Caso desembarcasse em Brasília neste Carnaval, o ET tomaria o poder, podendo ancorar o seu disco-voador no palácio do Planalto, no Congresso ou no prédio do Supremo Tribunal Federal. Faria da Esplanada dos Ministérios pista para as aeronaves de apoio e palco para uma exposição sobre as excelências do governo alienígena em substituição aos três poderes da União, ausentes da capital federal desde sexta-feira.
A presidente Dilma refugiou-se na Base Naval de Aratu, na Bahia, disposta a não atender telefones nem dedilhar as diabólicas maquininhas capazes de conectá-la com o mundo exterior. O vice-presidente Michel Temer permanece em São Paulo.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, viajou para o exterior sem informar qual o país, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, aproveita o sol da praia da Barra de São Miguel, em Alagoas. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, passeia entre a Itália e a Espanha. Dos ministros palacianos sabe-se encontrarem-se em seus estados de origem, assim como os demais integrantes da equipe governamental, até os da área econômica. Deputados e senadores descansam em suas bases, fora os convidados para os desfiles no Sambódromo, no Rio. Até os tradicionais colunistas dos principais jornais escafederam-se.
UM DESERTO
Brasília, sede dos poderes da União, está deserta. Abandonada, até por parte de sua população. Vivêssemos os tempos bicudos da ditadura e o palco estaria armado para a eclosão de mais um golpe dentro do golpe, já que os soldados permanecem nos quartéis. Como o regime é democrático, fica apenas o vazio, sempre propício aos inusitados, mesmo os indesejados.
O singular nessa constatação é que não se fala nas malvadas medidas de ajuste financeiro e supressão de direitos trabalhistas. Nem da progressiva alta de preços. Sequer no perigo da inflação ou de novos lances do escândalo na Petrobras. Apesar da ausência de chuva, a crise hídrica e a falta de energia deixaram de preocupar. Nem a vergonha do mau funcionamento da saúde pública merece as referências de sempre. Como as escolas e universidades estão fechadas, vale o mesmo para as carências do ensino.
Convenhamos, Brasília abandonada parece tranquilizar o resto do país. A inexistência do governo federal em nada prejudica a vida de 200 milhões de habitantes. O diabo é se a moda pega e a experiência frutifica. A menos, é claro, que o ET se disponha a desembarcar…
15 de fevereiro de 2015
Carlos Chagas
15 de fevereiro de 2015
Carlos Chagas
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