Se faltasse ainda uma prova, talvez a última, de que a presidente Dilma e o PT são impermeáveis à vontade das ruas, e à vontade a da esmagadora maioria dos brasileiros expressa em todas as pesquisas de opinião conhecidas até aqui, agora não falta mais.
Menos de 24 horas depois da maior manifestação popular da história do Brasil que disse “não” à corrupção, “não” a Lula e “sim” ao impeachment de Dilma, ministros do governo anteciparam que hoje ou amanhã haverá troca de presidente da República.
Sairá Dilma, que só formalmente continuará no cargo. Entrará Lula para escapar de uma eventual prisão, de um eventual julgamento comandado pelo juiz Sérgio Moro, e para barrar o impeachment no Congresso. Dará certo? Eufórico, o PT acha que dará.
Mais do que isso: os principais líderes do PT entendem que Lula presidente na prática, embora com título de ministro, é a única saída que resta para que o Congresso não casse o mandato de Dilma, e para que o PT possa sonhar em se manter no poder.
Do jeito que vai – ou que ia até ontem -, os dias de Dilma no poder pareciam contados. Nesta quinta-feira, com a decisão final do Supremo Tribunal Federal sobre as regras do impeachment, o processo será destravado para começar a correr na Câmara.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, imagina que em 90 dias a sorte de Dilma estará selada. O PMDB uniu-se ao PSDB para fazer do vice Michel Temer o sucessor de Dilma. Partidos que ainda dizem apoiar o governo estão decididos a largá-lo.
A perder o lugar para Temer, Dilma foi convencida pelo PT a ceder o lugar a Lula. Somente ele – e isso até seus adversários admitem – poderá reescrever a crônica de uma queda anunciada. Impeachment bancado pelo PT não é golpe. Para ele, é ato de legítima defesa.
É também de falta de vergonha, de escrúpulos, de respeito aos brasileiros e, especialmente, à Justiça, mas não se faz política na maioria dos lugares com vergonha, escrúpulos e respeito ao povo ou à Justiça. A não ser quando o povo reage ou a Justiça reage.
A se consumar o impedimento de Dilma e a nova posse de Lula, a Justiça será provocada por partidos da oposição a declarar se não estamos diante de uma “ofensa ao princípio de moralidade”. Ou se o ato de nomeação de Lula não significará uma “fraude processual”.
Porque seja uma coisa ou outra ou ainda uma terceira, é disto que se trata a levar-se em conta o senso comum. Por senso comum, leia-se “o modo de pensar da maioria das pessoas com base no conhecimento adquirido a partir de experiências e vivências”.
Afinal, Lula é suspeito de ter contribuído para o assalto à Petrobras, de ter enriquecido sendo pago por palestras que não fez, e de ocultar patrimônio. Delações que estão por vir ou por se revelar deverão deixá-lo em pior situação do que está.
A fuga que ele está a empreender na direção do Palácio do Planalto lhe assegurará o privilégio de só poder ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Ali, Lula espera contar com a boa vontade da maioria dos ministros escolhida por ele e Dilma.
Para dizer o mínimo, é uma desfaçatez. Para dizer o que é de fato, é uma tentativa de obstruir a Justiça.
17 de março de 2016
Ricardo Noblat, O Globo
Menos de 24 horas depois da maior manifestação popular da história do Brasil que disse “não” à corrupção, “não” a Lula e “sim” ao impeachment de Dilma, ministros do governo anteciparam que hoje ou amanhã haverá troca de presidente da República.
Sairá Dilma, que só formalmente continuará no cargo. Entrará Lula para escapar de uma eventual prisão, de um eventual julgamento comandado pelo juiz Sérgio Moro, e para barrar o impeachment no Congresso. Dará certo? Eufórico, o PT acha que dará.
Mais do que isso: os principais líderes do PT entendem que Lula presidente na prática, embora com título de ministro, é a única saída que resta para que o Congresso não casse o mandato de Dilma, e para que o PT possa sonhar em se manter no poder.
Do jeito que vai – ou que ia até ontem -, os dias de Dilma no poder pareciam contados. Nesta quinta-feira, com a decisão final do Supremo Tribunal Federal sobre as regras do impeachment, o processo será destravado para começar a correr na Câmara.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, imagina que em 90 dias a sorte de Dilma estará selada. O PMDB uniu-se ao PSDB para fazer do vice Michel Temer o sucessor de Dilma. Partidos que ainda dizem apoiar o governo estão decididos a largá-lo.
A perder o lugar para Temer, Dilma foi convencida pelo PT a ceder o lugar a Lula. Somente ele – e isso até seus adversários admitem – poderá reescrever a crônica de uma queda anunciada. Impeachment bancado pelo PT não é golpe. Para ele, é ato de legítima defesa.
É também de falta de vergonha, de escrúpulos, de respeito aos brasileiros e, especialmente, à Justiça, mas não se faz política na maioria dos lugares com vergonha, escrúpulos e respeito ao povo ou à Justiça. A não ser quando o povo reage ou a Justiça reage.
A se consumar o impedimento de Dilma e a nova posse de Lula, a Justiça será provocada por partidos da oposição a declarar se não estamos diante de uma “ofensa ao princípio de moralidade”. Ou se o ato de nomeação de Lula não significará uma “fraude processual”.
Porque seja uma coisa ou outra ou ainda uma terceira, é disto que se trata a levar-se em conta o senso comum. Por senso comum, leia-se “o modo de pensar da maioria das pessoas com base no conhecimento adquirido a partir de experiências e vivências”.
Afinal, Lula é suspeito de ter contribuído para o assalto à Petrobras, de ter enriquecido sendo pago por palestras que não fez, e de ocultar patrimônio. Delações que estão por vir ou por se revelar deverão deixá-lo em pior situação do que está.
A fuga que ele está a empreender na direção do Palácio do Planalto lhe assegurará o privilégio de só poder ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Ali, Lula espera contar com a boa vontade da maioria dos ministros escolhida por ele e Dilma.
Para dizer o mínimo, é uma desfaçatez. Para dizer o que é de fato, é uma tentativa de obstruir a Justiça.
17 de março de 2016
Ricardo Noblat, O Globo
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