A queda de avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff na última pesquisa CNI/Ibope cria dúvidas sobre suas chances de reeleição no pleito deste ano. Análises de eleições passadas para presidente e governador, desde a introdução do instituto da reeleição no país, em 1998, mostram que, considerando a avaliação dos candidatos e a sua transformação em votos, a presidente teria de 40% a 43% de chances de ser reeleita, caso o pleito fosse realizado hoje.
Nos Estados Unidos, são comuns as pesquisas que procuram verificar as chances de ocupantes de cargos executivos a partir da avaliação de seus governos. No Brasil, quem está fazendo isso pela primeira vez é o cientista político Alberto Carlos de Almeida, fundador do Instituto Análise.
Num trabalho exaustivo sobre 104 eleições para governador ocorridas entre 1998 e 2010, Almeida constatou que, em 100% dos casos, os governadores que disputaram a reeleição e que, na última pesquisa antes do primeiro turno, tinham 46% ou mais de aprovação (soma de ótimo e bom) saíram vitoriosos. Descobriu também que 100% daqueles que tinham 34% ou menos de ótimo e bom foram derrotados.
Os números mostram, ainda, que 40% a 43% dos governadores que possuíam avaliação de ótimo e bom entre 35% e 45% foram reeleitos. "A derrota é um pouco mais frequente nesta faixa de avaliação", explica Almeida.
Há três possibilidades para os candidatos que buscam a reeleição. A releição "clássica", em que o governador é eleito uma vez e quatro anos depois disputa a reeleição; a reeleição "manca", em que o governador que disputa a reeleição não foi eleito quatro anos antes, mas assumiu o posto no meio do mandato porque o titular deixou o posto para disputar outro cargo ou então faleceu; e a "não releição", quando o governador não busca a reeleição.
Nos 104 pleitos analisados por Almeida, registraram-se 46 casos de reeleição "clássica", 22 de reeleição "manca" e 35 de não reeleição. Uma transposição da experiência dos governadores para a situação da presidente Dilma mostra que seu patamar de ótimo e bom neste momento - 36%, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope - a coloca com aproximadamente 40% a 43% de chances de vitória em outubro. É pouco para quem já teve o governo aprovado por 63% da população (em março de 2013).
Há, porém, ponderações a serem feitas. A primeira, observa Alberto Carlos de Almeida, é que a avaliação do governo Dilma pode melhorar até a última pesquisa antes do primeiro turno da eleição, em outubro, tal como ocorreu na reeleição de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
No início da campanha eleitoral de 1998, Fernando Henrique tinha seu governo avaliado como ótimo e bom por 38% da população. Durante a campanha, a avaliação melhorou, subindo cinco pontos percentuais (para 43%). O presidente liquidou a fatura no primeiro turno da eleição.
Em 2006, Lula começou a campanha com sua gestão avaliada como ótima e boa igualmente por 38% da população. A avaliação ao longo da campanha cresceu mais que a de FHC em 1998, chegando a 47% dos entrevistados na pequisa realizada antes do primeiro turno da eleição. Lula venceu a disputa, mas, curiosamente, apenas no segundo turno.
Dilma tem, agora, avaliação pior que a de FHC e Lula, mas ainda está a seis meses da eleição. A presidente tem, portanto, chance de melhorar o desempenho nas pesquisas de avaliação de sua gestão, embora também haja espaço para piora até outubro.
Esta coluna apurou que, desde as manifestações populares iniciadas em meados do ano passado, quando a presidente sofreu forte perda de popularidade, petistas próximos a Lula passaram a considerar a possibilidade de o ex-presidente substituir Dilma na disputa deste ano. O movimento "Volta, Lula" seria deflagrado a partir da queda da avaliação de ótimo e bom do governo abaixo de 35%. A preocupação evidente é com a manutenção do projeto de poder do PT, que estaria correndo risco.
