A Lava Jato descobriu a Odebrecht comprou um prédio em São Paulo para transformá-lo em bunker do camelô de empreiteira
A pilha de patifarias imobiliárias protagonizadas por Lula ficou alguns calhamaços mais alta nesta terça-feira, graças à descoberta da Operação Lava Jato revelada pelo jornal O Globo: em junho de 2010, a Odebrecht usou como intermediária a DAG Construtora, ramificação da empreiteira baseada em Salvador, para adquirir um prédio de três andares em São Paulo que, sem que o presidente gastasse um único e escasso centavo, seria reformado antes de transformar-se em sede do Instituto Lula. A doação só não se consumou por ter tropeçado em pendências judiciais envolvendo antigos proprietários do imóvel.
É improvável que a decepção do marido tenha superado em intensidade o desconsolo de Marisa Letícia. Entre os muitos documentos apreendidos em março deste ano no sítio em Atibaia, a Polícia Federal encontrou, numa pasta rosa guardada pela ex-primeira-dama, a prova de que o bunker permitiria que o casal convivesse 24 horas por dia: o projeto que detalhava a reforma incluía, além do auditório, de salas de reunião e de gabinetes, um apartamento de cobertura com cinco suítes.
O ex-presidente conhece muito bem os diretores da DAG. (Entre outras gentilezas, a sigla bancou em 2013 a viagem de jatinho que levou o camelô de empreiteira aos Estados Unidos, à República Dominicana e a Cuba). Conhece como ninguém o advogado Roberto Teixeira, que participou dos entendimentos que precederam a compra do prédio pela construtora baiana. (Dono de apartamentos que abrigam os filhos do amigo, Teixeira é uma espécie de Minha Casa, Minha Vida da família Lula). Mas o palestrante predileto da Odebrecht dirá, como sempre, que nunca soube de nada. O problema é que a Lava Jato sabe de tudo.
Em 25 de junho de 2010, ao comentar sua assombrosa performance na última pesquisa do Ibope, esta coluna registrou que o então presidente vivia um ano de sonho. Do alto dos mais de 80% de “ótimo” ou “bom”, o maior dos governantes desde Tomé de Souza já vislumbrava a chegada aos 100% (ou 103%, se a margem de erro de 3% oscilasse todinha para cima). Faltava pouco para o recorde mundial de popularidade.
Mais impressionante ainda era o índice de desaprovação: os que achavam “ruim” ou “péssimo” o desempenho de Lula somavam apenas 3% do eleitorado. Esses 4 milhões de brasileiros subiriam para 8 milhões se a margem de erro oscilasse para cima. Caso contrário, o índice despencaria para zero ─ e não haveria um único descontente em todo o território nacional. Nenhum. “Nós somos margem de erro”, constatou o comentarista Renato Vieira.
Naquele fabuloso 2010, o chefão ganhava até prédio com a soberba placidez de um monarca medieval presenteado com joias por outro soberano. Não podia imaginar que, com a descoberta da história do imóvel na Vila Clementino, ficaria três andares mais perto da República de Curitiba.
12 de julho de 2016
Augusto Nunes, VEJA
A pilha de patifarias imobiliárias protagonizadas por Lula ficou alguns calhamaços mais alta nesta terça-feira, graças à descoberta da Operação Lava Jato revelada pelo jornal O Globo: em junho de 2010, a Odebrecht usou como intermediária a DAG Construtora, ramificação da empreiteira baseada em Salvador, para adquirir um prédio de três andares em São Paulo que, sem que o presidente gastasse um único e escasso centavo, seria reformado antes de transformar-se em sede do Instituto Lula. A doação só não se consumou por ter tropeçado em pendências judiciais envolvendo antigos proprietários do imóvel.
É improvável que a decepção do marido tenha superado em intensidade o desconsolo de Marisa Letícia. Entre os muitos documentos apreendidos em março deste ano no sítio em Atibaia, a Polícia Federal encontrou, numa pasta rosa guardada pela ex-primeira-dama, a prova de que o bunker permitiria que o casal convivesse 24 horas por dia: o projeto que detalhava a reforma incluía, além do auditório, de salas de reunião e de gabinetes, um apartamento de cobertura com cinco suítes.
O ex-presidente conhece muito bem os diretores da DAG. (Entre outras gentilezas, a sigla bancou em 2013 a viagem de jatinho que levou o camelô de empreiteira aos Estados Unidos, à República Dominicana e a Cuba). Conhece como ninguém o advogado Roberto Teixeira, que participou dos entendimentos que precederam a compra do prédio pela construtora baiana. (Dono de apartamentos que abrigam os filhos do amigo, Teixeira é uma espécie de Minha Casa, Minha Vida da família Lula). Mas o palestrante predileto da Odebrecht dirá, como sempre, que nunca soube de nada. O problema é que a Lava Jato sabe de tudo.
Em 25 de junho de 2010, ao comentar sua assombrosa performance na última pesquisa do Ibope, esta coluna registrou que o então presidente vivia um ano de sonho. Do alto dos mais de 80% de “ótimo” ou “bom”, o maior dos governantes desde Tomé de Souza já vislumbrava a chegada aos 100% (ou 103%, se a margem de erro de 3% oscilasse todinha para cima). Faltava pouco para o recorde mundial de popularidade.
Mais impressionante ainda era o índice de desaprovação: os que achavam “ruim” ou “péssimo” o desempenho de Lula somavam apenas 3% do eleitorado. Esses 4 milhões de brasileiros subiriam para 8 milhões se a margem de erro oscilasse para cima. Caso contrário, o índice despencaria para zero ─ e não haveria um único descontente em todo o território nacional. Nenhum. “Nós somos margem de erro”, constatou o comentarista Renato Vieira.
Naquele fabuloso 2010, o chefão ganhava até prédio com a soberba placidez de um monarca medieval presenteado com joias por outro soberano. Não podia imaginar que, com a descoberta da história do imóvel na Vila Clementino, ficaria três andares mais perto da República de Curitiba.
12 de julho de 2016
Augusto Nunes, VEJA
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