A luta de Aécio Neves já era hercúlea sem a morte de Eduardo Campos. Não ser conhecido por mais de 30% dos brasileiros, enfrentar o uso criminoso da máquina pública pelo PT e o triplo de tempo do adversário na TV eram obstáculos consideráveis. Tanto que antes da campanha Aécio estava na casa dos 20% das intenções de voto. Em 2010, José Serra, tão conhecido quanto Dilma, já alcançava 30%. Havia um caminho muito duro a percorrer para levar a eleição para o segundo turno, onde as condições se igualam em termos de propaganda. Aí morre Eduardo Campos e todo o planejamento muda, às vésperas do início da campanha. A luta, que era hercúlea, passa a ser uma jornada heróica.
Marina Silva virou a viuvinha santificada de Eduardo Campos. Pós-doutorada em cafetinar cadáveres, desde o tempo de Chico Mendes, a ex-petista cumpriu um ritual estudado nos mínimos detalhes durante a investigação do acidente aéreo, a busca pelos corpos e, finalmente, o feérico velório e enterro, um bem acabado evento político-eleitoral. Aos 20 milhões de votos de 2010, foram agregados os votos de pesar a partir da maior exposição midiática já vista depois da morte de Tancredo Neves e de Airton Senna.
Durante esta semana, várias pesquisas devem apontar Marina Silva à frente de Aécio Neves e colada em Dilma Rousseff. Segundo turno garantido, com a ex-petista vencendo Dilma com folga no segundo turno. Tudo conspira a favor de mais uma semana de ampla exposição da Madre Teresa do Xapuri, com o seu xale e a sua cara de pobrezinha designada por Deus para liderar um novo país, onde os bons estarão ao seu lado e os maus serão condenados às chamas do inferno. Entre os bons, inclusive, ela já determinou que estão Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Tem Ibope hoje. Tem CNT-MA amanhã, junto com Jornal Nacional. Tem Datafolha na próxima sexta.
O que devemos olhar nas pesquisas, com todo cuidado, é de onde virão os votos de Marina Silva. Se Aécio Neves cair do patamar de 20%, é grave, mas não impossível de recuperação. Se mantiver, é questão de tempo para, com mais exposição nos programas eleitorais e mais apoios regionais, retomar o terreno e conquistar o segundo lugar no segundo turno. Isto deverá ocorrer no limite, na terceira semana de setembro, se a campanha for bem sucedida na sua organização e no seu conteúdo. É importante, também, observar se Dilma Rousseff perdeu pontos para Marina Silva no eleitorado mais pobre, onde a petista é imbatível em função da Bolsa Família e da boataria que sempre assusta o eleitorado de menor renda e instrução.
Faltam 42 dias para a eleição e o dia de hoje marca um "começar de novo". Dilma tinha gordura para queimar. Aécio não tinha. O trabalho para o tucano e para a sua militância será muito mais duro. Muito mais difícil. Mas não é hora para desespero. Inclusive, não é o momento para exigir que o candidato apele para o jogo bruto, batendo em viúva com cara de doente. Não vai ser distribuindo porrada em mulher que Aécio subirá nas pesquisas. É hora de frieza. Aécio tem que continuar dizendo a que veio. O tom agressivo dependerá dos ataques feitos pelas duas adversárias e não por iniciativa dele. Estamos, novamente, no marco zero. O dia D é 5 de outubro.
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