"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

UMA VEZ RATO


RIO DE JANEIRO - Mickey, o rato, está fazendo 85 anos. Os EUA comemoram isso com estardalhaço e, como sempre, intimam o mundo a soprar velinhas para um personagem que só a eles diz respeito. Mickey representa os americanos como eles se veem: adultos, justos, responsáveis, gentis, inatacáveis. Mas não é assim que o mundo enxerga os americanos.

Para mim, muito mais representativo no cânone de Walt Disney é o inimigo de Mickey, João Bafodeonça, criado em 1925 --três anos antes do próprio Mickey, cinco antes de Pluto, sete antes do Pateta e nove antes de Donald. Mas era típico de Walt que um maravilhoso vilão como João Bafodeonça, em ação até hoje, nunca passasse de coadjuvante, destinado a perder todas para o rato.


Rato este que não tinha nada de santo ao nascer. Logo em seu primeiro desenho, "Steamboat Willie" (1928), Mickey tortura um gato, roda-o pela cauda e o atira dentro do rio. E cometeu outras ignomínias com animais nos desenhos seguintes, até que Disney ordenou a sua desratização e conversão em algo parecido com um ser humano.

Mas, uma vez rato, sempre rato, e não é por acaso o ódio de Walt aos gatos, evidente em toda a sua produção. Em "Pinóquio" (1940), o gato Gedeão é um malandro odioso e repulsivo. Em "Cinderela" (1950), o gato Lúcifer, gordo e perverso, é uma constante ameaça para dois ratos esqueléticos, Gus e Jaq. Em "Alice no País das Maravilhas" (1951), o Gato é lógico, frio e insensível. Em "A Dama e o Vagabundo" (1955), os siameses Si e Õ destroem as cortinas, atacam o canário e afogam o peixinho dourado. E mesmo em "As Aristogatas" (1970), um filme que se imagina pró-gatos, há um bando de gatos vadios e desprezíveis, e o herói é um rato chamado Roquefort.

Daí ser inevitável que Walt um dia fizesse a Disney World -- a maior ratoeira humana já construída por um rato.

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