Eduardo Cunha e Dilma Rousseff são agora iguais nas derrotas. Ela perdeu na admissibilidade do processo de impeachment e hoje é a presidente afastada. Ele, suspenso pelo STF, acaba de sofrer uma derrota decisiva entre seus pares e está a caminho da cassação. O curioso é a semelhança das linhas de defesa dos dois líderes, que se odeiam tanto.
No Conselho de Ética, se votava uma questão específica e não o conjunto da obra. Os apoiadores de Cunha exigiam que se ficasse apenas nisso: se ele mentiu ou não mentiu, ao dizer que não tinha contas no exterior? No julgamento de Dilma, seus apoiadores querem limitar os debates na Comissão do Impeachment a alguns pontos específicos. O advogado de Cunha argumentou que ele estava sendo acusado sem prova. Exatamente o que dizem os defensores da presidente Dilma. A defesa de Cunha afirmou que o Conselho de Ética havia se transformado em um tribunal de exceção. É a mesma expressão repetida, com frequência, na Comissão de Impeachment. Os defensores de Cunha e de Dilma gostam de desafiar seus adversários, pedindo que eles apontem “um único ato” que prove a acusação. E, nos dois casos, existem abundantes atos.
Foi um caminho tortuoso e cansativo o que chegou ontem ao fim com a vitória do bom senso: o Conselho de Ética aprovou o parecer do deputado Marcos Rogério pela cassação do deputado Eduardo Cunha. A lógica da política, que faz com que os líderes enfraquecidos sejam abandonados, levará Cunha a ter outras derrotas. Cunha já havia preparado o Plano B com a batalha na CCJ. Mas ele dificilmente conseguirá manter suas manipulações, como fez nos últimos oito meses no Conselho de Ética.
O voto da deputada Tia Eron era o mais aguardado porque ela não o revelara. O cálculo que se fazia antes é que se ela votasse contra Cunha haveria empate. O desempate então ficaria a cargo do presidente da Comissão José Carlos Araújo, favorável à cassação. Mas o mais surpreendente foi o voto do deputado Wladimir Costa. Ele inovou ao encaminhar contra o parecer e votar a favor. O presidente nem precisou votar.
Esse episódio todo desgastou e enfraqueceu a Câmara. Ela vive a crise mais grave da sua história, sendo presidida por um preposto de Cunha que não consegue se manter no comando de uma sessão. O deputado Eduardo Cunha fez as mais maquiavélicas manobras para evitar o dia de ontem, de votação e derrota no Conselho de Ética. Todas as vezes que teve vitórias parciais, foi a instituição que pareceu fraca, a ponto de se dobrar à vontade de apenas um homem.
Os apoiadores de Eduardo Cunha conseguiram que o documento emitido pelo Banco Central, informando que ele estava sendo punido por multa de R$ 1,1 milhão, por ter ele e sua mulher contas não declaradas no exterior, não fosse anexado ao relatório julgado ontem no Conselho de Ética. Da mesma forma que os apoiadores de Dilma Rousseff brigaram para evitar que as delações do senador Delcídio Amaral, ou as pedaladas de 2014, fossem incluídas no relatório que vai a julgamento.
Hoje, o TCU vai começar a analisar as contas da presidente Dilma de 2015 e se elas forem reprovadas também não haverá mais desculpas. Antes que o TCU decida sobre as contas, no entanto, o plenário do Senado votará pelo fim, ou não, do mandato de Dilma. No caso de Cunha, a autoridade monetária já havia informado, após auditoria, que acima de “qualquer dúvida razoável” o deputado Eduardo Cunha tem contas no exterior. A palavra do BC só confirma todos os outros indícios exibidos fartamente nos últimos meses de envolvimento do deputado Cunha com as propinas pagas pelo esquema da Petrobras.
Os defensores de Dilma continuam dizendo que não há qualquer indício de benefício pessoal dela com o esquema investigado pela Lava-Jato. E de fato, nesse ponto, os dois se distanciam. Cunha teve seus gastos extravagantes pagos com dinheiro sujo despejado diretamente em suas contas. Por outro lado, não há qualquer sombra de dinheiro indo para contas pessoais de Dilma. A questão é que a presidente está cercada de beneficiados e dinheiro do esquema foi parar na sua campanha. O fim mais provável desse processo é o deputado cassado e a presidente sofrendo impeachment.
