Analistas estão mais preocupados com moderação de gastos pelo governo do que com escolha de Caffarelli
Vice do Banco do Brasil é nome desconhecido entre operadores, o que pode dificultar a troca de informações
Passou praticamente em branco no mercado financeiro a indicação do vice-presidente do Banco do Brasil Paulo Rogério Caffarelli para o segundo posto mais importante do Ministério da Fazenda.
Como a Folha revelou anteontem, o executivo assumirá o cargo de secretário-executivo do ministro Guido Mantega com a missão de melhorar a comunicação com o mercado e o setor privado.
Operadores e analistas elogiaram a iniciativa, mas afirmam desconhecer o interlocutor e o que ele pensa sobre a política econômica, o que pode não ajudar muito a melhorar a troca de informações com o mercado financeiro.
Caffarelli é graduado em direito e funcionário de carreira do banco estatal. Mas é um ilustre desconhecido nas mesas de operação financeira.
"Como veio da área de crédito do Banco do Brasil, ele pode conhecer empresas, mas, para o mercado, o diálogo não muda muito", disse o sócio de uma gestora de recursos, que pediu sigilo.
Para analistas, mais do que ao mensageiro, os ouvidos do mercado estão atentos às mensagens.
A mais esperada delas é a economia que o governo deve fazer em suas despesas neste ano. O anúncio é aguardado para a semana que vem.
Agências de classificação de risco e analistas esperam que o governo indique que vai moderar seus gastos, a fim de evitar um rebaixamento da nota de crédito do país.
A iniciativa poderia contribuir ainda para esfriar o consumo e ajudar o Banco Central a controlar a inflação e evitar aumentos dos juros.
Além da sinalização, porém, o mercado quer saber como o governo ajustará suas contas, diante de um crescimento econômico ainda baixo e que tende a deprimir a arrecadação de impostos.
Manobras recentes feitas pelo governo para fechar as contas deixaram analistas desconfiados.
"Se chamaram o Cafarelli na esperança de que ele vá convencer o mercado, estão perdendo tempo. A essa altura, mesmo que ele seja muito competente, a demanda por mudanças passa por muito mais do que trocar a secretaria-executiva", disse Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Ontem, no dia seguinte à notícia, a Bolsa subiu 2,39% e o dólar à vista recuou 0,69%, para R$ 2,385. Mas operadores atribuem a maré positiva a um movimento global de otimismo com os EUA. Outro fator foi a alta de ações de empresas de energia.
"A nomeação é neutra. A intenção do governo é melhorar seu relacionamento com o mercado financeiro, mas isso não vai acontecer dessa forma. Só diante de resultados concretos e medidas efetivas o mercado só passará a ver melhor o governo", disse Júlio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho.
07 de fevereiro de 2014
MARIANA CARNEIRO ANDERSON FIGO - FOLHA DE SÃO PAULO
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