 morreu e o Brasil ganhou 13 milhões de habitantes mais
  
 
 
INTERMINÁVEL -- Até amanhã, dia do voto decisivo do ministro Celso de Mello sobre a aceitação ou não dos embargos infringentes, o processo do mensalão se arrastado por 7 anos, 5 meses e 7 dias (Foto: arche.org)

Na brilhante sacada do jornalista Carlos Brickmann, o processo do mensalão já durou mais do que a II Guerra Mundial, o maior conflito bélico da história da Humanidade e o acontecimento mais importante do século XX.
 
A guerra em que morreram 50 milhões de pessoas, iniciada com a invasão da Polônia pela Alemanha nazista de Adolf Hitler a 1º de setembro de 1939, terminou com a cerimônia de capitulação do Japão — aliado da Alemanha e da Itália fascista no chamado Eixo –, a 2 de setembro de 1945, a bordo do cruzador norte-americano Missouri, fundeado ao largo da Baía de Tóquio.
 
A II Guerra durou 6 anos e 1 dia. O julgamento do mensalão, até amanhã, dia do voto decisivo do ministro Celso de Mello sobre a aceitação ou não dos recursos denominados embargos infringentes, terá se arrastado por 7 anos, 5 meses e 7 dias.

Amontoada numa das mesas de apoio do plenário do Supremo, a montanha de autos do processo; 50 mil páginas e 200 apensos (Foto: Nelson Jr / STF)

A trajetória do mensalão começou quando o então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ofereceu denúncia contra os envolvidos, a 11 de abril de 2006. O Supremo aceitou a denúncia — ou seja, reconheceu que, ali, havia um processo criminal a ser julgado — a 22 de agosto de 2007.
 
Desde então, mais de 700 testemunhas foram ouvidas, a montanha de autos do processo abrange 50 mil página e cerca de 200 apensos com material pertinente ao caso, e o Supremo realizou quase 60 sessões de julgamento.

General Douglas MacArthur, à esquerda, assite o ministro japonês Manoru Shigemitsu a entregar documento de rendição à bordo do USS Missouri, na Baía de Tóquio, em 2 de setembro de 1945, em cerimônia que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial (Foto: AP)
2 de setembro de 1945: no momento soleníssimo em que termina o maior conflito bélico da história da Humanidade: o comandante norte-americano para o Pacífico, general Douglas MacArthur (esq.), assiste ao chanceler Manoru Shigemitsu assinar o instrumento de rendição incondicional do Japão a bordo do cruzador "USS Missouri", fundeado na Baía de Tóquio. (Foto: AP)

Enquanto o Japão se rendia incondicionalmente, mais de 1.000 aviões de guerra da Força Aérea dos Estados Unidos sobrevoaram, com um longo e enorme rugido, a Baía de Tóquio, em demonstração de força minuciosamente organizada (Foto: AP)

A coisa parece que não termina mais.
 
O processo que procura colocar na cadeia um grupo de políticos e outras personalidades que tramaram colocar o Legislativo sob controle do Executivo por meio de dinheiro sujo — uma tentativa de “um golpe de Estado branco”, como definiu o ministro aposentado do Supremo Carlos Aires Britto — dura

Lula (2003) e Dilma (2010), em momentos de posse, com a faixa presidencial (Fotos: AFP :: Flávio Florido)
O processo já atravessou um pedaço do primeiro mandato presidencial de Lula, seu segundo mandato inteiro e a maior parte do de Dilma (Fotos: AFP :: Flávio Florido)

tanto que já abrangeu um pedaço do primeiro mandato de um presidente, Lula (mais da metade de 2006), seu segundo mandato inteiro (2007-2011) e quase dois terços do mandato de sua sucessora, Dilma Rousseff (de janeiro de 2011 a setembro de 2013).

Os ex-ministros do STF Eros Grau, Carlos Alberto Menezes Direito, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto (Fotos: STF)
Os ex-ministros Eros Grau, Carlos Alberto Menezes Direito, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto. Menezes Direito morreu, os demais se aposentaram desde que o processo começou a caminhar no Supremo (Fotos: STF)

Desde a denúncia do Ministério Público, quatro ministros se aposentaram (pela ordem, Eros Grau, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto) e um morreu (Menezes Direito, em 2011).

Ex-procuradores-gerais da República Antonio Fernando de Souza (que ofereceu a denúncia sobre o mensalão), Roberto Gurgel (que fez a acusação de viva voz no Supremo) e do atual, Rodrigo Janot (Fotos: STF :: STF :: André Borges / Folhapress)
O mensalão se estendeu tanto que esgotou os mandatos dos ex-procuradores-gerais da República Antonio Fernando de Souza (que ofereceu a denúncia) e Roberto Gurgel (que fez a acusação de viva voz no Supremo), avançando para dentro do mandato do atual, Rodrigo Janot (Fotos: STF :: STF :: André Borges / Folhapress)

O interminável julgamento também foi suficiente para engolir o mandato de dois procuradores-gerais da República — Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel — e alcançar o começo da gestão de um terceiro, Rodrigo Janot.

Papa Francisco (à direita) cumprimenta Bento XVI no mosteiro Mater Ecclesiae, onde o Papa Emérito vive desde que renunciou (Foto: Laurent Kalfala / AFP)
Processo tão longo permitiu até que a Igreja tivesse, nesse entretanto, dois papas -- Bento XVI, que renunciou, e seu sucessor, o papa Francisco (Foto: Laurent Kalfala / AFP)

Houve tempo suficiente até para que um papa encerrasse por vontade própria seu período à frente da Igreja Católica (Bento XVI, que renunciou a 28 de fevereiro passado, após oito anos de pontificado) e fosse escolhido um outro, Francisco.

"Operários", de Tarsila Amaral
Enquanto o mensalão se desenrolava no Supremo, a população do Brasil cresceu em 13 milhões de habitantes (Ilustração: tela "Operários" (1933), de Tarsila Amaral)

Finalmente, o que poderia ser mais eloquente para falar do quanto este país esperou pelo desfecho do escândalo do que lembrar que, durante o arrastar interminável do processo, o a população brasileira aumentou em 13 milhões de novos habitantes – equivalentes a 30% mais do que a população inteira de um país como a Bélgica?

18 de setembro de 2013
Ricardo Setti - Veja

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