A possibilidade de o ex-presidente Lula assumir um ministério no governo Dilma é uma jogada de alto risco, com diversas e complexas implicações. Em primeiro lugar, seria um sinal muito negativo para a própria imagem do ex-presidente. A trama não se resume apenas em protegê-lo, mas a primeira leitura seria essa, a de que Lula fugiu da Justiça para deixar sua sorte nas mãos do Supremo, o que coloca uma enorme responsabilidade para a própria Corte, forçada a decidir os destinos de Lula sob enorme pressão e clamor da sociedade. E qualquer decisão estará sob suspeição – ou de excesso para provar independência ou de conivência.
No campo do governo também haverá problemas claros: primeiro, com Lula sob o mesmo teto, Dilma abriria mão do poder; Lula seria a referência de autoridade interna e externamente ao governo. Seria antecipar o impeachment, com uma duvidosa solução petista. Mas, não apenas isso: há quem acredite que Lula reorganizaria o governo, rearticularia o Executivo com o Legislativo e com a economia. Também aí parece haver incongruências: o Lula de hoje não é o Lula de um ano atrás, tampouco o Lula de 2010. Já não mobiliza e nem agrega como antes: quais nomes realmente críveis traria para o governo?
E, acima de tudo, a estratégia é de risco também porque é de um enfrentamento que talvez o PT não tenha mais força para fazê-lo; o PT não é o mesmo; não é mais seguido por tantos setores como no passado; a nomeação seria compreendida como uma declaração de guerra de um exército que perdeu quase todos seus soldados. Os congressistas que decidirão (ou não) a respeito do impeachment de Dilma têm consciência disso tudo.
17 de março de 2016
Carlos Melo
O Estado de São Paulo
No campo do governo também haverá problemas claros: primeiro, com Lula sob o mesmo teto, Dilma abriria mão do poder; Lula seria a referência de autoridade interna e externamente ao governo. Seria antecipar o impeachment, com uma duvidosa solução petista. Mas, não apenas isso: há quem acredite que Lula reorganizaria o governo, rearticularia o Executivo com o Legislativo e com a economia. Também aí parece haver incongruências: o Lula de hoje não é o Lula de um ano atrás, tampouco o Lula de 2010. Já não mobiliza e nem agrega como antes: quais nomes realmente críveis traria para o governo?
E, acima de tudo, a estratégia é de risco também porque é de um enfrentamento que talvez o PT não tenha mais força para fazê-lo; o PT não é o mesmo; não é mais seguido por tantos setores como no passado; a nomeação seria compreendida como uma declaração de guerra de um exército que perdeu quase todos seus soldados. Os congressistas que decidirão (ou não) a respeito do impeachment de Dilma têm consciência disso tudo.
17 de março de 2016
Carlos Melo
O Estado de São Paulo
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