Ah, então José Dirceu já está ditando as regras lá da Papuda, é? Eis um homem que nasceu para comandar. Seus áulicos dizem à imprensa que ele está insatisfeito com o comportamento de Lula, de quem esperava muito mais.
Acha que o ex-presidente não está sendo enfático o bastante em defesa dos criminosos condenados. Trata-se de uma forma bem particular de chantagem.
Aqui e ali, em colunas oblíquas, os que se prestam ao papel de porta-vozes do presidiário elogiam o seu lado militante, aquele que pensa, acima de tudo, no partido. Isso quer dizer, em outras palavras, que ele sabe mais do que diz. Alguém que chega à posição de Dirceu, especialmente numa organização com as características do PT, pode, se quiser, botar fogo no circo — ou chutar o mastro.
A lona viria abaixo. Não havia como Lula não saber de tudo e mais um pouco. Ele sempre esteve no controle. O partido tem um chefe, tem um “Número 1”. No partido, funciona a regra da obediência devida.
Então por que Dirceu se transformou numa espécie de símbolo? Porque é sabido que ele busca esse protagonismo. Não é de hoje. Gos
ta de posar de pensador, de estrategista, de cérebro da luta. Empresta-se ares de Lênin de Passa Quatro. Só ele saberia a hora de avançar; só ele saberia a hora de recuar. As fotos que vieram a público já depois de sua prisão exibem o ar do vitorioso.
Se José Genoino faz o papel do herói trágico, Dirceu prefere o do calculista cínico. É e sempre será aquele que, uma vez anistiado, cutucou o braço da mulher, exibiu uma foto e disse, ainda que com outras palavras: “Eu não sou eu, eu sou outro; o seu marido é o outro, não eu. Fui”.
Dirceu está cobrando a presença de Lula na Papuda — e não se descarte essa possibilidade; é só questão de tempo. Ainda não foi porque algumas coisas não estão saindo exatamente conforme o planejado.
As manifestações de rua em favor dos mensaleiros, por exemplo, não aconteceram. Os protestos em defesa dos condenados às portas da Papuda não reúnem mais do que duas dezenas de aloprados, que vão lá exibir cartazes em favor dos criminosos.
25 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo
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