Informação contraria o governo brasileiro, que apresentou o programa Mais Médicos como uma resposta às manifestações de junho de 2013
A médica cubana Ramona Rodríguez, que abandonou o programa Mais Médicos, afirmou que começou a se preparar para vir ao Brasil em novembro de 2012, quando o Ministério da Saúde de Cuba anunciou a parceria com o governo brasileiro.
Desde então, ela passou por dois cursos de português e um específico para as enfermidades brasileiras. Os detalhes do contrato de trabalho, porém, só foram conhecidos três dias antes de desembarcar em Brasília, em outubro do ano passado.
A informação de que Ramona planejava trabalhar no Brasil há mais de um ano contraria o governo brasileiro, que jamais detalhou o formato de contratação dos cubanos e apresentou diversas versões sobre a vinda de profissionais estrangeiros.
Em maio do ano passado, o ex-ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota chegou a anunciar a vinda de 6.000 cubanos, mas o governo brasileiro negou e disse que a prioridade seria trazer médicos portugueses e espanhóis. Três meses depois, os primeiros cubanos chegaram. O Mais Médicos foi apresentado aos brasileiros como uma resposta às manifestações de junho pela melhora na saúde pública do país.
“O ministério cubano nos chamou em novembro de 2012. Disseram que nós tínhamos de fazer um curso de português, de doenças tropicais e de tipos que não estão em Cuba. Anunciaram que iam fazer um programa para levar médicos para o Brasil e que todos os interessados poderiam participar”, disse Ramona. A cubana apresentou certificado de conclusão do curso “Preparação colaboração para o Brasil”, datado de fevereiro de 2013, de 224 horas-aula.
Apesar de toda a preparação, Ramona afirmou que não sabia detalhes sobre o contrato no Brasil. “Da nossa vida não falavam nada. Tivemos uma reunião em janeiro de 2013, com representantes do Ministério da Saúde de Cuba, quando nos falaram sobre o projeto. Disseram que iam visitar os postos brasileiros e avaliar se eles teriam condições. Todos perguntaram quanto ganharíamos, mas não tinham autorização para falar”, afirmou Ramona.
Somente três dias antes de vir para o Brasil Ramona assinou o contrato com a Sociedade Mercantil Comercializadora de Serviços Cubanos, onde estava previsto o pagamento de 1.000 dólares por mês — 400 dólares pagos diretamente a ela e outros 600 dólares a serem depositados em uma conta em Cuba. Ramona, porém, não teve acesso a nenhuma conta e disse acreditar que não vai reaver esse dinheiro. Ela quer que o Mais Médicos a reembolse em cerca de 36.000 reais — diferença entre o que os profissionais do programa receberam, no valor de 10.000 reais mensais, e o que ela recebeu nos últimos quatro meses.
Ramona fugiu da cidade paraense de Pacajá no último sábado alegando ter sido “enganada” pelo governo brasileiro. Ao chegar a Brasília, ela procurou a embaixada americana. Os Estados Unidos possuem um programa que abriga médicos desertores. Ramona também entrou em contato com o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos principais opositores ao Mais Médicos no Congresso.
Após passar uma noite no gabinete da liderança do DEM na Câmara dos Deputados, a cubana agora está morando no apartamento do deputado Abelardo Lupion (DEM-PR). Ela recebeu o refúgio provisório e nesta sexta-feira vai retirar a carteira de trabalho. A Associação Médica Brasileira ofereceu emprego à cubana.
07 de fevereiro de 2014
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