Ontem, ao anoitecer uma figura sobressaiu - se na entrada da nossa caverna.
Na verdade, era mais um vulto. O rosto não se via, mas balbuciava palavras de amizade e respeito.
Quem seria a visitante? Quem se atreveria a vir tão longe para contatar conosco?
“Eu sou a revolta armada”, disse a voz vinda das névoas, e vim para juntar - me aos vilipendiados e desmoralizados pelo nefasto grupo que os tiraniza.
Quedamos boquiabertos, surpresos, desenxabidos, pois nunca esperávamos que as nossas denúncias, as nossas indignações chegassem a atrair uma personagem tão radical, tão mortal.
Naquele momento, desacostumados com as medidas drásticas, preferimos agradecer a oferta e fomos meditar.
Lembramos da história de muitas nações, a do Brasil, e de suas lutas, de quando os perseguidos, os espoliados, os desmoralizados abandonaram o costume de expressar suas insatisfações no meio dos amigos, por palavras, por breves textos que corriam nas coxias, e que um dia, “in extremis”, pegaram em armas
Quando a revolta armada os visitara?
A revolta armada surge quando não há mais esperança, de que pelas conversações, pelo bom senso, pela democracia, os abusos, as corrupções, a impunidade, e a certeza de que toda a esbórnia que nos sufoca nunca irá acabar.
E os ventos atuais sinalizam que a nosso infortúnio nunca irá acabar, ou melhor, até o País rolar ribanceira abaixo.
Sim, a revolta armada vem se chegando, de mansinho, se infiltrando, até que na mente de muitos fica a certeza de que o solerte inimigo somente será expurgado quando cada injustiçado, cada cidadão, resolver de armas em punho, expulsar a podridão que vem aviltando esta grande, mas infeliz Nação.
Nós, com pesar, nos despedimos da revolta armada, que prometeu que ficará a nossa espreita, pronta para cerrar com a verdadeira população, para lutar até o expurgo da vil camarilha que tem brincado de rei e rainha nesta terra.
Na história da Pátria, eventualmente, a revolta armada encheu o coração de brasileiros de inusitada coragem, cidadãos honrados que se revoltaram e que ora venceram ora foram derrotados, mas mesmo quando não alcançaram a glória de abater o inimigo, plantaram uma semente.
A semente da honra, da coragem e da liberdade
Em nosso histórico de revoltas, vamos encontrar uma série de reações de cunho localizado e apoiadas em iniciativas pessoais, desencadeadas a partir da Revolta de Manoel Beckman no Maranhão, em 1684/85; a Guerra dos Emboabas, conflito ocorrido em Minas Gerais, em 1708/09; a Revolta dos Mascates no Recife, em 1710/11; a Insurreição de Vila Rica, em 1720; culminando com a Inconfidência Mineira, em 1789 e a Conjuração Baiana em 1798.
Aqueles movimentos carregavam no seu âmago o embrião de aspirações libertárias e instilaram o desejo de liberdade e os primeiros sinais de que, um dia, os nativos seriam os condutores da vida nacional.
Hoje, assoma em nosso peito um desejo de liberdade, de democracia, pois chafurdamos numa opressão que cruzou os umbrais econômicos e aprisionou - nos num mar de esdrúxulas ideologias que acobertam um bando de canalhas.
A revolta armada, portanto, está atenta e pronta para levar às últimas consequências, a indignação de oprimidos e de cidadãos que se transformaram em meros joguetes nas garras de falsos messias. Lembrai - vos de 31 de março de 1964!
Prolifera no coração dos envergonhados, a convicção de que todos os três poderes compactuam para submeterem a incauta Nação a um regime tirânico.
Sim, aí dos vencidos. Mas pior, ai dos que se comprazem a viver mergulhados no lixo e na desonra.
18 de setembro de 2013
Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Presidente do Ternuma, é General de Brigada reformado.
Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Presidente do Ternuma, é General de Brigada reformado.
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