Meu comentário para o Globo a Mais de ontem foi sobre a estratégia do candidato tucano para enfrentar a ameaça da candidatura Lula, tida pelo senso comum como imbatível. Comentei que ao tratar abertamente da possibilidade de o ex-presidente Lula vir a disputar a Presidência da República já este ano, em lugar de Dilma, o senador Aécio Neves atacou dois problemas de uma vez só: ao mesmo tempo em que enfraquece sua provável adversária direta, que continua sendo a candidata natural do PT mesmo com as dificuldades de seu governo, trata de esconjurar o fantasma da candidatura Lula, vista pelos petistas como a bomba atômica que o PT tem para acabar com a guerra em caso de necessidade.
Dizer que não importa se o candidato será Lula ou Dilma, e sim derrotar o modelo de governo que representam, significa que a candidatura do PSDB terá seu foco em um projeto de governo, e não na mera disputa política que confronta petistas e tucanos desde 1994.
Deste modo, derrotar o mito em que Lula se transformou na eleição presidencial seria uma consequência do convencimento do eleitorado de que o tempo do PT já se esgotou. O presidente do PSDB vem aumentando o tom de suas críticas ao governo nos últimos meses, e trabalha nos bastidores do Congresso para causar danos ao Planalto nesta reta final da pré-campanha.
A CPI da Petrobras foi uma vitória sua, desde a mobilização da pequena oposição parlamentar até o convencimento de aliados governistas a aderirem à convocação. A atuação conjunta com o PSB, inicialmente refratário à ideia da CPI, mostra que tanto Aécio quanto Eduardo Campos estão convencidos de que dependem um do outro para chegarem à vitória, mesmo que um imagine que derrotará o outro no primeiro turno.
O governador Eduardo Campos já desenvolveu a tese de que o eleitor fará um voto útil nele, pois intuirá que tem mais chance de vencer o segundo turno que Aécio. Por um raciocínio que à primeira vista parece lógico, ele diz que os eleitores de Aécio o apoiarão em massa num hipotético segundo turno, enquanto seu eleitorado pode se dividir, muitos voltando para a candidatura governista.
As pesquisas de opinião, no entanto, estão mostrando um quadro diferente, com o candidato do PSDB recebendo mais apoio dos eleitores de Dilma do que Eduardo Campos, o que mostra que o eleitor não trabalha com uma lógica binária oposição versus situação. O movimento do eleitorado é muito mais aleatório do que se imagina, e mesmo o apoio ostensivo num segundo turno não garante a adesão total daquele eleitorado.
Na eleição de 2010, por exemplo, mesmo Marina tendo ficado em cima do muro, a maior parte de seus eleitores foi para a candidatura do tucano José Serra. O analista do Estadão , jornalista José Roberto Toledo, fez recentemente uma decomposição das pesquisas do Ibope mostrando que teoricamente metade do eleitorado de Dilma é passível de mudar o voto em favor de Aécio, sendo que um em cada quatro eleitores que dizem que votariam em Dilma com certeza também diz que votaria em Aécio.
Com Campos, porém, as sobreposições são menores, apenas 17% do eleitorado dilmista dizem que votariam ou poderiam votar nele. Tudo dependerá da situação da economia e de como os candidatos de oposição se comportarão na propaganda de rádio e TV.
Lula sem dúvida é um grande cabo eleitoral, mas mesmo no auge da popularidade, e com a economia crescendo a 7,5% em 2010, teve dificuldades de emplacar Dilma como a grande gerente, mãe do PAC. Sua vitória sobre Serra deu-se por 56% a 44% no 2º turno, aumentando a média dos candidatos tucanos, demonstrando que há um grupo de mais de 40% do eleitorado disposto a votar na oposição, seja qual for o candidato.
