O inquérito suíço sobre a Alstom e os documentos fornecidos pela Siemens sobre irregularidades nas concorrências para o Metrô e os trens urbanos de São Paulo devem ser aprofundados, e logo.
Não se pode esquecer que o inquérito da Suíça foi ignorado no Brasil por cinco anos, e que os pedidos suíços de colaboração ficaram engavetados, oficialmente “por engano”, no Ministério Público Federal. Houve propina para dirigentes tucanos, desde o Governo Mário Covas, como informa um ex-diretor da Siemens? Quem recebeu, quem pagou, quem acobertou? Quais os cúmplices da ladroeira que elevou o preço de obras vitais?
A investigação tem de ser feita – mas, até que termine, há mil e uma coisas que podem acontecer rapidamente. Por exemplo, com base no inquérito suíço e nos documentos fornecidos pela multinacional alemã, parece haver motivos suficientes para afastar Alstom e Siemens, de imediato, de novas licitações; para promover auditorias independentes, afastadas de Governos, nos contratos de que participam; e para afastar de seus cargos oficiais, provisoriamente, as autoridades acusadas de receber propinas.
Não se trata de prejulgamento; apenas, como o presidente Itamar Franco fez com seu amigo e ministro Henrique Hargreaves, de evitar qualquer suspeita de abuso de poder no inquérito. Comprovada a falsidade das acusações, retornariam a seus cargos, vitoriosas, como o fez Hargreaves.
O escândalo se iniciou no Governo Covas. Quem eram as autoridades encarregadas de evitar irregularidades nos contratos oficiais? Serão responsabilizadas?
O ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer diz que propinas foram pagas em todos os Governos tucanos paulistas – Covas, Alckmin, Serra – e reforçaram o Caixa 2 de campanha do PSDB e de seu maior aliado, o DEM. As acusações, pela primeira vez, deixam de atingir apenas o segundo escalão e chegam a secretários de Estado e dirigentes de partidos aliados ao PSDB paulista.
E citam ainda multinacionais como Bombardier e Caterpillar, além de Siemens e Alstom.
Diz a lógica que quem não tem direitos políticos não pode ocupar mandato eletivo. Disse o Supremo que a perda de mandato de condenados é automática, porque a pena inclui a perda de direitos políticos. Em caso de parlamentares, cabe à Casa a que pertencem apenas declarar a perda do mandato.
Dizem os parlamentares, naqueles acessos incontíveis de coleguismo, que cabe a eles e só a eles decidir sobre perda de mandatos – ou seja, há a possibilidade de criação da Bancada da Papuda, só com presos que ocupam cadeiras no Congresso.
Além da autodefesa – sabe-se lá o que o futuro pode reservar a Suas Excelências, se pegar a moda de investigá-los – há outro objetivo na defesa dessa estranha tese: o deputado José Genoíno, do PT paulista, pediu aposentadoria por invalidez. O pedido será examinado no início do ano que vem.
A jogada é adiar a votação da cassação até que Genoíno se aposente, com salários e vantagens integrais. Que o caro leitor imagine a reação da opinião pública à aposentadoria do presidiário.
Quem acompanha as redes sociais, em que petistas radicalizados sustentam que os procuradores da República e os ministros do Supremo nomeados por presidentes petistas perseguem petistas, e juram que quem quer que não concorde com eles é da zelite, du zianque e da extrema direita, pensa que o PT inteiro está pintado para a guerra.
Não é bem assim: Olívio Dutra, fundador do PT, ministro de Lula, ex-governador do Rio Grande do Sul, disse que Genoíno, Dirceu e Delúbio se conduziram mal, que o processo não podia ter final diferente e que não os considera presos políticos.
Do PT do Paraná, só Zeca Dirceu, filho de Dirceu, assinou o protesto contra a prisão. Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, ministros de Dilma, calaram-se – silêncio compartilhado pelo presidente do PT paranaense.
Ao ler o noticiário sobre o Mensalão mineiro, que segundo o relator, ministro Luís Roberto Barroso, deve ser julgado no início do ano que vem, não se surpreenda se achar que está encontrando informações repetidas.
O Mensalão mineiro envolve Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas, ex-presidente nacional do PSDB – a grande novidade. Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz já estão até condenados pelo outro Mensalão. Walfrido Mares Guia, que era Azeredo na época e hoje é dilmista e lulista, escapou do caso por ter mais de 70 anos.
No endereço eletrônico abaixo, o personagem mais conhecido é o deputado federal paranaense André Vargas, diretor nacional de Comunicação do PT, líder da MAV, Militância em Ambientes Virtuais, nome elegante da ferocíssima patrulha petista na Internet.
Vargas está no aeroporto de Londrina, com um avião turboélice da FAB esperando para levá-lo a Brasília (voos comerciais? Isso é para passageiros comuns).
Ao lado, um assessor de seu Gabinete, pago naturalmente com verba pública, exerce a nobre função de carregar a maleta e o paletó de Sua Excelência – algo como uma Bolsa-Cabide.
Da coluna de José Pedriali, http://blogs.odiario.com/josepedriali/2013/11/18/andre-vargas-assessor-cabide/
25 de novembro de 2013
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação
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