"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 5 de julho de 2016

MARILENA CHAÍ: A ARTE DE PASSAR VERONHA



Marilena Chaui possui uma paródia no Twitter, a professora x Zambininha. A idéia por trás da Zambininha é simples: pega o discurso da esquerda, tão atrativo no abstrato, e o aplica a tudo na prática. O resultado é ridículo e hilário.

O maior problema da intelectualidade moderna, ainda mais no Brasil, é que os intelectuais de esquerda e suas paródias são cada vez mais indiscerníveis.

Marilena Chaui fez um vídeo ao cineasta bolivariano Fernando Morais para dar alguma sustança intelectual à esquerda brasileira, fortemente atingida em sua hegemonia e narrativa única de heroísmo e justiça social após os escândalos envolvendo o PT.

A professora de filosofia petista, entretanto, ao invés de servir de bastião intocável e inatingível por bárbaros não-intelectualizados e preconceituosos (a imagem que a esquerda tem da direita), só conseguiu ser motivo de riso. Segundo Marilena Chaui, a operação Lava-Jato tem apenas um objetivo: entregar o pré-sal aos americanos. O motivo alegado é que o juiz Sérgio Moro teria recebido treinamento do FBI.

A esquerda nasce de uma perspectiva de planificação de toda a sociedade sob um jugo completo para impedir que os indivíduos possam ter pensamentos, valores e resultados de trabalho distintos, exigindo um poder estatal onipotente para planificar toda a sociedade – daí seu apelo à “igualdade”. 

Mas sua primeira grande tentativa de sistematização “científica” se deu com uma teoria histórica. A esquerda apontaria para o futuro – e um futuro necessariamente melhor do que o passado obscurantista, preconceituoso e de exploração – enquanto a direita se prenderia às trevas da manutenção do passado. 
Daí a tentativa de trocar o mofado termo “comunista” por um insuspeito “progressista”, contra os conservadores que, em sua visão, apenas querem deixar o mundo como está (e não conservar as leis eternas, aplicadas à história).

Para isso ser verdade, seria necessário que os intelectuais esquerdistas fossem, no mínimo, mais atualizados, com mais conceitos, mais sabedoria acumulada e explicações menos manjadas da sociedade do que os conservadores, que ganham de lavada (a esquerda, para continuar vencendo, apenas tem como tática desconhecê-los de todo, chamando de “conservador” qualquer bode expiatório e saco de pancadas fácil de bater que nada tenha a ver com a filosofia de Burke ou Santayana).

Marilena Chaui é prova viva do falhanço deste historicismo ideológico que nada tem a ver com a história de fato. 
Seu discurso cheira à naftalina, é repetitivo, chato e não convence mais nem adolescentes deslumbrados com a “ameaça americana” em tempos de anti-americanismo – com efeito, só torna ridículo quem ainda cai nessa esparrela (de tal ridículo a década de 90 estava perfeitamente incólume, podendo ser anti-americana à vontade).

A professora de filosofia petista só consegue observar as tessituras do real e aplicar o reducionismo maniqueísta com palavras fortes… mas palavras que eram fortes e assustadoras na época bocó em que até professores universitários juravam de pés juntos em bobagens como uma invasão americana na Amazônia, que a Terceira Guerra seria por nossa floresta, ou que o “imperialismo” americano (que nunca produziu uma única colônia) visava explorar o nosso petróleo, portanto deveríamos proteger a Petrobras mantendo-a sob o poder de nossos admiráveis e humanistas políticos.

Perguntar-se por que o comércio de petróleo com os americanos seria ruim, se a Petrobras estatal mantém a nossa gasolina muito mais cara do que as empresas que comercializam com a América, ainda mais com a Petrobras negociando petróleo com os americanos o tempo todo (vide Pasadena), não era algo que uma Marilena Chaui – que dirá nós, adolescentes toscos e deslumbrados naqueles tempos de “Fora Alca! Fora FMI!”.

Não é de bom tom repetir essa litania hoje, 2016, época em que a esquerda inverteu o seu discurso e, do nacionalismo cafona anti-globalização, adotou o globalismo de órgãos burocratas internacionais não-eleitos para conseguir implantar sua agenda mundialmente (vide o caso Brexit).


Marilena Chaui é considerada pela esquerda a pessoa mais inteligente do país, por ser a única esquerdista a ler algo além das obviedades marxistas – no caso, tem uma teoria sobre Baruch de Spinoza. 
Não é exatamente difícil ser o esquerdista mais inteligente do país: um livro basta. 

Contudo, se o máximo que consegue oferecer para a crença da esquerda na inocência completa do PT, no estultilóquio de que o impeachment de Dilma Rousseff é “golpe” e de que a prova para isso é que Sérgio Moro foi treinado e está mancomunado com o FBI que está interessado no pré-sal brasileiro (como se os órgãos americanos, país federalista e muito mais descentralizado do que o nosso, fossem um bloco homogêneo de interesses unívocos, ainda mais sob a administração Barack Hussein Obama), só se nota o quanto a esquerda perdeu o bonde da história. Seu progressismo, de fato, só é “progresso” para 1789, noves fora os genocídios que pratica.

O que Marilena Chaui conseguiu promover com sua fala, um descoco desplugado não apenas da realidade, mas do “devir histórico”, em termo pedantemente esquerdista, foi mostrar como a esquerda não tem mais o que dizer, não tem mais nada a falar sobre a vida concreta rés-do-chão do século XXI, só inventa desculpas abstratas, confusas e francamente malucas, não tem prova nenhuma do que diz, é brega, atrasada e só apela a chavões irrefletidos para tentar ainda ter algum poder.

Quando Marilena Chaui disse que o processo do mensalão era uma farsa, e que a crise que se seguiu só existia graças a uma “mídia golpista” em 2005, o termo pegou. 
Quando Marilena Chaui afirmou que odiava “a classe média”, dando o dog whistle para a militância e os jornais pararem de usar o provinciano termo “burguesia” por algo mais atualizado, ela foi ridicularizada e chamou a atenção por sua grosseria, mas ainda assim o recado foi passado.

Hoje, Marilena Chaui só consegue ser uma vergonha para a esquerda.
Todo o apelo do esquerdismo no Brasil ainda está monopolizado por professores de História acreditando que agora o socialismo vai, por uma classe política parasitária e pela rouanetosfera promovendo o progressismo como panacéia contra nossos “preconceitos”. 
O fato de Marilena Chaui ter sido desacreditada hoje pela esquerda e não ter sido defendida como a Sábia da Montanha por seus antigos acólitos mostra que os ventos mudaram.

Fora do STF, do Judiciário e da mídia tão obediente aos ditames chauistas, basta colocar a Marilena Chaui de verdade a falar qualquer coisa hoje para se ter a sátira pronta. 
Um site de notícias satíricas como Joselito Müller teria dificuldade em ridicularizá-la mais do que ela própria.


05 de julho de 2016
Flavio Morgenstern

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