De fato, acendeu-se a luz amarela no Palácio do Planalto. A pesquisa CNI/Ibope revelou que o governo está sendo reprovado pela população em temas como inflação, juros, educação, saúde e, pasmem, emprego (o que não deixa de ser curioso, uma vez que o mercado de trabalho opera próximo do pleno emprego). A questão é saber se ainda há tempo, até a eleição, para o governo melhorar a avaliação de alguns desses itens e se há, de fato, disposição da presidente para promover mudanças a esta altura.
Do lado positivo, isto é, daquilo que pode de alguma forma melhorar a avaliação da gestão Dilma, está o fato de o Brasil, apesar do desempenho pífio da economia nos últimos anos, não estar em crise. E provavelmente não será atingido por uma nos próximos meses, salvo se houver uma catástrofe inesperada. 2014 não repete o cenário de 2002, quando o país sofreu uma crise cambial e esteve à beira de dar um calote no pagamento da dívida.
Do lado dos riscos, estão o aumento da inflação, especialmente de itens como alimentos, que pesam no bolso principalmente dos mais pobres, e uma possível crise de abastecimento de energia. Esses riscos surgem no momento em que já há um mau humor com o governo, disseminado não só entre empresários e banqueiros, mas também na própria população, como atestou a pesquisa CNI/Ibope.
Almeida acredita que a bola do jogo está com a presidente. Nos últimos meses, ela reconheceu tacitamente o fracasso dos experimentos do governo na área econômica, mudou em parte o rumo das coisas, mas não reconquistou a confiança, fato que está refletido nos principais preços da economia, nas expectativas de inflação deterioradas e no baixo interesse dos empresários em investir.
"Tenho dito para todos que a avaliação da presidente está no limbo: se piora um pouco é o inferno, se melhora um pouco é o céu. Só depende dela", diz Almeida, lembrando que limbo vem da palavra em latim que significa beira, borda.
É importante observar que, neste momento, as pesquisas de avaliação do governo são mais relevantes que as de intenção de voto. A razão é simples: afora a presidente, os contendores - até aqui, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - ainda são desconhecidos da população, nada que uma campanha não possa mudar ao longo do tempo.
Nos Estados Unidos, são comuns as pesquisas que procuram verificar as chances de ocupantes de cargos executivos a partir da avaliação de seus governos. No Brasil, quem está fazendo isso pela primeira vez é o cientista político Alberto Carlos de Almeida, fundador do Instituto Análise.
Num trabalho exaustivo sobre 104 eleições para governador ocorridas entre 1998 e 2010, Almeida constatou que, em 100% dos casos, os governadores que disputaram a reeleição e que, na última pesquisa antes do primeiro turno, tinham 46% ou mais de aprovação (soma de ótimo e bom) saíram vitoriosos. Descobriu também que 100% daqueles que tinham 34% ou menos de ótimo e bom foram derrotados.
Os números mostram, ainda, que 40% a 43% dos governadores que possuíam avaliação de ótimo e bom entre 35% e 45% foram reeleitos. "A derrota é um pouco mais frequente nesta faixa de avaliação", explica Almeida.
Há três possibilidades para os candidatos que buscam a reeleição. A releição "clássica", em que o governador é eleito uma vez e quatro anos depois disputa a reeleição; a reeleição "manca", em que o governador que disputa a reeleição não foi eleito quatro anos antes, mas assumiu o posto no meio do mandato porque o titular deixou o posto para disputar outro cargo ou então faleceu; e a "não releição", quando o governador não busca a reeleição.
Nos 104 pleitos analisados por Almeida, registraram-se 46 casos de reeleição "clássica", 22 de reeleição "manca" e 35 de não reeleição. Uma transposição da experiência dos governadores para a situação da presidente Dilma mostra que seu patamar de ótimo e bom neste momento - 36%, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope - a coloca com aproximadamente 40% a 43% de chances de vitória em outubro. É pouco para quem já teve o governo aprovado por 63% da população (em março de 2013).
