Ao contrário do que diz a campanha de Dilma, não houve vazamento nem finalidade eleitoreira na divulgação dos depoimentos da Lava Jato
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff não tem gostado de ver o conteúdo dos explosivos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, presos na Operação Lava Jato, correndo na boca do povo.
Mas ela parece mais abalada com o fato de as gravações estarem à disposição do público e da imprensa que com o seu conteúdo propriamente dito, o que levou sua campanha a apelar para a desinformação.
Michel Temer, atual vice-presidente e companheiro de chapa de Dilma, disse que houve “vazamento”. Edinho Silva, chefe da campanha petista, falou em “vale-tudo sem precedentes”. A própria Dilma insinuou que a divulgação dos depoimentos, entre o primeiro e o segundo turnos, teria motivações eleitorais. Os dois acusados, é bom lembrar, fazem parte do coração do esquema de corrupção na Petrobras, transformado em peça central dos debates durante a presente campanha eleitoral. Entre outras coisas, eles disseram à Justiça que os contratos feitos pela Petrobras rendiam um pedágio de 3%, divididos entre o PT, o PMDB (de Temer) e o PP.
De fato, são raríssimos os episódios em que as gravações de interrogatórios de suspeitos de participação em crimes visando a instruir processos em curso tenham a repercussão que tiveram os depoimentos da Lava Jato.
Mas houve vazamento? Teriam as autoridades infringido normas que as impediriam de fazer a divulgação?
A resposta foi dada pela própria Justiça Federal (que julga o caso), pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, atores importantes na investigação e nas denúncias do cada vez mais monstruoso escândalo de desvio de verbas que solapava as finanças da Petrobras. Segundo tais instituições, o processo que levou os dois depoentes a um novo interrogatório não corre sob segredo de Justiça, nem está protegido pelas regras da delação premiada. Portanto, não se cometeu ilegalidade alguma.
Outro olhar a ser lançado diz respeito ao interesse público intrínseco à questão. Não há a menor sombra de dúvida de que se trata de um assunto sobre o qual a sociedade detém o mais absoluto direito de conhecer.
Não se pode meter a mão no dinheiro público, desviando-o para fins criminosos, e, ao mesmo tempo, se pretender que a delinquência e os delinquentes sejam protegidos pelo silêncio.
Este é o primeiro passo para a impunidade e para que fatos semelhantes se repitam indefinidamente.
Se a repercussão do caso se dá exatamente às vésperas da eleição, o que se há de fazer? Os interrogatórios tomados e gravados já estavam agendados havia muito tempo para a data em que foram realizados, semanas antes do primeiro turno, quando nem sequer se sabia que confronto se daria no segundo turno.
Ademais, os processos – ainda mais quando envolvem réus presos preventivamente – têm prazos céleres a cumprir. Logo, não procede a afirmação de que foi proposital e politicamente motivada a marcação da audiência para o período de campanha do segundo turno. Diante de tudo isso, soa absolutamente condenável e impertinente, beirando a irresponsabilidade, a afirmação de Dilma segundo a qual a divulgação das gravações é um “golpe” – insinuando que as autoridades judiciais ou a imprensa estariam agredindo as instituições democráticas.
Outro episódio da guerra de desinformação em relação à Petrobras se verifica quando Dilma segue afirmando, inclusive em horário político na televisão, ter demitido Costa. Ainda antes do primeiro turno, o jornal O Globo mostrou, com a ata de uma reunião do Conselho de Administração da Petrobras, que Costa renunciou (ainda que com certa pressão do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, para que entregasse o cargo, segundo depoimento do ex-diretor à CPI da Petrobras), e ainda ouviu elogios dos conselheiros aos bons serviços prestados por ele à companhia.
A campanha de Aécio Neves, como era de se imaginar, vem aproveitando o escândalo da Petrobras; Dilma, entre correr das denúncias e tentar fazê-las reverter em seu favor, escolheu a segunda opção, o que é um direito seu.
