O Brasil já está na hora de descer do pódio de campeão dos juros mais altos do planeta. Para a reversão deste quadro desesperador, surge uma nova oportunidade que passa, necessariamente, por um comprometimento exemplar com a sociedade brasileira e que não depende exclusivamente do Banco Central. O sinal foi enviado pela Instituição, ao mencionar no último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) que o declínio do denominado juro estrutural (mais um conceito econômico abstrato de algo que possa ser medido concretamente) seja condição para ampliar significativamente as reduções da taxa nominal.
Parece-me que, no momento, esta foi a melhor forma encontrada pelo Banco Central para pressionar o Congresso e sensibilizar alguns segmentos estratégicos do atual governo. Clarificando melhor o “recado”: sinalizaram que o país necessita de reformas notadamente de natureza fiscal, as quais são indispensáveis a fim de termos uma economia eficiente, permitindo que os juros possam ser consideravelmente menores, com favorecimento fundamental do crescimento econômico sustentável.
A taxa estrutural ou “neutra”, como também é conhecida, é aquela que gera o máximo de crescimento com inflação dentro da meta, além de ser representada por um número teórico que vai ser testado durante meses ou até anos. Segundo analistas econômicos, atualmente está sendo estimada entre 4% a 5% e pode atingir até 3%, dependendo essencialmente da consistência apresentada na efetivação das reformas, uma melhor composição do crescimento, com mais investimentos e menos consumo.
Diante disso, eles admitem que a Selic (taxa básica de juros, um dos instrumentos utilizados para influenciar a atividade econômica e, conseqüentemente, a inflação) venha declinando para 8% até o final do próximo exercício. Como vimos no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) realizado em 22.02.17, a taxa básica da economia foi reduzida em 0,75% situando-se em 12.25%, embora ainda esteja num patamar elevadíssimo.
A decisão foi unânime e ficou alinhada ao consenso de mercado, que esperava uma repetição do ritmo adotado na reunião de janeiro, a primeira do ano.
Provavelmente não deveremos conviver tão cedo com juros excepcionalmente baixos como vemos nos países desenvolvidos, que chegam até a praticar taxas negativas, mas, pelo menos, poderemos ter juros reais mais próximos aos dos países considerados emergentes. Com certeza, a taxa neutra poderá ser reduzida e, com isso, no futuro, deveremos ter juros civilizados e bem accessíveis disponíveis na economia.
Considerando um cenário básico, com as reformas parciais sendo aprovadas, mesmo enfrentando algumas dificuldades até o final deste ano, existem projeções apostando numa Selic de aproximadamente 9,5% em dezembro de 2017.
Se, por acaso, o Congresso conseguir consolidar as reformas antes do prazo estabelecido, o corte dos juros poderá ser mais robusto e, logicamente, ser feito antes do previsto pelo mercado. Com a polêmica reforma da Previdência sendo aprovada com a requerida abrangência e sem apelos casuísticos nas questões fundamentais ou, pelo menos, sem grandes alterações no texto encaminhado pelo governo, a Selic poderá surpreender, com chances de chegar a 8,5%, ainda no decorrer do segundo semestre deste ano.
Como vimos, o juro neutro tem boas probabilidades de atingir 3%, sendo importantíssimo e indispensável que além das reformas da Previdência e trabalhista, os estados também façam a sua parte, ajustando suas contas como complemento das reformas previstas em andamento. Atualmente, diante das previsões para a taxa neutra chegar no máximo a 5%, o Banco Central tem espaço para acelerar o corte da Selic para 01 ponto percentual, possivelmente na próxima reunião do Copom em 12.04.17.
Não podemos deixar de considerar o risco “político” que, a meu ver, não é desprezível, dentro de um cenário delicado que prosseguirá volátil em função de um Congresso “viciado”, corporativista, influenciado por falsas lideranças, grande ninho de envolvidos em inúmeros crimes graves e sérios escândalos investigados pela Operação Lava Jato, no qual a maioria dos parlamentares está sempre privilegiando os seus interesses pessoais.
