Na política, as aparências quase sempre enganam. O caso das gravações recuperadas pela Perícia da Polícia Federal é mais um exemplo desta realidade. De início, pensava-se que a delação da JBS seria anulada, as provas não teriam mais nenhum valor, o procurador-geral Rodrigo Janot seria submetido à execração pública e os corruptos iriam para a galera, como dizia “Seu Boneco”. Mas não houve nada disso. A delação pode ser revista, mas não será anulada, as provas continuam valendo e o procurador Janot está fazendo do limão uma limonada, para desespero dos mentores da “Operação Abafa”, que visa a inviabilizar a Lava Jato.
A existência de procuradores corruptos, não traz nenhuma surpresa. Diz o velho ditado que não há santos na Terra, embora se saiba que até existam, como Madre Teresa de Calcutá ou Irmã Dulce. Mas o certo é que nenhuma corporação está imune à corrupção, nem mesmo o Supremo, a Igreja ou as Forças Armadas, como se depreende do chamado “óbvio ululante” criado por Nelson Rodrigues.
FESTEJO APRESSADO – O fato concreto é que os mentores da “Operação Abafa” festejaram intensamente o episódio, espalharam notícias de que todas as delações poderiam ser anuladas, a Lava Jato estaria com seus dias contados, porque até mesmo o juiz Sérgio Moro estaria sob suspeita, foi um festival ensandecido.
Mas no dia seguinte, começa-se a cair na real. É certo que os delatores da JBS sonegaram informações, mas qual é a novidade? Ricardo Pessoa, Otavio Azevedo, Marcelo Odebrecht, todos os ex-diretores da Petrobras, Léo Pinheiro, Alberto Youssef, Pedro Correia, Sergio Machado e tantos outros não fizeram outra coisa. Todo delator só revela o mínimo necessário para se beneficiar, é preciso a força-tarefa colocar pressão sobre cada um deles.
No caso de Joesley Batista, nem foi preciso pressionar, ele próprio se encrencou, porque seus advogados fizeram a burrice de entregar à Procuradoria a gravação apagada que o peritos da Polícia Federal conseguiram restaurar.
RESULTADO POSITIVO – Muitas vezes, o que parece ser negativo acaba se transformando em resultado positivo. É justamente o que está acontecendo com a mancada dos advogados da JBS, porque agora Joesley Batista será obrigado a revelar tudo o que realmente sabe (ou quase tudo, digamos assim). E esse fenômeno pode ter efeito em série, porque muitas delações (ou quase todas, digamos assim) precisam ser revisadas, porque houve muita sonegação de informações, como já ficou patente nos casos da Andrade Gutierrez (Otávio Azevedo) e da Odebrecht, que embromou o quanto pode e só agora está entregando os codinomes da planilha do “Departamento de Propina” (Setor de Operações Estruturadas).
Ao contrário do que o Planalto espera, na gestão de Raquel Dodge a Procuradoria-Geral da República não vai dar refresco. Pelo contrário, deve agir ainda com maior rigor, em função do escândalo do envolvimento dos procuradores Angelo Goulart Villela e Marcelo Miller com a JBS. É consenso no Ministério Público Federal que é preciso mostrar que a atuação dos dois corruptos não afetará a Lava Jato. Nada será como antes, como diziam Ronaldo Bastos e Milton Nascimento, .
NADA MUDOU – De toda forma, foram injustificadas as comemorações dos mentores da “Operação Abafa”, que se apressaram em espalhar que todas as delações serão anuladas e que a Lava Jato já estaria inviabilizada. Na verdade, não mudou nada e agora o empresário Joesley Batista terá de entregar realmente tudo o que sabe. Ou seja, para os envolvidos com a JBS, entre os quais se incluem exatos 1.829 políticos, a situação piorou, ao invés de melhorar.
E na outra ponta fora da curva, vem aí a delação-bomba de Lúcio Funaro, que atinge frontalmente Michel Temer e o chamado ‘quadrilhão” do PMDB, com destaque para o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que nutria uma espécie de fetiche por dinheiro vivo.
Quanto ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao ex-ministro Antonio Palocci, suas delações premiadas voltaram à estaca zero, porque os dois insistem em sonegar informações. Pode ser que agora, em função dos novos depoimentos que Joesley Batista terá de prestar, Cunha e Palocci se animem a revelar toda a verdade, ainda que para eles talvez já seja tarde demais.
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P.S. – Nesta segunda-feira, Palocci foi denunciado mais uma vez por Marcelo Odebrecht, que identificou o ex-ministro como o “Italiano”, apanhador de Lula no campo de centeio da corrupção. E como se sabe, a delação está repetindo a Bíblia – muitos são chamados, mas poucos os escolhidos. (C.N.)
P.S. – Nesta segunda-feira, Palocci foi denunciado mais uma vez por Marcelo Odebrecht, que identificou o ex-ministro como o “Italiano”, apanhador de Lula no campo de centeio da corrupção. E como se sabe, a delação está repetindo a Bíblia – muitos são chamados, mas poucos os escolhidos. (C.N.)
06 de setembro de 2017
Carlos Newton
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