"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

AMENIDADES LINGUÍSTICAS ( 2 )

DE ONDE VEM A EXPRESSÃO "CHEIO DE NOVE HORAS"?

relógio antigo nove horas
“Minha dúvida é sobre a expressão ‘cheio de nove horas’, que meu pai gostava de usar para falar de uma pessoa fresca, complicada, cheia de manias. De onde veio isso? Por que nove horas?” (Camila Sampaio)
A dúvida de Camila sempre me intrigou também. Quem nos socorre é o imprescindível Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), pesquisador natalense que escreveu, entre muitos outros livros, “Locuções tradicionais do Brasil”.
Câmara Cascudo começa falando da importância que antigamente, e por muito tempo, tinha na vida social – e não só na brasileira – o limite das nove horas da noite, “a hora clássica do século XIX, regulando o final das visitas, ditando o momento das despedidas”.
Qualquer um que teimasse em ficar na rua depois disso poderia ser “apalpado e revistado” pela polícia, e “apenas os boêmios, notívagos impenitentes, teimavam em afrontar os perigos da noite, da polícia, dos ladrões e capoeiras esfaimados”.
Não se deve imaginar que o limite estraga-prazeres das nove da noite tenha sido uma criação do século XIX. Câmara Cascudo cita uma frase reveladora do escritor português seiscentista Francisco Manuel de Melo: “Não dera ainda as nove horas, que é a taxa de todo cativeiro do matrimônio!”. Tradução: o marido que não voltasse para casa às nove estaria em apuros.
Mas o que isso tem a ver com o sentido de “cheio de nove horas” que chegou até nós e que intriga Camila – o de “cheio de frescura, de manias, de idiossincrasias, de salamaleques”? Com a palavra, o autor de “Locuções tradicionais do Brasil”:
Criou-se no século XIX a figura sestrosa, cerimoniática, meticulosa, do Cheio de Nove Horas, criatura infalível em citar regras, restrições, limites às alegrias dos outros, memorialista dos pecados alheios, fiel lembrete aos códigos e regulamentações, imperativas e dispensáveis, complicando as cousas simples.

15 de fevereiro de 2015
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