Ainda que sem qualquer entendimento entre eles, os principais partidos vem sonhando com um denominador comum, senão capaz de mudar os rumos políticos do país, ao menos em condições de tirá-los do precipício onde foram parar, tanto por conta de suas fraquezas quanto pelo risco que tem causado o personalismo exacerbado das últimas décadas.
Traduzindo: ou os partidos acordam e enquadram seus candidatos, obrigando-os a um mínimo de fidelidade a seus desaparecidos programas e ideologias, ou somem sem deixar lembranças nem saudades. Não é de hoje a prevalência das pessoas sobre as legendas, mas de forma cada vez mais profunda, as pessoas estão a um passo de sufocar as legendas.
Tome-se o PT, para começar. Desde sua fundação que o partido confundiu-se com o Lula, mas naqueles idos havia espaço para os dois, além, é claro,de um programa definido por suas bases, envolvendo reformas, objetivos e metas a alcançar. A opinião dos companheiros pesava nas decisões do líder, pelo menos até sua ascensão à presidência da República. Existiam concepções geradas de baixo.
Foi tudo para as profundezas depois da conquista do poder, tanto pela avidez com que os petistas passaram a disputar cargos e funções nas estruturas do Estado, esquecendo-se de suas propostas, quanto pela transformação do Lula em árbitro absoluto das decisões que se imaginava pudessem continuar colegiadas. Agora, com raras exceções, o PT é Lula, Lula é o PT, com projeções em Dilma, nada mais do que a executora dos desígnios do antecessor. Obedecer passou a regra fundamental do partido. Só o primeiro-companheiro seleciona, decide, orienta e impõe.
Pode não ser tão linear assim a realidade em outros partidos, porque no PSDB, por exemplo, inexiste uma liderança exclusiva, apesar das tentativas de Aécio Neves. Ainda tentam a supremacia Fernando Henrique, Geraldo Alckmin e José Serra, ainda que o resultado seja o mesmo: não há mais o pensamento tucano, sequer a tendência que impulsionava decisões selecionadas a partir de debates.
Tudo começou com a eleição de Fernando Henrique e os oito anos de sua predominância no ninho. Contestá-lo ficou sempre mais difícil, enquanto inquilino do palácio do Planalto. Suas verdades tornaram-se absolutas. Apesar da perda do poder para o Lula, o sociólogo já tinha destruído a democracia interna no partido, importando menos quem assumirá o consulado, já que desapareceram a comunidade e os propósitos, a não ser da conquista do poder.
Desnecessário referir que socialista não é o PSB, senão feudo do governador Eduardo Campos, agora com espaço para Marina Silva. O trabalhismo sumiu faz tempo, não há no PTB qualquer resquício do que se verificava tempos atrás. Nem ao menos um programa de reivindicações sociais. Vale o mesmo para o PDT. Roberto Jefferson e Carlos Lupi sepultaram a ideologia herdada de Getulio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola em troca de favores, ministérios, diretorias de estatais e, com todo o respeito, mensalidades.
Quem quiser que continue dissecando os demais partidos, todos, sem exceção, insossos, inodoros e incolores, instrumentos do personalismo de líderes permanentes ou eventuais. Incapazes de demonstrar conteúdo doutrinário, à exceção da busca por nomeações. É a agonia, caso não consigam despertar, mesmo sonhando com a recuperação.
25 de novembro de 2013
Carlos Chagas
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