O governo brasileiro precisa deixar de lado o pânico que toma conta das autoridades do setor elétrico e de lideranças políticas quando o assunto é a necessidade de o país economizar energia. Explorado politicamente contra o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o racionamento de 2001, que impôs perdas à economia e incomodou as famílias, virou tabu em vez de ser apenas algo a ser evitado.
O pavor de ser responsabilizado por eventual novo racionamento tem levado o governo a evitar o assunto e, com isso, perdem-se oportunidades preciosas para reeducar a população e, ao mesmo tempo, criar programas de racionalização do consumo de energia nas indústrias, no comércio e nos serviços. A preferência tem sido por fazer discretas orações para que os céus mandem chuva a tempo de evitar o constrangimento dos apagões, em vez de agir com mais eficácia para evitá-los.
Más notícias divulgadas nos últimos dias não aconselham a velha postura do avestruz com a cabeça enterrada na areia ante o perigo que se aproxima. É incontestável a autoridade do Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão que comanda os despachos de energia das geradoras para os diversos pontos do mercado consumidor de eletricidade.
Na segunda-feira, o ONS fez um alerta que não pode passar despercebido: os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da energia proveniente dessa fonte no Brasil, poderão encerrar o mês abaixo dos registrados em setembro de 2001, quando o país decretou o racionamento.
Segundo o ONS, se não chover muito até 31 de outubro, os principais lagos do subsistema deverão ter apenas 19,9% de água armazenada, enquanto no mesmo mês de 2001, estavam com 21%. Na outra ponta, as primeiras informações sobre o consumo são de que o calor intenso da primeira quinzena de outubro tem provocado picos de consumo nas regiões metropolitanas do Sudeste e do Centro-Oeste. É que se aumenta o uso dos chuveiros elétricos e, principalmente, do ar-condicionado. Esse aumento virá sobre os 60.286 megawatts médios consumidos em setembro e que representaram crescimento de 1,3% em comparação com setembro de 2013.
Ontem, o Ministério de Minas e Energia (MME), ao confirmar a entrada em vigor do horário de verão no próximo domingo, revelou mais uma perda milionária que o país terá em razão da seca e por não ter sido capaz de ampliar a capacidade de aumentar a oferta hidrelétrica. O horário de verão terá seis dias a mais, por causa do carnaval, mas fará uma economia bem menor do que a de anos anteriores.
Convertida em dinheiro, com base no custo médio atual da energia elétrica a ser consumida até 22 de fevereiro de 2015, a economia não deverá ir além de R$ 278 milhões. Significa uma perda de 30,5% (R$ 122 milhões) em relação aos R$ 400 milhões economizados em 2013. Isso porque a queda de geração pelas hidrelétricas, em razão da falta de chuvas, vai obrigar o sistema a manter em operação as usinas térmicas, mais caras e mais poluidoras.
Motivos não faltam, portanto, para o governo deslanchar uma campanha de redução do consumo, criando estímulos na conta de luz e adotando medidas de racionalização. O que falta é coragem política.
16 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
O pavor de ser responsabilizado por eventual novo racionamento tem levado o governo a evitar o assunto e, com isso, perdem-se oportunidades preciosas para reeducar a população e, ao mesmo tempo, criar programas de racionalização do consumo de energia nas indústrias, no comércio e nos serviços. A preferência tem sido por fazer discretas orações para que os céus mandem chuva a tempo de evitar o constrangimento dos apagões, em vez de agir com mais eficácia para evitá-los.
Más notícias divulgadas nos últimos dias não aconselham a velha postura do avestruz com a cabeça enterrada na areia ante o perigo que se aproxima. É incontestável a autoridade do Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão que comanda os despachos de energia das geradoras para os diversos pontos do mercado consumidor de eletricidade.
Na segunda-feira, o ONS fez um alerta que não pode passar despercebido: os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da energia proveniente dessa fonte no Brasil, poderão encerrar o mês abaixo dos registrados em setembro de 2001, quando o país decretou o racionamento.
Segundo o ONS, se não chover muito até 31 de outubro, os principais lagos do subsistema deverão ter apenas 19,9% de água armazenada, enquanto no mesmo mês de 2001, estavam com 21%. Na outra ponta, as primeiras informações sobre o consumo são de que o calor intenso da primeira quinzena de outubro tem provocado picos de consumo nas regiões metropolitanas do Sudeste e do Centro-Oeste. É que se aumenta o uso dos chuveiros elétricos e, principalmente, do ar-condicionado. Esse aumento virá sobre os 60.286 megawatts médios consumidos em setembro e que representaram crescimento de 1,3% em comparação com setembro de 2013.
Ontem, o Ministério de Minas e Energia (MME), ao confirmar a entrada em vigor do horário de verão no próximo domingo, revelou mais uma perda milionária que o país terá em razão da seca e por não ter sido capaz de ampliar a capacidade de aumentar a oferta hidrelétrica. O horário de verão terá seis dias a mais, por causa do carnaval, mas fará uma economia bem menor do que a de anos anteriores.
Convertida em dinheiro, com base no custo médio atual da energia elétrica a ser consumida até 22 de fevereiro de 2015, a economia não deverá ir além de R$ 278 milhões. Significa uma perda de 30,5% (R$ 122 milhões) em relação aos R$ 400 milhões economizados em 2013. Isso porque a queda de geração pelas hidrelétricas, em razão da falta de chuvas, vai obrigar o sistema a manter em operação as usinas térmicas, mais caras e mais poluidoras.
Motivos não faltam, portanto, para o governo deslanchar uma campanha de redução do consumo, criando estímulos na conta de luz e adotando medidas de racionalização. O que falta é coragem política.
16 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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