Foi só cair um pouco de chuva neste verão escaldante do Sudeste e do Centro-Oeste para o Planalto e o governo paulista adiarem medidas mais efetivas a fim de enfrentar as atuais e gravíssimas crises energética e hídrica do país. São crises gêmeas, debitadas na conta de São Pedro e que resultaram de série de erros de planejamento, de adiamentos de providências e, sobretudo, de informações sonegadas ao público em virtude do calendário eleitoral.
O ano começou sob o espectro do racionamento de água e de eletricidade, acompanhado da escalada nos preços das tarifas graças a custos represados e endividamentos de concessionárias. Mas as autoridades ainda preferem apostar tudo na sorte, postergando a solução racional e mais barata. Apresentar à população, com responsabilidade e em detalhes, o real quadro de dificuldades e pedir a colaboração de todos para atravessar um período transitório de sacrifícios, enquanto se buscam alternativas duradouras, seria o mínimo que os governantes poderiam fazer.
Sem a economia voluntária e consciente do cidadão, só restará aos governantes determinar cortes obrigatórios do fornecimento de serviços essenciais e reajustes ainda mais salgados nas tarifas. A escassez impõe diálogo franco do Executivo com a população, uma negociação com os demais Poderes e a mediação de conflitos entre as unidades da Federação decorrentes deste processo. Mas o que tem se visto ainda é a escaramuça, o retardo e o eufemismo. Racionamento se tornou um palavrão para governos, mesmo após os prejuízos políticos da má gestão do estresse hidrelétrico e nas companhias de saneamento já terem batido forte nas pesquisas de opinião.
A postura oficial de tentar mascarar a realidade alcançou até o Ministério da Agricultura, setor também diretamente atingido pelas longas estiagens. A titular da pasta tratou de fazer coro ao discurso contemporizador do colega de Minas e Energia e descartou impactos na produção e nos preços agrícolas em razão da secura. "Estamos vivendo uma catástrofe no campo, um tsunami às avessas", rebateu o ex-ministro da pasta Roberto Rodrigues, ao Correio.
A presidente Dilma Rousseff, que tem o setor energético como marca pessoal de sua trajetória política, está disposta a negar até o último minuto a necessidade de repactuar o consumo de água e eletricidade no país ou mesmo preparar o terreno para cortes planejados do abastecimento. As chuvas de fevereiro empurraram a decisão do Planalto de esticar o horário de verão por mais um mês e a do Palácio dos Bandeirantes de iniciar o rodízio na Grande São Paulo. Em paralelo, circulam nas redes sociais piadas em torno do sofrimento dos que não têm recursos hídrico e elétrico permanentemente à disposição.
Os apagões deixaram milhões de brasileiros no escuro mês passado e técnicos do Ministério de Minas e Energia já propuseram até o uso excepcional de geradores de shopping centers no horário de maior demanda, puxada pelos equipamentos de ar-condicionado. Mas o alívio esperado para o sistema nacional parece estar dependente da combinação de melhoras inferiores a 1% nos níveis de represas e a reajustes de tarifas acima de dois dígitos. Com isso, o setor elétrico é o único para o qual expectativas de recessão e de piora histórica da atividade industrial soam como notícia boa.
14 de fevereiro de 2015
Editorial Correio Braziliense
Sem a economia voluntária e consciente do cidadão, só restará aos governantes determinar cortes obrigatórios do fornecimento de serviços essenciais e reajustes ainda mais salgados nas tarifas. A escassez impõe diálogo franco do Executivo com a população, uma negociação com os demais Poderes e a mediação de conflitos entre as unidades da Federação decorrentes deste processo. Mas o que tem se visto ainda é a escaramuça, o retardo e o eufemismo. Racionamento se tornou um palavrão para governos, mesmo após os prejuízos políticos da má gestão do estresse hidrelétrico e nas companhias de saneamento já terem batido forte nas pesquisas de opinião.
A postura oficial de tentar mascarar a realidade alcançou até o Ministério da Agricultura, setor também diretamente atingido pelas longas estiagens. A titular da pasta tratou de fazer coro ao discurso contemporizador do colega de Minas e Energia e descartou impactos na produção e nos preços agrícolas em razão da secura. "Estamos vivendo uma catástrofe no campo, um tsunami às avessas", rebateu o ex-ministro da pasta Roberto Rodrigues, ao Correio.
A presidente Dilma Rousseff, que tem o setor energético como marca pessoal de sua trajetória política, está disposta a negar até o último minuto a necessidade de repactuar o consumo de água e eletricidade no país ou mesmo preparar o terreno para cortes planejados do abastecimento. As chuvas de fevereiro empurraram a decisão do Planalto de esticar o horário de verão por mais um mês e a do Palácio dos Bandeirantes de iniciar o rodízio na Grande São Paulo. Em paralelo, circulam nas redes sociais piadas em torno do sofrimento dos que não têm recursos hídrico e elétrico permanentemente à disposição.
Os apagões deixaram milhões de brasileiros no escuro mês passado e técnicos do Ministério de Minas e Energia já propuseram até o uso excepcional de geradores de shopping centers no horário de maior demanda, puxada pelos equipamentos de ar-condicionado. Mas o alívio esperado para o sistema nacional parece estar dependente da combinação de melhoras inferiores a 1% nos níveis de represas e a reajustes de tarifas acima de dois dígitos. Com isso, o setor elétrico é o único para o qual expectativas de recessão e de piora histórica da atividade industrial soam como notícia boa.
14 de fevereiro de 2015
Editorial Correio Braziliense
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