Sobre o processo do mensalão, que resultou na prisão dos petistas José Dirceu e José Genoino, o ex-presidente Lula afirmou recentemente que “parece que a lei só vale para o PT”. Não é verdade. Vejamos.
Ontem, no Estadão, a colunista Dora Kramer disse o seguinte: “só no processo do mensalão foram condenados integrantes das cúpulas do PTB, PL (hoje PR), dois deputados do PP e um ex-líder da bancada do PMDB na Câmara. Além de assessores de três dessas legendas.”
Kramer disse mais: “Por outros motivos, políticos do DEM foram presos (embora não definitivamente), como o ex-governador José Roberto Arruda ou o ex-senador Demóstenes Torres, cassado pelo Senado e indicado pelo Ministério Público de Goiás por corrupção.”
Continua Kramer: “Dois parlamentares recentemente condenados pelo STF, deputado Natan Donadon e senador Ivo Cassol, tampouco pertenciam ao PT. O primeiro foi do PMDB e está sem partido e o segundo é do PP.”
Os exemplos não param por aí, segundo Kramer: “Acrescentem-se os vários governadores que tiveram mandatos interrompidos pela Justiça Eleitoral devido a abusos do poder econômico durante as respectivas campanhas. Entre eles um do PSDB. E por falar em tucanos, está nas mãos do Supremo a ação contra o deputado, ex-governador de Minas e ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, com a perspectiva de ser julgada ainda em 2014. Acusação? Peculato e lavagem de dinheiro.”
Kramer conclui dizendo: “Por essas e várias outras que a memória não alcança e que mediante pesquisa acurada seriam muitas mais, não se pode dizer que só há infratores da lei no PT. Da mesma forma e por isso mesmo é falso afirmar que a lei no Brasil só vale para o PT. O que existe, sim, é maior repercussão. Primeiro pela dimensão, segundo pela falta de cerimônia do esquema, e terceiro porque se trata do partido no poder, cuja conquista deu-se em boa medida por uma trajetória construída no altar da defesa da ética e dos bons costumes na política e adjacências.”
Quem fala demais… Não por acaso o título da coluna de Dora Kramer é “Bom dia a cavalo”.
Ainda sobre o mensalão, o cientista político Luiz Werneck Vianna, professor da PUC-Rio, em entrevista concedida também ao Estadão desse domingo, salientou que este processo “foi um caso de corrupção política. Nas motivações dos autores dessas infrações não esteve o impulso por aquisição de riqueza, mas aquisição de poder [o tal dos fins justificam os meios]. Esse foi um fato que a sociedade e os tribunais julgaram severamente, na expressão de muitos dos ministros do STF: foram crimes contra todos. E é explosiva essa relação entre o poder judiciário, a opinião pública e a mídia, pois a alta visibilidade desses processos deixa pouco espaço para o réu se defender. Mas isso não dá para impedir, é o avanço da esfera pública no mundo. Que fazer? Fechar as portas dos tribunais? Silenciar os jornais? É só ver o caso das biografias. Vamos ficar com os vícios e as grandes virtudes disso, que é tornar públicas determinadas cenas que realmente mereçam ser públicas, que não podem transcorer nem em segredo de Justiça nem em silêncio obsequioso da imprensa. Isso faz parte de uma democracia de massas.”
Sobre a questão de que José Dirceu e José Genoino são presos políticos ou políticos presos, Luiz Werneck Vianna afirma que agora eles são políticos presos, pois “foram condenados por uma corte com ministros inclusive indicados pelo PT.”
25 de novembro de 2013
Giovanni Soares
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