"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

QUESTÕES SENSÍVEIS

              Perguntas a serem feitas aos políticos
     As perguntas mais necessárias são as mais indigestas.
 
Em época de campanha eleitoral todos fogem das chamadas questões sensíveis. O repórter que fizer uma dessas perguntas vai perder o amigo. É como se não fosse de bom tom formular tais questões. No entanto, são elas que possibilitam ao eleitor formar um perfil dos políticos que postulam seu voto. 

Habitualmente, e quase sem exceção conhecida, os candidatos se escondem desses temas discursando sobre o que são favoráveis. Políticos adoram falar sobre o que gostam, aprovam, respeitam, querem ver protegido. E nisso, muito provavelmente, todos estarão de acordo: gostam do povo, de pegar criancinhas no colo, se interessam em promover os mais necessitados, querem que haja emprego e moradia para todos. Querem educação de qualidade e um serviço de saúde padrão Fifa. Ou seja: todos sonham com o paraíso aqui mesmo e o prometem disponível logo ali, em janeiro do ano que vem.

Mas isso e nada são a mesma coisa. Numa sociedade de massa, num país onde mais de 100 milhões de eleitores irão expressar suas escolhas, a imprensa cumpre papel importantíssimo no esclarecimento e na formação das decisões de voto. Disse alguém, com pelo menos boa dose de razão, que o jornalismo ou é investigativo ou não é jornalismo. Outro alguém disse que se o jornalismo não desagrada governantes não é jornalismo. E digo eu algo que também já foi dito: se o jornalismo político não pressiona os candidatos para extrair deles o que eles não querem dizer, presta à democracia um serviço inaproveitável.

As perguntas mais necessárias são as mais indigestas. O senhor é a favor ou contra o aborto? Qual sua opinião sobre a redução da maioridade penal? O senhor concorda com nosso sistema de progressão de regime aos condenados? Qual sua opinião sobre invasão de propriedades privadas ou públicas? Como o senhor reagiria em situações de tumulto associado com vandalismo ou terrorismo? O que pensa sobre posse e porte de armas? Qual deve ser o limite da tolerância? Como esse limite funciona em relação a grupos intolerantes? As leis de cotas raciais são convenientes ou inconvenientes ao país? O senhor é a favor ou contra a adoção da meritocracia no serviço público? Como se combina meritocracia com leis de cotas raciais? Qual sua opinião sobre o sistema tributário nacional? O Brasil é, de fato uma Federação que respeita a autonomia dos Estados e municípios? Convém ao país a presença de militantes partidários em posições de confiança nos órgãos da administração pública e nas empresas estatais? Parece-lhe razoável que o partido governante, seja qual for, influencie ideologicamente as relações internacionais do Brasil? O Itamaraty é lugar de partido político? Como a questão dos direitos humanos deve influenciar as relações externas do Brasil? Qual sua opinião sobre as atuais demarcações de reservas indígenas e de áreas para quilombolas? Parece-lhe bom ao país e à sociedade que as chefias do Estado, do governo e da administração sejam confiadas à mesma pessoa?

Essa lista é pequena fração da que efetivamente, ao longo dos próximos 45 dias, deveria ser respondida por todos os candidatos, de modo especial, pelos candidatos aos cargos de presidente da República e de membros do Congresso Nacional. Infelizmente, só ouviremos o que não interessa saber e nada saberemos daquilo que realmente importa para o exercício correto de nosso dever cívico.
 
26 de agosto de 2014
Percival Puggina

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