Hoje, com o país tendo o menor crescimento dos últimos 20 anos e, sobretudo, conhecendo Dilma como os brasileiros já a conhecem, a tarefa parece mais difícil. Caso se torne praticamente impossível, a arma (nada) secreta petista deverá ser acionada. Mas o próprio Lula deve levar uma questão em conta ao analisar a possível candidatura: uma imprevisível derrota acabaria com o mito. Um governo mal-sucedido diante das dificuldades econômicas previstas também.
02 de abril de 2014
Merval Pereira, O Globo
Dizer que não importa se o candidato será Lula ou Dilma, e sim derrotar o modelo de governo que representam, significa que a candidatura do PSDB terá seu foco em um projeto de governo, e não na mera disputa política que confronta petistas e tucanos desde 1994.
Deste modo, derrotar o mito em que Lula se transformou na eleição presidencial seria uma consequência do convencimento do eleitorado de que o tempo do PT já se esgotou. O presidente do PSDB vem aumentando o tom de suas críticas ao governo nos últimos meses, e trabalha nos bastidores do Congresso para causar danos ao Planalto nesta reta final da pré-campanha.
A CPI da Petrobras foi uma vitória sua, desde a mobilização da pequena oposição parlamentar até o convencimento de aliados governistas a aderirem à convocação. A atuação conjunta com o PSB, inicialmente refratário à ideia da CPI, mostra que tanto Aécio quanto Eduardo Campos estão convencidos de que dependem um do outro para chegarem à vitória, mesmo que um imagine que derrotará o outro no primeiro turno.
O governador Eduardo Campos já desenvolveu a tese de que o eleitor fará um voto útil nele, pois intuirá que tem mais chance de vencer o segundo turno que Aécio. Por um raciocínio que à primeira vista parece lógico, ele diz que os eleitores de Aécio o apoiarão em massa num hipotético segundo turno, enquanto seu eleitorado pode se dividir, muitos voltando para a candidatura governista.
As pesquisas de opinião, no entanto, estão mostrando um quadro diferente, com o candidato do PSDB recebendo mais apoio dos eleitores de Dilma do que Eduardo Campos, o que mostra que o eleitor não trabalha com uma lógica binária oposição versus situação. O movimento do eleitorado é muito mais aleatório do que se imagina, e mesmo o apoio ostensivo num segundo turno não garante a adesão total daquele eleitorado.
Na eleição de 2010, por exemplo, mesmo Marina tendo ficado em cima do muro, a maior parte de seus eleitores foi para a candidatura do tucano José Serra. O analista do Estadão , jornalista José Roberto Toledo, fez recentemente uma decomposição das pesquisas do Ibope mostrando que teoricamente metade do eleitorado de Dilma é passível de mudar o voto em favor de Aécio, sendo que um em cada quatro eleitores que dizem que votariam em Dilma com certeza também diz que votaria em Aécio.
Com Campos, porém, as sobreposições são menores, apenas 17% do eleitorado dilmista dizem que votariam ou poderiam votar nele. Tudo dependerá da situação da economia e de como os candidatos de oposição se comportarão na propaganda de rádio e TV.
Lula sem dúvida é um grande cabo eleitoral, mas mesmo no auge da popularidade, e com a economia crescendo a 7,5% em 2010, teve dificuldades de emplacar Dilma como a grande gerente, mãe do PAC. Sua vitória sobre Serra deu-se por 56% a 44% no 2º turno, aumentando a média dos candidatos tucanos, demonstrando que há um grupo de mais de 40% do eleitorado disposto a votar na oposição, seja qual for o candidato.
Hoje, com o país tendo o menor crescimento dos últimos 20 anos e, sobretudo, conhecendo Dilma como os brasileiros já a conhecem, a tarefa parece mais difícil. Caso se torne praticamente impossível, a arma (nada) secreta petista deverá ser acionada. Mas o próprio Lula deve levar uma questão em conta ao analisar a possível candidatura: uma imprevisível derrota acabaria com o mito. Um governo mal-sucedido diante das dificuldades econômicas previstas também.
02 de abril de 2014
Merval Pereira, O Globo
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