17 de junho de 2016
Miriam Leitão, O Globo
No Conselho de Ética, se votava uma questão específica e não o conjunto da obra. Os apoiadores de Cunha exigiam que se ficasse apenas nisso: se ele mentiu ou não mentiu, ao dizer que não tinha contas no exterior? No julgamento de Dilma, seus apoiadores querem limitar os debates na Comissão do Impeachment a alguns pontos específicos. O advogado de Cunha argumentou que ele estava sendo acusado sem prova. Exatamente o que dizem os defensores da presidente Dilma. A defesa de Cunha afirmou que o Conselho de Ética havia se transformado em um tribunal de exceção. É a mesma expressão repetida, com frequência, na Comissão de Impeachment. Os defensores de Cunha e de Dilma gostam de desafiar seus adversários, pedindo que eles apontem “um único ato” que prove a acusação. E, nos dois casos, existem abundantes atos.
Foi um caminho tortuoso e cansativo o que chegou ontem ao fim com a vitória do bom senso: o Conselho de Ética aprovou o parecer do deputado Marcos Rogério pela cassação do deputado Eduardo Cunha. A lógica da política, que faz com que os líderes enfraquecidos sejam abandonados, levará Cunha a ter outras derrotas. Cunha já havia preparado o Plano B com a batalha na CCJ. Mas ele dificilmente conseguirá manter suas manipulações, como fez nos últimos oito meses no Conselho de Ética.
O voto da deputada Tia Eron era o mais aguardado porque ela não o revelara. O cálculo que se fazia antes é que se ela votasse contra Cunha haveria empate. O desempate então ficaria a cargo do presidente da Comissão José Carlos Araújo, favorável à cassação. Mas o mais surpreendente foi o voto do deputado Wladimir Costa. Ele inovou ao encaminhar contra o parecer e votar a favor. O presidente nem precisou votar.
Esse episódio todo desgastou e enfraqueceu a Câmara. Ela vive a crise mais grave da sua história, sendo presidida por um preposto de Cunha que não consegue se manter no comando de uma sessão. O deputado Eduardo Cunha fez as mais maquiavélicas manobras para evitar o dia de ontem, de votação e derrota no Conselho de Ética. Todas as vezes que teve vitórias parciais, foi a instituição que pareceu fraca, a ponto de se dobrar à vontade de apenas um homem.
Os apoiadores de Eduardo Cunha conseguiram que o documento emitido pelo Banco Central, informando que ele estava sendo punido por multa de R$ 1,1 milhão, por ter ele e sua mulher contas não declaradas no exterior, não fosse anexado ao relatório julgado ontem no Conselho de Ética. Da mesma forma que os apoiadores de Dilma Rousseff brigaram para evitar que as delações do senador Delcídio Amaral, ou as pedaladas de 2014, fossem incluídas no relatório que vai a julgamento.
Hoje, o TCU vai começar a analisar as contas da presidente Dilma de 2015 e se elas forem reprovadas também não haverá mais desculpas. Antes que o TCU decida sobre as contas, no entanto, o plenário do Senado votará pelo fim, ou não, do mandato de Dilma. No caso de Cunha, a autoridade monetária já havia informado, após auditoria, que acima de “qualquer dúvida razoável” o deputado Eduardo Cunha tem contas no exterior. A palavra do BC só confirma todos os outros indícios exibidos fartamente nos últimos meses de envolvimento do deputado Cunha com as propinas pagas pelo esquema da Petrobras.
Os defensores de Dilma continuam dizendo que não há qualquer indício de benefício pessoal dela com o esquema investigado pela Lava-Jato. E de fato, nesse ponto, os dois se distanciam. Cunha teve seus gastos extravagantes pagos com dinheiro sujo despejado diretamente em suas contas. Por outro lado, não há qualquer sombra de dinheiro indo para contas pessoais de Dilma. A questão é que a presidente está cercada de beneficiados e dinheiro do esquema foi parar na sua campanha. O fim mais provável desse processo é o deputado cassado e a presidente sofrendo impeachment.
17 de junho de 2016
Miriam Leitão, O Globo
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