Portanto, podemos assistir mais uma “oportunidade imperdível” sendo desperdiçada como tantas outras que passaram por nós, em muitas crises que vivenciamos ao longo das últimas décadas, podendo nos deixar, mais uma vez, fora do equilíbrio econômico desejável.
08 de março de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
Parece-me que, no momento, esta foi a melhor forma encontrada pelo Banco Central para pressionar o Congresso e sensibilizar alguns segmentos estratégicos do atual governo. Clarificando melhor o “recado”: sinalizaram que o país necessita de reformas notadamente de natureza fiscal, as quais são indispensáveis a fim de termos uma economia eficiente, permitindo que os juros possam ser consideravelmente menores, com favorecimento fundamental do crescimento econômico sustentável.
A taxa estrutural ou “neutra”, como também é conhecida, é aquela que gera o máximo de crescimento com inflação dentro da meta, além de ser representada por um número teórico que vai ser testado durante meses ou até anos. Segundo analistas econômicos, atualmente está sendo estimada entre 4% a 5% e pode atingir até 3%, dependendo essencialmente da consistência apresentada na efetivação das reformas, uma melhor composição do crescimento, com mais investimentos e menos consumo.
Diante disso, eles admitem que a Selic (taxa básica de juros, um dos instrumentos utilizados para influenciar a atividade econômica e, conseqüentemente, a inflação) venha declinando para 8% até o final do próximo exercício. Como vimos no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) realizado em 22.02.17, a taxa básica da economia foi reduzida em 0,75% situando-se em 12.25%, embora ainda esteja num patamar elevadíssimo.
A decisão foi unânime e ficou alinhada ao consenso de mercado, que esperava uma repetição do ritmo adotado na reunião de janeiro, a primeira do ano.
Provavelmente não deveremos conviver tão cedo com juros excepcionalmente baixos como vemos nos países desenvolvidos, que chegam até a praticar taxas negativas, mas, pelo menos, poderemos ter juros reais mais próximos aos dos países considerados emergentes. Com certeza, a taxa neutra poderá ser reduzida e, com isso, no futuro, deveremos ter juros civilizados e bem accessíveis disponíveis na economia.
Considerando um cenário básico, com as reformas parciais sendo aprovadas, mesmo enfrentando algumas dificuldades até o final deste ano, existem projeções apostando numa Selic de aproximadamente 9,5% em dezembro de 2017.
Se, por acaso, o Congresso conseguir consolidar as reformas antes do prazo estabelecido, o corte dos juros poderá ser mais robusto e, logicamente, ser feito antes do previsto pelo mercado. Com a polêmica reforma da Previdência sendo aprovada com a requerida abrangência e sem apelos casuísticos nas questões fundamentais ou, pelo menos, sem grandes alterações no texto encaminhado pelo governo, a Selic poderá surpreender, com chances de chegar a 8,5%, ainda no decorrer do segundo semestre deste ano.
Como vimos, o juro neutro tem boas probabilidades de atingir 3%, sendo importantíssimo e indispensável que além das reformas da Previdência e trabalhista, os estados também façam a sua parte, ajustando suas contas como complemento das reformas previstas em andamento. Atualmente, diante das previsões para a taxa neutra chegar no máximo a 5%, o Banco Central tem espaço para acelerar o corte da Selic para 01 ponto percentual, possivelmente na próxima reunião do Copom em 12.04.17.
Não podemos deixar de considerar o risco “político” que, a meu ver, não é desprezível, dentro de um cenário delicado que prosseguirá volátil em função de um Congresso “viciado”, corporativista, influenciado por falsas lideranças, grande ninho de envolvidos em inúmeros crimes graves e sérios escândalos investigados pela Operação Lava Jato, no qual a maioria dos parlamentares está sempre privilegiando os seus interesses pessoais.
Portanto, podemos assistir mais uma “oportunidade imperdível” sendo desperdiçada como tantas outras que passaram por nós, em muitas crises que vivenciamos ao longo das últimas décadas, podendo nos deixar, mais uma vez, fora do equilíbrio econômico desejável.
08 de março de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
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