Quero ir para a cama com você.
- O que?!
- No momento em que vi você entrando no bar, pensei: quero ir para a cama com essa mulher.
- Olha aqui, não sei quem você pensa que eu sou, mas...
- Por favor, não se ofenda. Talvez não aconteça, nós irmos juntos para a cama. Provavelmente não vai acontecer. Mas achei que você deveria saber o sentimento que despertou em mim, no momento em que a vi. Eu sei, você deve estar pensando quem é esse maluco que sai da mesa dele e vem até a minha me dizer que quer ir para a cama comigo? Que nem sabe o meu nome ou qualquer outra coisa a meu respeito, que nem liga para o homem que está comigo e daqui a pouco vai se levantar e pedir satisfações. Mas acredite, eu não sou um louco. Minhas intenções são as mais puras, eu...
- Puras?! Você vem aqui dizer na minha cara e na cara do meu namorado que quer fazer sexo comigo e...
- Espera aí. Quem falou em sexo? Eu não falei em sexo.
- Como?
- Cama não é só para sexo.
- Não entendi...
- Eu disse que queria ir para a cama com você. Não fazer sexo.
- Você quer dormir comigo, é isso? Dormir mesmo. Só dormir.
- Não. Só dormir, não. Tudo que vem antes, durante e depois de dormir. Tudo que um casal faz junto, quando está casado há tempo. Os velhos hábitos. Quem dorme de que lado, quem fica lendo até tarde e o outro reclama. Quem tem pés frios e faz questão de encostá-los nos pés do outro. As conversas de cama. Como foi o seu dia? Como está á sua lombalgia? Quando será que os netos vêm nos visitar? Nos imaginei acordando na mesma cama, os dois meio emburrados pelo sono. A decisão de todos os dias: quem vai ao banheiro primeiro? O que os dois fazem no banheiro? As escovas de dente dos dois, lado a lado. Existe coisa mais comovente do que duas escovas de dente lado a lado num banheiro? Me imaginei de pijama amarrotado, e você de camisola de flanela. Quando você entrou no bar, tive uma visão: você de camisola de flanela.
- Mas tudo isso só vem depois de muitos anos de casados.
- Claro.
- E de sexo.
- Bom, se você quiser pensar assim... Mas o sexo seria apenas uma etapa.
- O que?!
- No momento em que vi você entrando no bar, pensei: quero ir para a cama com essa mulher.
- Olha aqui, não sei quem você pensa que eu sou, mas...
- Por favor, não se ofenda. Talvez não aconteça, nós irmos juntos para a cama. Provavelmente não vai acontecer. Mas achei que você deveria saber o sentimento que despertou em mim, no momento em que a vi. Eu sei, você deve estar pensando quem é esse maluco que sai da mesa dele e vem até a minha me dizer que quer ir para a cama comigo? Que nem sabe o meu nome ou qualquer outra coisa a meu respeito, que nem liga para o homem que está comigo e daqui a pouco vai se levantar e pedir satisfações. Mas acredite, eu não sou um louco. Minhas intenções são as mais puras, eu...
- Puras?! Você vem aqui dizer na minha cara e na cara do meu namorado que quer fazer sexo comigo e...
- Espera aí. Quem falou em sexo? Eu não falei em sexo.
- Como?
- Cama não é só para sexo.
- Não entendi...
- Eu disse que queria ir para a cama com você. Não fazer sexo.
- Você quer dormir comigo, é isso? Dormir mesmo. Só dormir.
- Não. Só dormir, não. Tudo que vem antes, durante e depois de dormir. Tudo que um casal faz junto, quando está casado há tempo. Os velhos hábitos. Quem dorme de que lado, quem fica lendo até tarde e o outro reclama. Quem tem pés frios e faz questão de encostá-los nos pés do outro. As conversas de cama. Como foi o seu dia? Como está á sua lombalgia? Quando será que os netos vêm nos visitar? Nos imaginei acordando na mesma cama, os dois meio emburrados pelo sono. A decisão de todos os dias: quem vai ao banheiro primeiro? O que os dois fazem no banheiro? As escovas de dente dos dois, lado a lado. Existe coisa mais comovente do que duas escovas de dente lado a lado num banheiro? Me imaginei de pijama amarrotado, e você de camisola de flanela. Quando você entrou no bar, tive uma visão: você de camisola de flanela.
- Mas tudo isso só vem depois de muitos anos de casados.
- Claro.
- E de sexo.
- Bom, se você quiser pensar assim... Mas o sexo seria apenas uma etapa.
08 de dezembro de 2013
Luiis Fernando Veríssimo, O Estado de S Paulo
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