Há, porém, ponderações a serem feitas. A primeira, observa Alberto Carlos de Almeida, é que a avaliação do governo Dilma pode melhorar até a última pesquisa antes do primeiro turno da eleição, em outubro, tal como ocorreu na reeleição de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
No início da campanha eleitoral de 1998, Fernando Henrique tinha seu governo avaliado como ótimo e bom por 38% da população. Durante a campanha, a avaliação melhorou, subindo cinco pontos percentuais (para 43%). O presidente liquidou a fatura no primeiro turno da eleição.
Em 2006, Lula começou a campanha com sua gestão avaliada como ótima e boa igualmente por 38% da população. A avaliação ao longo da campanha cresceu mais que a de FHC em 1998, chegando a 47% dos entrevistados na pequisa realizada antes do primeiro turno da eleição. Lula venceu a disputa, mas, curiosamente, apenas no segundo turno.
Dilma tem, agora, avaliação pior que a de FHC e Lula, mas ainda está a seis meses da eleição. A presidente tem, portanto, chance de melhorar o desempenho nas pesquisas de avaliação de sua gestão, embora também haja espaço para piora até outubro.
Esta coluna apurou que, desde as manifestações populares iniciadas em meados do ano passado, quando a presidente sofreu forte perda de popularidade, petistas próximos a Lula passaram a considerar a possibilidade de o ex-presidente substituir Dilma na disputa deste ano. O movimento "Volta, Lula" seria deflagrado a partir da queda da avaliação de ótimo e bom do governo abaixo de 35%. A preocupação evidente é com a manutenção do projeto de poder do PT, que estaria correndo risco.
De fato, acendeu-se a luz amarela no Palácio do Planalto. A pesquisa CNI/Ibope revelou que o governo está sendo reprovado pela população em temas como inflação, juros, educação, saúde e, pasmem, emprego (o que não deixa de ser curioso, uma vez que o mercado de trabalho opera próximo do pleno emprego). A questão é saber se ainda há tempo, até a eleição, para o governo melhorar a avaliação de alguns desses itens e se há, de fato, disposição da presidente para promover mudanças a esta altura.
Do lado positivo, isto é, daquilo que pode de alguma forma melhorar a avaliação da gestão Dilma, está o fato de o Brasil, apesar do desempenho pífio da economia nos últimos anos, não estar em crise. E provavelmente não será atingido por uma nos próximos meses, salvo se houver uma catástrofe inesperada. 2014 não repete o cenário de 2002, quando o país sofreu uma crise cambial e esteve à beira de dar um calote no pagamento da dívida.
Do lado dos riscos, estão o aumento da inflação, especialmente de itens como alimentos, que pesam no bolso principalmente dos mais pobres, e uma possível crise de abastecimento de energia. Esses riscos surgem no momento em que já há um mau humor com o governo, disseminado não só entre empresários e banqueiros, mas também na própria população, como atestou a pesquisa CNI/Ibope.
Almeida acredita que a bola do jogo está com a presidente. Nos últimos meses, ela reconheceu tacitamente o fracasso dos experimentos do governo na área econômica, mudou em parte o rumo das coisas, mas não reconquistou a confiança, fato que está refletido nos principais preços da economia, nas expectativas de inflação deterioradas e no baixo interesse dos empresários em investir.
"Tenho dito para todos que a avaliação da presidente está no limbo: se piora um pouco é o inferno, se melhora um pouco é o céu. Só depende dela", diz Almeida, lembrando que limbo vem da palavra em latim que significa beira, borda.
É importante observar que, neste momento, as pesquisas de avaliação do governo são mais relevantes que as de intenção de voto. A razão é simples: afora a presidente, os contendores - até aqui, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - ainda são desconhecidos da população, nada que uma campanha não possa mudar ao longo do tempo.
02 de abril de 2014
Cristiano Romero, Valor Econômico
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