O sistema financeiro foi desenvolvido, originalmente, para ser um meio, e não um fim, isto é, sua função seria a de apoiar e capitalizar a economia real. Mas de uns tempos para cá, a especulação financeira, os ganhos auferidos com um “dinheiro” que não tem lastro palpável, tornaram-se hegemônicos, e a economia real passou a ficar a reboque. Isso é um elemento fundamental de uma crise mundial que não é só econômica, mas social, com o aumento da desigualdade e da exclusão, e também política, com o recrudescimento da extrema direita, do racismo, da xenofobia, da violência etc.
Sobre o inquietante tema, o site Carta Maior entrevistou uma das maiores especialistas mundiais, a auditora brasileira Maria Lucia Fatorelli, que trabalhou na recuperação das economias da Grécia e do Equador.
Como a sra. analisa essa hegemonia do sistema financeiro especulativo e de suas consequências? E qual o papel que a dívida pública desempenharia nessa situação?O atual modelo capitalista entrou em uma fase de financeirização cada dia mais aprofundada. O setor financeiro domina o poder político na maioria dos países, bancando campanhas eleitorais; e ele domina não só o próprio mercado financeiro, como detém a propriedade de empresas estratégicas, adquiridas nos questionáveis processos de privatizações mundo afora. Um importante estudo acadêmico realizado em 2011 (“A rede de controle corporativo global”) revelou a impressionante concentração de poder e propriedade de parte relevante da economia mundial, nas mãos de reduzido grupo de instituições bancárias.
E o que foi constatado?A investigação partiu da amostra composta pelos 43 mil maiores negócios do mundo e descobriu a existência de mais de um milhão de vínculos de propriedades entre eles. Revelou que 40% do controle daqueles 43.000 maiores negócios mundiais estão concentrados nas mãos de apenas 147 instituições proprietárias, que conformam um núcleo altamente conectado entre si. A maioria desse núcleo – 75% – são entidades financeiras, e a propriedade dessas 147 instituições está nas mãos de pouco mais de 50 grandes bancos, que possuem o controle do núcleo. Essa concentração de poder, controle e propriedade dos negócios mundiais nas mãos dos bancos tem permitido a interferência deles em políticas e decisões governamentais estratégicas, concretizada nessa hegemonia financeira que você mencionou.
E a dívida pública, como se encaixa?
A dívida pública tem sido um dos principais alimentos desse capitalismo financeirizado, favorecendo a concentração de renda no setor financeiro e aumentando ainda mais o seu poder. Por isso, o endividamento é um problema presente em quase todos os países capitalistas. No Brasil, estatísticas do próprio Banco Central demonstram que em 2015, apesar da desindustrialização, da queda no comércio, do desemprego e da retração do PIB em quase 4%, o lucro dos bancos alcançou o patamar de R$ 96 bilhões e foi 20% superior ao resultado de 2014.
A dívida pública tem sido um dos principais alimentos desse capitalismo financeirizado, favorecendo a concentração de renda no setor financeiro e aumentando ainda mais o seu poder. Por isso, o endividamento é um problema presente em quase todos os países capitalistas. No Brasil, estatísticas do próprio Banco Central demonstram que em 2015, apesar da desindustrialização, da queda no comércio, do desemprego e da retração do PIB em quase 4%, o lucro dos bancos alcançou o patamar de R$ 96 bilhões e foi 20% superior ao resultado de 2014.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – No caso do Brasil, desde os anos FHC está tudo dominado. No atual governo, então, o poder dos banqueiros aumentou ainda mais, com Henrique Meirelles à frente da política econômica, desprezando os interesses dos trabalhadores e defendendo os interesses dos banqueiros e megacapitalistas, sem resguardar os pequenos e médios empresários, que são os maiores empregadores. A grande mídia, especialmente jornais e revistas, enfrenta a pior crise da história, com crescentes prejuízos operacionais e dependendo dos governos e dos potentados financeiros para sobreviver. Por isso, não se toca no assunto, no Brasil não se discute a dívida pública nem o capitalismo financeiro. E não existe luz no final do túnel, apenas escuridão perpétua. (C.N.)
04 de abril de 2017
Rubens Goyatá Campante
Carta Maior
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