De acordo com alguns modelos da ciência política, isso já deveria ter ocorrido
Os sinais de que o regime chavista fracassou não poderiam ser mais evidentes. Estão presentes em tudo, dos indicadores macroeconômicos em colapso, às prateleiras vazias dos supermercados, e encontram expressão visceral no aumento da desnutrição e na regressão epidemiológica por que passa o país. Quando pais abandonam seus filhos em orfanatos na esperança de que lá sejam alimentados, sabemos que algo deu muito errado.
Por que então a população não se rebelou e pôs o ditador para correr?
De acordo com alguns modelos da ciência política, isso já deveria ter ocorrido. Muitas das autocracias contemporâneas só sobrevivem porque conseguem entregar alguma prosperidade à população, que, num barganha tácita, deixa de questionar a falta de liberdade política ou mesmo a repressão. É o caso da Rússia de Putin, da Turquia de Erdogan e até da China do Partido Comunista. Foi também, durante algum tempo, a situação da Venezuela sob Hugo Chávez.
Hoje, porém, não há mais traço da prosperidade; ao contrário, a vida dos venezuelanos tornou-se um inferno, mas o governo ainda resiste. Ao que tudo indica, o regime, que capturou as instituições e tem o apoio de setores minoritários da população e do aparato militar, encontrou um ponto de equilíbrio de baixo desempenho, sob o qual a maioria dos venezuelanos que quer se livrar de Maduro não consegue coordenar suas ações para obter esse resultado.
O que está faltando para romper o ciclo é alguma faísca que deflagre a sincronização, isto é, que sirva de senha para que as pessoas-chavesque ainda sustentam o governo, mas sabem que não há futuro com Maduro, possam desertar em bloco.
Ela pode assumir formas inesperadas. Na Romênia dos Ceausescus foi o despejo do padre László Tökés; na Tunísia da Primavera Árabe, a autoimolação do vendedor de fruta Mohamed Bouazizi. Vamos aguardar o gatilho venezuelano.
05 de março de 2018
Hélio Schwartsman, Folha de SP
Os sinais de que o regime chavista fracassou não poderiam ser mais evidentes. Estão presentes em tudo, dos indicadores macroeconômicos em colapso, às prateleiras vazias dos supermercados, e encontram expressão visceral no aumento da desnutrição e na regressão epidemiológica por que passa o país. Quando pais abandonam seus filhos em orfanatos na esperança de que lá sejam alimentados, sabemos que algo deu muito errado.
Por que então a população não se rebelou e pôs o ditador para correr?
De acordo com alguns modelos da ciência política, isso já deveria ter ocorrido. Muitas das autocracias contemporâneas só sobrevivem porque conseguem entregar alguma prosperidade à população, que, num barganha tácita, deixa de questionar a falta de liberdade política ou mesmo a repressão. É o caso da Rússia de Putin, da Turquia de Erdogan e até da China do Partido Comunista. Foi também, durante algum tempo, a situação da Venezuela sob Hugo Chávez.
Hoje, porém, não há mais traço da prosperidade; ao contrário, a vida dos venezuelanos tornou-se um inferno, mas o governo ainda resiste. Ao que tudo indica, o regime, que capturou as instituições e tem o apoio de setores minoritários da população e do aparato militar, encontrou um ponto de equilíbrio de baixo desempenho, sob o qual a maioria dos venezuelanos que quer se livrar de Maduro não consegue coordenar suas ações para obter esse resultado.
O que está faltando para romper o ciclo é alguma faísca que deflagre a sincronização, isto é, que sirva de senha para que as pessoas-chavesque ainda sustentam o governo, mas sabem que não há futuro com Maduro, possam desertar em bloco.
Ela pode assumir formas inesperadas. Na Romênia dos Ceausescus foi o despejo do padre László Tökés; na Tunísia da Primavera Árabe, a autoimolação do vendedor de fruta Mohamed Bouazizi. Vamos aguardar o gatilho venezuelano.
05 de março de 2018
Hélio Schwartsman, Folha de SP
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