A pergunta se impõe e a resposta torna-se difícil, agravada com a liminar do juiz federal de Brasília, Catta Preta, de embargar sua posse. O conteúdo das gravações comprometem o ex-presidente a um ponto máximo de elasticidade. Ele afirmou, entre outras coisas, que o Supremo Tribunal Federal encontra-se acovardado e propôs à presidente Dilma Rousseff buscar um caminho para influir junto à ministra Rosa Weber, relatora de pedido seu para simplesmente sustar as investigações existentes contra ele.
Lula atacou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamando-o de ingrato. Em entrevista, Janot rebateu as palavras comuns dirigidas a ele. Merece um destaque especial o recurso de Lula, que estava nas mãos da ministra Rosa Weber. Não está mais. Há cerca de 10 dias ela o despachou, negando o pedido de Lula. Foi esse seu parecer, publicado, aliás com destaque, pelo Estado d São Paulo. Negou medida liminar e, logicamente o remeteu ao plenário do STF. O ex-presidente e a presidente não foram informados desse episódio? Então as assessorias falharam.
O constrangimento ampliou-se com a decisão do juiz Catta Preta. O conflito se agrava e o impasse, principalmente. Impasse que passou a atingir em cheio a presidente da República, aumentando a perspectiva, nesta altura dos fatos, de sua saída do governo. A atmosfera, que era ruim, tornou-se péssima. Carregada ao extremo. O ponto de ruptura aproxima-se aceleradamente. Os argumentos presidenciais não convencem. Só complicam o poder, em plena desestabilização. Quase impossível reverter. Qual o caminho disponível para o Planalto? Nenhum.
PROBLEMA ENORME
A descompressão chamada Lula evaporou-se cedo demais. O que parecia uma solução a curto prazo, pelo contrário, transformou-se num problema enorme. A reação das ruas foi gigantesca e, sobretudo, emocionada. Contra os fatos concretos não cabem argumentos adjetivos. O fim do caminho parece ter chegado. A política é realmente imprevisível. Buscar decifrá-la será eternamente uma tentativa que se repete ao longo do tempo, como é natural. Por falar em tempo, qual será o tempo que resta ao governo?
Dilma Rousseff não chegará até 2018. Quase três anos em política são uma eternidade. A presidente não está conseguindo romper o círculo em que foi aprisionada quando aprisionou a si própria.
TORRENTE DE AÇÕES
E quando chego a esta altura do texto, tomo conhecimento, pela GloboNews, de uma torrente de ações ajuizadas contra a nomeação de Lula. Mais um grande complicador, tanto para o ex-presidente quanto para a atual presidente da República, no momento em que usou a caneta na tentativa de dividir o poder. Como o poder não se divide, o tumulto ocupa o espaço vazio. É o que está acontecendo na véspera do que vier a suceder a fase extremamente crítica que o país atravessa em plena tempestade. Por falar em tempestade, o relator, no STF, do mandado de segurança contra a investidura de Luis Inácio da Silva é o ministro Gilmar Mendes. A presença de Lula no convés pode até afundar o navio.
18 de março de 2016
Pedro do Coutto
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