"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

EMPREITEIRAS COBRAM INTERFERÊNCIA POLÍTICA DE LULA

Empreiteiras cobram interferência política de Lula

Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, admitiu ter recebido executivos de empreiteiras alvos da Lava Jato para tratar sobre os efeitos econômicos da investigação

Lula e Okamotto em Paris
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu sócio Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula (Antonio Ribeiro/VEJA)
Preocupados com as prisões preventivas em curso e com os desdobramentos da Lava Jato, empreiteiros alvos da operação têm cobrado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma intervenção política para evitar o colapso econômico de suas empresas. Desde o fim do ano passado, quando foi deflagrada a sétima fase da Lava Jato, emissários dos executivos têm se encontrado pessoalmente com Lula e com o seu sócio, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, para tratar dos impactos financeiros da operação que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.
Okamotto admitiu ter recebido "várias pessoas" de empresas investigadas na Lava Jato. Interlocutores relataram que as conversas foram tensas e que, em alguns momentos, chegaram a ter tons de ameaça por parte dos empreiteiros. No fim do ano passado, João Santana, diretor da Constran, empresa do grupo UTC, agendou um encontro com Lula — o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, foi preso pela Lava Jato e é apontado como coordenador do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras.
Recebido por Okamotto, Santana buscava orientação do ex-presidente sobre o futuro da empresa. Em 2014, a UTC doou 21,7 milhões de reais para campanhas do PT — R$ 7,5 milhões em apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Indagado sobre o encontro com o diretor, Okamotto admitiu o pedido de socorro de Santana. "Ele queria conversar, explicar as dificuldades que as empresas estavam enfrentando. Disse: ‘Você tem de procurar alguém do governo’", relatou o presidente do Instituto Lula.
"Ele estava sentindo que as portas estavam fechadas, que tudo estava parado no governo, nos bancos. Eu disse a ele que acho que ninguém tem interesse em prejudicar as empresas. Ele está com uma preocupação de que não tinha caixa, que tinha problema de parar as obras, que iria perder, que estava sendo pressionado pelos sócios, coisa desse tipo", disse Okamotto. A assessoria de imprensa da UTC/Constran negou o encontro. "Nenhum executivo da empresa jamais marcou reunião ou manteve encontro com o presidente Lula com o senhor Paulo Okamotto para tratar de assuntos relativos à Operação Lava Jato", informou a assessoria da empresa.
A força-tarefa da Lava Jato prendeu uma série de executivos de empreiteiras no dia 14 de novembro, quando foi deflagrada a sétima fase da operação. Um deles era o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Antes de ser preso, ele se encontrou com Lula para pedir ajuda em função das primeiras notícias sobre o conteúdo da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa que implicavam sua empresa. Lula e Pinheiro são amigos de longa data.
O ex-presidente Lula também negou ter se encontrado com executivos das empreiteiras envolvidas no petrolão. "Muitas pessoas, de diversos setores, procuraram o ex-presidente Lula, que hoje não possui nenhum cargo público", informou a assessoria do instituto, ressaltando que Lula não recebeu empreiteiros nem pedidos de reuniões.
Entre si - A cúpula das empreiteiras também tem feito encontros entre si para avaliar os efeitos da Lava Jato. Após a prisão dos executivos, o fundador da OAS, César Mata Pires, procurou Marcelo Odebrecht, dono da empresa que leva seu sobrenome, para saber como eles haviam se livrado da prisão até agora. Embora alvo de mandados de busca e de um inquérito na Polícia Federal, a Odebrecht não teve nenhum executivo detido na Lava Jato.
Conforme relatos de quatro pessoas, Pires disse que as duas empresas têm negócios em comum e que a OAS não assumiria sozinha as consequências da investigação. Ele afirmou ao dono da Odebrecht não estar preocupado em salvar a própria pele, porque já havia vivido bastante. Mas não iria deixar que seus herdeiros ficassem com uma empresa destruída por erros cometidos em equipe. A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que houve vários encontros entre as duas empresas, mas que nenhum "teve como pauta as investigações sobre a Petrobras em si". A assessorua da OAS "refutou veemente" que houve uma reunião com a Odebrecht.
Como resultado da Operação Lava Jato, as empreiteiras acusadas de fazer parte do "clube" que fraudava licitações e corrompia agentes públicos no esquema de corrupção e desvios na Petrobras estão impedidas de participar de novos contratos com a estatal. Por causa disso, algumas têm enfrentando problemas financeiros.
A tentativa de empreiteiras envolvidas na Lava Jato de pedir ajuda a agentes políticos já foi condenada pelo juiz Sérgio Moro - responsável pela operação - ao se referir aos encontros de advogados das empresas com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo."Trata-se de uma indevida, embora malsucedida tentativa dos acusados e das empreiteiras de obter interferência política em seu favor no processo judicial (...) certamente com o recorrente discurso de que as empreiteiras e os acusados são muito importantes e bem relacionados para serem processados", disparou o juiz.
(Com Estadão Conteúdo)
20 de fevereiro de 2015
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