Mas, ao maltratar a verdade, acaba desrespeitando o brasileiro eleitor.
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff não tem gostado de ver o conteúdo dos explosivos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, presos na Operação Lava Jato, correndo na boca do povo.
Mas ela parece mais abalada com o fato de as gravações estarem à disposição do público e da imprensa que com o seu conteúdo propriamente dito, o que levou sua campanha a apelar para a desinformação.
Michel Temer, atual vice-presidente e companheiro de chapa de Dilma, disse que houve “vazamento”. Edinho Silva, chefe da campanha petista, falou em “vale-tudo sem precedentes”. A própria Dilma insinuou que a divulgação dos depoimentos, entre o primeiro e o segundo turnos, teria motivações eleitorais. Os dois acusados, é bom lembrar, fazem parte do coração do esquema de corrupção na Petrobras, transformado em peça central dos debates durante a presente campanha eleitoral. Entre outras coisas, eles disseram à Justiça que os contratos feitos pela Petrobras rendiam um pedágio de 3%, divididos entre o PT, o PMDB (de Temer) e o PP.
De fato, são raríssimos os episódios em que as gravações de interrogatórios de suspeitos de participação em crimes visando a instruir processos em curso tenham a repercussão que tiveram os depoimentos da Lava Jato.
Mas houve vazamento? Teriam as autoridades infringido normas que as impediriam de fazer a divulgação?
A resposta foi dada pela própria Justiça Federal (que julga o caso), pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, atores importantes na investigação e nas denúncias do cada vez mais monstruoso escândalo de desvio de verbas que solapava as finanças da Petrobras. Segundo tais instituições, o processo que levou os dois depoentes a um novo interrogatório não corre sob segredo de Justiça, nem está protegido pelas regras da delação premiada. Portanto, não se cometeu ilegalidade alguma.
Outro olhar a ser lançado diz respeito ao interesse público intrínseco à questão. Não há a menor sombra de dúvida de que se trata de um assunto sobre o qual a sociedade detém o mais absoluto direito de conhecer.
Não se pode meter a mão no dinheiro público, desviando-o para fins criminosos, e, ao mesmo tempo, se pretender que a delinquência e os delinquentes sejam protegidos pelo silêncio.
Este é o primeiro passo para a impunidade e para que fatos semelhantes se repitam indefinidamente.
Se a repercussão do caso se dá exatamente às vésperas da eleição, o que se há de fazer? Os interrogatórios tomados e gravados já estavam agendados havia muito tempo para a data em que foram realizados, semanas antes do primeiro turno, quando nem sequer se sabia que confronto se daria no segundo turno.
Ademais, os processos – ainda mais quando envolvem réus presos preventivamente – têm prazos céleres a cumprir. Logo, não procede a afirmação de que foi proposital e politicamente motivada a marcação da audiência para o período de campanha do segundo turno. Diante de tudo isso, soa absolutamente condenável e impertinente, beirando a irresponsabilidade, a afirmação de Dilma segundo a qual a divulgação das gravações é um “golpe” – insinuando que as autoridades judiciais ou a imprensa estariam agredindo as instituições democráticas.
Outro episódio da guerra de desinformação em relação à Petrobras se verifica quando Dilma segue afirmando, inclusive em horário político na televisão, ter demitido Costa. Ainda antes do primeiro turno, o jornal O Globo mostrou, com a ata de uma reunião do Conselho de Administração da Petrobras, que Costa renunciou (ainda que com certa pressão do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, para que entregasse o cargo, segundo depoimento do ex-diretor à CPI da Petrobras), e ainda ouviu elogios dos conselheiros aos bons serviços prestados por ele à companhia.
A campanha de Aécio Neves, como era de se imaginar, vem aproveitando o escândalo da Petrobras; Dilma, entre correr das denúncias e tentar fazê-las reverter em seu favor, escolheu a segunda opção, o que é um direito seu.
Mas, ao maltratar a verdade, acaba desrespeitando o brasileiro eleitor.
16 de outubro de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
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