Um dia depois de o juiz federal Sergio Moro dizer que a Lava Jato parece “uma voz pregando no deserto”, o Supremo mandou prender, no âmbito da mesma operação, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Na sequência, o Senado confirmou a prisão de Delcídio. A votação foi aberta, mas foi ostensiva a oposição do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), citado na Lava Jato. Ele também se opôs à “interferência” do STF nas atribuições do Senado.
Delcídio era o líder do governo e foi preso por tentar obstruir as investigações do maior escândalo de corrupção do país, que envolve diretamente o PT.
O Executivo e o PT, como prova Delcídio, têm se dedicado a impedir investigações se que aproximam cada vez mais de Lula e familiares e de outros expoentes do PT. Na votação no Senado, dos onze petistas presentes, nove votaram pela soltura de Delcídio.
No Congresso, Eduardo Cunha e demais investigados seguem se protegendo. O caso Delcídio foi ponto totalmente fora da curva. O pedido de impeachment, também.
LEVY TAMBÉM ESTÁ SÓ
Moro e a Lava Jato não estão exatamente sós nessa “pregação no deserto”, onde o juiz se diz decepcionado com o Executivo e o Congresso por não colaborarem com suas iniciativas.
Em outra esfera, também segue totalmente só o ministro Joaquim Levy (Fazenda) desde o começo do ano. Sabotado o tempo todo por áreas do próprio Executivo, do PT e do Congresso, aqui com a ajuda da oposição irresponsável de partidos como o PSDB.
Enquanto a Lava Jato se aprofunda no âmbito criminal, a economia brasileira afunda em um rumo nunca antes traçado com tal velocidade.
Mesmo assim, até outro dia o próprio Lula trabalhava pela saída do ministro e pela volta de políticas de aumento do crédito estatal e de gastos. As mesmas que jogaram o país na atual situação.
CONTRATANDO A RECESSÃO
Apenas uma fração do que Levy propôs para conter a crise foi encaminhada neste ano. E o ministro acaba de verbalizar que estamos “contratando” uma recessão em 2016 caso o país não defina uma estratégia fiscal rapidamente.
É um discurso otimista. No mercado, previsões já sinalizam uma queda maior que 3% no PIB deste ano e algo não muito diferente disso no próximo. Desemprego na faixa de dois dígitos já são favas contadas para o início de 2017, assim como a inflação acima do teto da meta de 6,5%.
O “colchão” que os 1,3 milhão de demitidos formais receberam nos últimos 12 meses (FGTS, seguro desemprego) também vem esvaziando à medida que novas levas de desempregados entram nas estatísticas.
Impossível esperar que uma única voz possa mudar o rumo disso.
07 de dezembro de 2015
Fernando Canzian
Folha
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