"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 17 de março de 2016

SOB O RISCO DA LEITURA DE QUE EX-PRESIDENTE FOGE DA JUSTIÇA

A possibilidade de o ex-presidente Lula assumir um ministério no governo Dilma é uma jogada de alto risco, com diversas e complexas implicações. Em primeiro lugar, seria um sinal muito negativo para a própria imagem do ex-presidente. A trama não se resume apenas em protegê-lo, mas a primeira leitura seria essa, a de que Lula fugiu da Justiça para deixar sua sorte nas mãos do Supremo, o que coloca uma enorme responsabilidade para a própria Corte, forçada a decidir os destinos de Lula sob enorme pressão e clamor da sociedade. E qualquer decisão estará sob suspeição – ou de excesso para provar independência ou de conivência.

No campo do governo também haverá problemas claros: primeiro, com Lula sob o mesmo teto, Dilma abriria mão do poder; Lula seria a referência de autoridade interna e externamente ao governo. Seria antecipar o impeachment, com uma duvidosa solução petista. Mas, não apenas isso: há quem acredite que Lula reorganizaria o governo, rearticularia o Executivo com o Legislativo e com a economia. Também aí parece haver incongruências: o Lula de hoje não é o Lula de um ano atrás, tampouco o Lula de 2010. Já não mobiliza e nem agrega como antes: quais nomes realmente críveis traria para o governo?

E, acima de tudo, a estratégia é de risco também porque é de um enfrentamento que talvez o PT não tenha mais força para fazê-lo; o PT não é o mesmo; não é mais seguido por tantos setores como no passado; a nomeação seria compreendida como uma declaração de guerra de um exército que perdeu quase todos seus soldados. Os congressistas que decidirão (ou não) a respeito do impeachment de Dilma têm consciência disso tudo.



17 de março de 2016
Carlos Melo
O Estado de São Paulo

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