"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

AMENIDADES LINGUÍSTICAS ( 3 )

Carnaval: a carne morreu, viva a carne!

Multidão no carnaval de Salvador (Eladio Machado/VEJA)
Multidão no carnaval de Salvador (Eladio Machado/VEJA)

CARNAVAL: A CARNE MORREU, VIVA A CARNE!
A palavra incontornável da semana, “carnaval”, tem a ver com carne? Claro que tem, mas as aparências enganam.
Em vez da carne humana que desfila pelas ruas em plena folia, desinibida e seminua, estamos falando da carne de animais – literalmente – comestíveis. E em vez de licença e permissividade, a palavra em sua origem traduzia o oposto: interdição, veto.
Interdição? Veto? Pois é: às vezes a história das palavras lembra o “Samba do crioulo doido” de Stanislaw Ponte Preta, mas no fim tudo se explica.
Ou quase tudo.
A palavra foi importada no século XVI do italiano carnevale, derivada, segundo a maioria dos filólogos, da expressão latina carnem levare, que significa suspender a carne, dar adeus a ela, afastar-se dela.
“Carnaval” referia-se inicialmente apenas à Terça-Feira Gorda, véspera da Quarta de Cinzas, quando começa a Quaresma, que uma tradição católica (um tanto esquecida hoje) mandava consagrar inteiramente ao jejum – a hora, portanto, de suspender o consumo de carne.
Sim, é óbvio que, por trás da aparente severidade, a ideia de excesso já acompanhava a palavra em seu nascimento: nas últimas horas antes da interdição da carne, abusava-se de seu consumo.
De toda forma, a etimologia de carnaval não é de todo pacífica. Entre outras teses, já gozou de prestígio popular a de que a palavra viria de carrus navalis *, “carro naval”, uma espécie de precursor romano dos carros alegóricos das escolas de samba.
Seria uma origem divertida, mas não conheço nenhum filólogo sério lhe dê crédito hoje.

15 de fevereiro de 2015
Veja online

( * ) O "CARRUS NAVALIS" DOS ROMANOS 
Dom Zeno Hastenteufel
Bispo de Novo Hamburgo
No Império Romano, nos últimos séculos antes de Cristo, especialmente após a conquista da Grécia, havia uma consciência religiosa muito desenvolvida. A religião era organizadíssima. Havia os deuses oficiais, chamados deuses olímpicos, aos quais todos deveriam prestar um culto anual. Quem se negasse a este preceito poderia ser condenado à pena de morte, pelo crime de ateísmo. Era um crime ser ateu na cultura greco-romana.
É claro: os deuses não oficiais ou até proibidos faziam o maior sucesso! Assim era o culto de Diónisos-Bacco. Era o mesmo deus que na Grécia se chamava “Diónisos ou Dionísio” e Bacco, em Roma. Era o deus do vinho e era muito comum fazerem-se os “Baccanais”, orgias de toda a ordem, nos bosques fora da cidade. Havia denúncias de que ali se praticavam até sacrifícios humanos.
Com o passar dos anos, este culto passou a ser tolerado em Roma. E, no início do cristianismo, era conhecido o folclórico “carrus navalis”, isto é, a festa começava nos bosques da periferia de Roma, e depois um carro, em forma de navio, era puxado por escravos. Dentro deste navio viajava o homem mais gordo da cidade, distribuindo vinho para a população aglomerada ao longo das calçadas. Era a festa do “Carrus Navalis”, regada a muito vinho e as consequências são facilmente previsíveis. O cristianismo primitivo tinha um discurso muito forte contra estas orgias e festas, bastando ler Gregório Magno ou São João Crisóstomo.
Não podemos afirmar que a nossa festa do Carnaval se origina nestas orgias romanas, mas há certamente muitas coincidências. E, no Brasil, nos últimos anos, o Ministério da Saúde se encarrega de distribuir os preservativos.
Num ano em que o ministro da Saúde é candidato ao Governo de São Paulo, a distribuição vai ser muito farta. A imprensa fala na preocupação que dobrou e na verba destinada para esta finalidade. E, pelo que me consta, ali não aconteceram os famosos cortes.
É lamentável que o Brasil pense em educar a sua juventude, entregando camisinhas, que passam a ser um convite para a orgia e a sem-vergonhice. A ideia que se passa é que o nosso carnaval continua sendo uma festa em que o instinto está solto e tudo está liberado, desde que se use o preservativo.
Enquanto isto, nós católicos nos preparamos para entrar na Quaresma e na Campanha da Fraternidade. E o pensamento central vem do Evangelho: “Não vos preocupeis, dizendo: ´O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir? Os pagãos é que procuram estas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que vós precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Por isso, a nossa esperança está no Senhor e nada nos abalará.


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