A ideia ganha consistência quando se puxam para o cenário as manifestações turbulentas em várias cidades do mundo. Ressentem-se todos das instituições políticas, que não conseguem dar vazão às demandas sociais, e brandem a arma do ódio contra o outro, o estrangeiro, notadamente a comunidade muçulmana. Há quem garanta que a Europa vive um impasse: deixar de ser caixa de ressonância das liberdades para se transformar em bastião do autoritarismo.
O discurso do Ocidente, com seus tradicionais sermões, já não afeta interlocutores e parceiros como no passado. O fato é que a última crise econômica serviu para pôr mais lenha na fogueira que consome o Estado de bem-estar social. Os partidos de esquerda, ao longo de décadas, tentaram repaginar o modelo, experimentando fórmulas e resgatando novas abordagens. Com poucas exceções, não têm sido bem-sucedidos.
Resultado dos conflitos: fortalecimento das correntes de extrema direita em muitos países.
A perplexidade se instala. Quem poderia imaginar que os terrenos da velha democracia europeia fossem acolher novamente a poeira do deserto da restrição de direitos?
NEONAZISTAS
Os exércitos “nacionalistas-protecionistas” multiplicam-se nos partidos políticos e agora nas redes sociais, nas quais um grupo chega a se autodenominar “Adolf-adoradores Neandertais”. O discurso segregacionista se adensa enquanto declina a força dos partidos que sustentam os pilares da social-democracia; as lideranças, mesmo em rodízio, não conseguem tapar os buracos abertos pela crise econômica.
E, assim, germina nas praças das grandes cidades o vírus de um tipo de violência diferente dos eventos tradicionais (roubos, assaltos e assassinatos deles decorrentes): a violência dos conflitos étnicos e dos choques civilizacionais. Para as agremiações da direita radical, o Islã e os muçulmanos simbolizam o mesmo papel de “ameaça externa” que Hitler associava aos judeus. Comparação extravagante e sem sentido.
A propósito, a imagem desse truculento e fanático cabo que se vestiu de ditador para ser o maior facínora da história contemporânea veio a público na semana passada, por ocasião do evento em memória do Holocausto realizado no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Comovidos, ex-prisioneiros dos campos de concentração desfilavam as agruras por que passaram. Um horror! A rememoração do Holocausto é uma maneira de puxar o passado para o presente, fato importante para alargar as avenidas do futuro.
Imaginar que por esse mundão afora haja fanáticos que ainda hoje aplaudem um dos maiores genocídios da história é apostar na hipótese de Samuel P. Huntington: nas esquinas do mundo desenha-se o paradigma do “puro caos”.
(transcrito de O Tempo)
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