O 13 de Março apontou o caminho com uma clareza absolutamente inquestionável: basta! O governo Dilma acabou de fato e com ele o famigerado ciclo de poder lulopetista, que depois de se sustentar por anos apoiado no populismo rasteiro que teve seus momentos de brilho no embalo de uma conjuntura favorável afundou o País na atual crise política, econômica e moral. Esse processo foi acelerado, por um lado, pelo mar de lama que emergiu com a Operação Lava Jato e suas congêneres e, por outro, pela inacreditável incompetência política aliada à inépcia gerencial de Dilma Rousseff. Resta agora formalizar, com a observância estrita dos preceitos constitucionais, o que foi decretado nas ruas. E, numa segunda etapa, consertar as instituições que foram conspurcadas pela tigrada e repor o País no rumo do crescimento sustentável e com justiça social.
A tarefa de reconstrução nacional, por princípio difícil em qualquer circunstância e em qualquer lugar, é de modo especial desafiadora quando deve ser feita com o material humano de que a política brasileira dispõe. Basta olhar para o Congresso Nacional, onde os presidentes das duas Casas que o compõem são obrigados a dividir seu tempo entre comandar à sua maneira peculiar o Poder Legislativo e defender-se das múltiplas investigações e denúncias criminais que os acossam.
De qualquer modo, ficou claro que uma mobilização como a que reuniu multidões no 13 de Março só poderia ter sido feita por movimentos suprapartidários, enraizados num genuíno e multifacetado anseio popular por mudança. Os milhões de brasileiros que saíram mais uma vez às ruas sabem exatamente o que não querem, mas estão divididos quanto ao que, além disso, desejam. Mas nem por isso deixam de se unir em torno dos pontos com os quais concordam. E o fazem como bons cidadãos e vizinhos, em paz e concórdia. Na verdade, conseguem extrair alegria de um momento de grande gravidade.
Essa massa que acorreu às ruas na maior manifestação pública do gênero na história da República também demonstrou desconfiança e impaciência com lideranças político-partidárias em geral. Aécio Neves e Geraldo Alckmin, alvos de manifestações pontuais de desaprovação na Avenida Paulista, exatamente como ocorreu com muitos outros políticos Brasil afora, devem ter sentido com preocupação a cota extra de responsabilidade que lhes pesa nos ombros.
O fato é que, aos poucos – mas muito rapidamente –, as lideranças dos movimentos e os próprios manifestantes vão percebendo que a realização de seus anseios só poderá dar-se no Congresso Nacional. Ou seja, a crise política, econômica e moral montada pela corrupção lulopetista só será desmontada na arena política. E também dali é que surgirão as soluções para o destravamento da economia e a limpeza dos costumes políticos. Assim, não é de espantar que, no 13 de Março, políticos profissionais tenham comparecido às ruas – ainda que enfrentando a incompreensão e a intransigência de alguns manifestantes.
O governo, por sua vez, reagiu desnorteado ao 13 de Março. Sem ter o que dizer, teria sido preferível que o Palácio do Planalto se recolhesse ao silêncio obsequioso, em vez de enveredar por obviedades infantojuvenis a respeito de “maturidade de um País que sabe conviver com opiniões divergentes e garantir respeito às leis e instituições”. Afinal, diante das repetidas manifestações do povo brasileiro, são mais que patéticas as declarações de que Dilma e o PT devem permanecer no poder para “respeitar a vontade do povo”. Lá ficam para tentar, in extremis, perpetuar um projeto de poder que se sustentou com o maior esquema de corrupção na gestão pública de que o País tem notícia.
Diante das hipóteses de o PMDB desembarcar formalmente do governo – porque, de fato, desde sábado já apeou – e de Lula assumir o governo disfarçado de ministro, só restou ao Palácio do Planalto a inspiração acaciana de dizer que “a liberdade das manifestações é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”. Se Dilma, de fato, respeitar a clamorosa vontade popular, logo teremos a notícia de sua renúncia.
17 de março de 2016
Editorial O Estadão
A tarefa de reconstrução nacional, por princípio difícil em qualquer circunstância e em qualquer lugar, é de modo especial desafiadora quando deve ser feita com o material humano de que a política brasileira dispõe. Basta olhar para o Congresso Nacional, onde os presidentes das duas Casas que o compõem são obrigados a dividir seu tempo entre comandar à sua maneira peculiar o Poder Legislativo e defender-se das múltiplas investigações e denúncias criminais que os acossam.
De qualquer modo, ficou claro que uma mobilização como a que reuniu multidões no 13 de Março só poderia ter sido feita por movimentos suprapartidários, enraizados num genuíno e multifacetado anseio popular por mudança. Os milhões de brasileiros que saíram mais uma vez às ruas sabem exatamente o que não querem, mas estão divididos quanto ao que, além disso, desejam. Mas nem por isso deixam de se unir em torno dos pontos com os quais concordam. E o fazem como bons cidadãos e vizinhos, em paz e concórdia. Na verdade, conseguem extrair alegria de um momento de grande gravidade.
Essa massa que acorreu às ruas na maior manifestação pública do gênero na história da República também demonstrou desconfiança e impaciência com lideranças político-partidárias em geral. Aécio Neves e Geraldo Alckmin, alvos de manifestações pontuais de desaprovação na Avenida Paulista, exatamente como ocorreu com muitos outros políticos Brasil afora, devem ter sentido com preocupação a cota extra de responsabilidade que lhes pesa nos ombros.
O fato é que, aos poucos – mas muito rapidamente –, as lideranças dos movimentos e os próprios manifestantes vão percebendo que a realização de seus anseios só poderá dar-se no Congresso Nacional. Ou seja, a crise política, econômica e moral montada pela corrupção lulopetista só será desmontada na arena política. E também dali é que surgirão as soluções para o destravamento da economia e a limpeza dos costumes políticos. Assim, não é de espantar que, no 13 de Março, políticos profissionais tenham comparecido às ruas – ainda que enfrentando a incompreensão e a intransigência de alguns manifestantes.
O governo, por sua vez, reagiu desnorteado ao 13 de Março. Sem ter o que dizer, teria sido preferível que o Palácio do Planalto se recolhesse ao silêncio obsequioso, em vez de enveredar por obviedades infantojuvenis a respeito de “maturidade de um País que sabe conviver com opiniões divergentes e garantir respeito às leis e instituições”. Afinal, diante das repetidas manifestações do povo brasileiro, são mais que patéticas as declarações de que Dilma e o PT devem permanecer no poder para “respeitar a vontade do povo”. Lá ficam para tentar, in extremis, perpetuar um projeto de poder que se sustentou com o maior esquema de corrupção na gestão pública de que o País tem notícia.
Diante das hipóteses de o PMDB desembarcar formalmente do governo – porque, de fato, desde sábado já apeou – e de Lula assumir o governo disfarçado de ministro, só restou ao Palácio do Planalto a inspiração acaciana de dizer que “a liberdade das manifestações é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”. Se Dilma, de fato, respeitar a clamorosa vontade popular, logo teremos a notícia de sua renúncia.
17 de março de 2016
Editorial O Estadão
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