O título do artigo, independentemente da nomeação de Lula para a Casa Civil, definida depois de horas de conversações, sintetiza a única opção que existe neste difícil momento para a presidente Dilma Rousseff. Basta ler a reportagem de André de Souza, Eduardo Bresciani, Jailton de Carvalho, Vinicius Sassine e Renata Moriz, edição de quarta-feira de O Globo, para que todos sejam conduzidos a essa certeza. Porque no texto encontra-se transcrita na íntegra a gravação da conversa mantida entre o ministro da Educação e o assessor do senador Delcídio Amaral, Eduardo Marzagão.
Desnecessário repetir o conteúdo do diálogo nível baixíssimo a que recorreu Aloizio Mercadante. O que acrescenta forte dose de espanto ainda maior está o fato de Mercadante, substituído da Casa Civil por pressão de Lula, ser ministro da Educação e, portanto, nada tem com qualquer lance de articulação política, sobretudo envolvendo o nome de Dilma Rousseff.
Ele nega este ângulo da questão, porém tacitamente o confirma. Não pode haver outra interpretação. Não quero dizer que a presidente da República o autorizou a essa atitude que Mercadante assumiu. Mas por isso mesmo, para confirmar seu distanciamento, é que a chefe do Executivo deverá demiti-lo. Caso contrário, estará desistindo de si mesma. Para facilitar as coisas, Aloizio Mercadante deve pedir demissão irrevogável.
SEM ALTERNATIVA
Não existe alternativa. Principalmente porque Delcídio confirmou a versão de Marzagão e a delação foi aceita pelo ministro Teori Zavascki, relator no Supremo do escândalo gigantesco que abalou a Petrobrás, no que se refere aos que possuem foro privilegiado. O relatório de Delcídio, assim, está valendo como fator de prova. Enquanto isso, concluem-se as conversações entre Lula e Dilma no Planalto. Ser ou não ser ministro era a questão essencial. Mas não foi fácil superar as arestas neste instante de emergência.
Pois não fosse difícil, a reunião entre antecessor e sucessora não teria se desdobrando da tarde e noite de terça-feira para o transcorrer do dia seguinte. A impressão que me dá, em princípio, é que Lula tenha feito exigências para assumir. Uma delas, claro, a demissão de Mercadante, desafeto que conseguiu retirar da Casa Civil, substituindo-o por Jaques Wagner. Outra condição, a mudança da política econômica e social, com adoção de modelo mais flexível e menos causador do desemprego que atinge mais de 9 milhões de pessoas, com a entrada em cena de Henrique Meireles, cuja nomeação, aliás, Lula sempre defendeu. Isso implicaria obviamente na demissão de Nelson Barbosa, que recentemente entrou no lugar de Joaquim Levy.
NUVEM DE DIFICULDADES
Nelson Barbosa, inclusive, não sei por que, tem em torno de si uma nuvem de dificuldades. Foi secretário executivo de Guido Mantega e houve desentendimento entre anos. Sua postura é de um homem calmo. Mas o destino reserva às vezes acontecimentos dramáticos mesmo aos conciliadores.
Vejam os leitores, por exemplo, o caso de João Goulart. Ninguém mais conciliador do que ele, nomeado ministro do Trabalho por Vargas, em 53, provocou o manifesto dos coronéis (da ativa) que o derrubou. Fazendeiro rico, era visto como alguém da extrema esquerda. Em 54, após a morte de Getúlio, perdeu as eleições para senador pelo Rio Grande do Sul. Em 55, escolhido vice de JK, outra crise. Reeleito em 60, uma crise enorme para assumir a presidência na renúncia de Jânio Quadros. Deposto em 64 por um golpe militar. Mas por qual razão estou lembrando a figura de Jango?
Acho que por entender que o clima de hoje assemelha-se ao de março de 64. Dilma Rousseff tem que demitir Mercadante imediatamente.
17 de março de 2016
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