Aristóteles dizia que a melhor forma de governo era aquele praticado com virtude. Segundo o filósofo, as formas PURAS de governo seriam a monarquia (governo de um só), a aristocracia (governo dos melhores) e a democracia (governo do povo). Na contramão desses modelos , estavam as respectivas formas IMPURAS, a saber, a tirania (monarquia corrompida), a oligarquia (aristocracia dos patifes) e a demagogia (democracia virada ao avesso),que poucos séculos depois foi substituída pelo geógrafo e historiador grego Políbio, pelo que chamou de OCLOCRACIA. (democracia degenerada, corrompida, deturpada, praticada pela massa ignara).
Formalmente, o Brasil exerce a democracia Está escrito na constituição. Mas os costumes políticos em seu nome não correspondem à sua natureza. O que se pratica é a OCLOCRACIA, de Políbio, misturada com boa dose da DEMAGOGIA, de Aristóteles.
Assim tenho defendido a tese que a tal democracia brasileira tende a ser a ciência e arte de enganar e escolher entre os piores”, não só no curso de determinada eleição, mas também de uma eleição para a seguinte.
A reintrodução das eleições diretas para Presidente e Governador confirmam essa verdade. Toda aquela mobilização, que tanto orgulhou Campos, quanto orgulha Aécio, respectivamente netos de Miguel Arraes e Tancredo Neves, protagonistas das “diretas já”, deu no quê ? Collor de Melo é a resposta. Daí seguiu-se uma trágica condução da política e das ações de governo. Tudo piorou, gradativamente. O Regime Militar não foi bom. Mas comparados aos seus “sucessores”, não há do que se queixar. Se não havia liberdade para falar mal do Presidente, esta era a única limitação. Hoje não há mais essa limitação. Mas as outras liberdades foram todas para o “saco”. A insegurança pública abafou as liberdades.
O recente episódio da alavancagem da candidatura de Marina Silva decorrente do acidente aéreo que vitimou Campos demonstra a fragilidade da democracia em curso. Fatos como esse jamais poderiam mudar tão radicalmente o quadro eleitoral. Mas sem dúvida a tragédia favoreceu Marina. Independentemente do resultado das eleições, um povo que não leva a democracia a sério não teria o direito de praticá-la. Urge rever esse modelo fracassado.
O simples fato de ser “bom-de-voto”, como sem dúvida é Marina nessa oclocracia, não corresponde necessariamente às reais necessidades de um povo. A democracia deturpada permitiu até eleger o rinoceronte Cacareco, eleito vereador em São Paulo com estrondosa votação ainda no final dos anos 50. Mas depois outros “cacarecos” foram escolhidos pelo povo, tanto que as eleições, tão “bem” controladas pela Justiça Eleitoral, tornaram-se quase um grande concurso de palhaços na busca de empregos públicos.
Estamos, mais ou menos, como num mato sem cachorro. Os candidatos Dilma e Aécio representam os “velhos” que já não deram certo,fracassados . O “novo”, Marina, que se avizinha com enorme chance eleitoral, seria uma incógnita nada otimista, oriunda de uma democracia doente, e quiçá, um novo “cacareco”.
E fico pasmo que depois de tudo isso ainda tem gente que fica agressiva quando se fala na opção de dividir o Brasil de modo que cada um dos seus povos construa o seu próprio país. Quinhentos anos não foram suficientes para fazer um país decente. Teríamos que esperar mais quinhentos?
Sérgio Alves de Oliveira é Sociólogo, Advogado, Membro do GESUL-Grupo de Estudos Sul Livre.
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