As negociações com o Palácio do Planalto, com o Congresso e todos os detalhes dos bastidores da CPMI dos Correios, que investigou, entre 2005 e 2006, o esquema do mensalão e abateu a cúpula do PT, estão gravados num diário feito pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), que tinha acesso a informações privilegiadas por ter presidido a comissão mista de inquérito.
Nos dez meses que duraram as investigações, o petista narrou para um gravador, por exemplo, todos os detalhes das conversas que teve com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, geralmente à noite, em dias que antecediam reuniões importantes da CPMI ou após depoimentos bombásticos.
Delcídio já relatou a algumas pessoas que o gravador está bem escondido e que as revelações só viriam à tona quando ele estivesse fora da vida pública ou mesmo após sua morte. A versão mais conhecida é de que enterrou na fazenda de sua mãe, no Pantanal. Mas há quem avalie que essa é apenas uma forma de dizer que o material está num local só conhecido por ele.
FILHO DE LULA ENVOLVIDO.
Quem já ouviu falar na existência das gravações teme que o comportamento do PT, que o abandonou imediatamente, faça com que Delcídio mude de ideia e decida tornar público o segredo que guarda há quase uma década e que poderá constranger o partido.
A CPMI dos Correios esbarrou numa empresa do filho mais velho do ex-presidente Lula, Fábio Luís Lula da Silva, que recebeu um ano após ter sido criada aporte milionário de concessionária de telefonia Telemar. O relatório final da comissão suprimiu menções a Lulinha e ao fato de a empresa investigada – a Gamecorp – pertencer a ele.
Na versão de pessoas que participaram das negociações, um acordo teria garantido votos a favor do texto final em troca de poupar o filho do petista. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2012, Delcídio afirmou sobre esse episódio que houve pressão “de todos os lados”. Lula sempre negou que tivesse interferido na CPMI.
A comissão de inquérito também atingiu lideranças do PT, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do partido José Genoino, que acabaram condenados no processo do mensalão.
TEMPO PARA PENSAR
As conversas com Lula eram constantes na época da CPMI dos Correios, já com a presidente Dilma Rousseff a relação mais direta se deu do ano passado para cá. A presidente foi citada três vezes por Delcídio no depoimento que prestou à Polícia Federal, quando contou que ela já mantinha relações frequentes com Nestor Cerveró quando pediu sua sugestão para indicá-lo a diretor da Petrobrás.
Na época, Dilma era ministra do governo Lula. Ela nega que tenha tido esse diálogo.
07 de dezembro de 2015
Andreza Matais
Estadão
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