Dilma aproveitou os funerais de Mandela, onde enalteceu a "superioridade moral e ética" do líder sul-africano, para reabilitar internacionalmente Fernando Collor, levando-o em sua comitiva ao lado de Lula, FHC e Sarney. Se a intenção era louvar aquele que chamou de "personalidade maior" do século 20, Dilma acabou homenageando uma vergonha nacional.
Collor é o sujeito que foi expulso do Palácio do Planalto sob gritos de "ladrão". Primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura, sofreu impeachment em 1992, depois que seu irmão revelou um amplo esquema de corrupção no governo e uma CPI constatou que ele obteve "vantagens econômicas indevidas".
À época, Lula, que ainda demonstrava se importar com esse tipo de coisa, disse que Collor apresentava sintomas de alguma debilidade no cérebro. "Em vez de construir um governo, construiu uma quadrilha. A ganância, a vontade de roubar e a vontade de praticar corrupção fez com que Collor jogasse o sonho de milhões de brasileiros por terra."
Quase 15 anos depois, Lula, quem diria, iniciou o resgate de Collor, convidando-o para voltar ao Palácio do Planalto, num encontro que emocionou o ex-presidente pela forma carinhosa com que o petista o recebeu.
Sob pretexto de mostrar que as posições do Estado brasileiro estão acima das divergências políticas, Dilma manteve o processo de reinserção de Collor, chamando-o para a instalação da Comissão da Verdade, para ato em memória de Jango e, agora, para a homenagem a Mandela.
Collor, no entanto, não é um caso de divergência política (até porque hoje ele integra a base de Dilma no Senado). É um caso de divergência moral com a sociedade brasileira, que se vestiu de preto para expulsá-lo do governo. Colocá-lo no patamar de Lula, de FHC e de Sarney é o mesmo que tentar passar uma borracha na história, devolvendo-lhe a estatura e a respeitabilidade que ele perdeu com o impeachment.
12 de dezembro de 2913
Rogério Gentile, Folha de São Paulo
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