"As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro inundações desastrosas. (...) O prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito." A crônica de Lima Barreto foi publicada no "Diário da Noite" em 1915, quase um século atrás. Trocando Passos por Paes, poderia estar nos jornais de hoje, depois de mais um dia de alagamento e caos na cidade.
Eduardo Paes, o prefeito da vez, tem repetido a prática de antecessores: gasta muito com obras de maquiagem e investe pouco no combate às enchentes. No ano passado, prometeu acabar com as cheias na Tijuca e na praça da Bandeira, outro problema ancestral do Rio. O sistema de reservatórios deveria estar pronto, mas já atrasou duas vezes. Agora, a promessa da prefeitura é acabar com as inundações em 2014. Alguém acredita?
Nomeado no início do século passado, Pereira Passos entrou para a história como o prefeito que construiu a avenida Central, atual Rio Branco. Se deixar o cargo amanhã, Eduardo Paes será lembrado como o prefeito que demoliu a Perimetral. Para substituir o elevado, abriu no mês passado a Via Binário, onde dois ônibus não conseguem passar na mesma curva. Na primeira chuva, a avenida virou um rio, e Paes admitiu que a inaugurou sem fazer as obras de drenagem. Não é preciso ser engenheiro, como Passos, para saber o que aconteceria.
Ontem o peemedebista passou o dia dando entrevistas, em ambiente coberto e usando uma patética capa de chuva. Enquanto milhares de cariocas se arriscavam nas ruas para tentar chegar ao trabalho, ele pedia que a população ficasse em casa. Os eleitores deveriam devolver o apelo: "Vá trabalhar, prefeito!".
12 de dezembro de 2013
Bernardo Mello Franco, Folha de São Paulo
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