Temer pensou que Raquel Dodge tinha duas caras
Mais uma vez o fator surpresa se revela em plenitude na vida política brasileira, fenômeno que não pode ser ignorado pelos analistas em suas observações. Não se trata de tentar modificar os fatos, mas sim flexibilizar as análises de uma matéria tão sujeita a modificações de qualquer porte. Por isso, os comentários da política têm que ser revistos a cada dia, pois os exemplos são muito constantes.
Agora mesmo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal que inclua o presidente Michel Temer na investigação sobre uma estranha doação de 10 milhões de reais feita pela Odebrecht ao MDB, tendo como justificativa e objetivo as eleições de 2014.
JANOT ALIVIARA – Raquel Dodge dIscordou do parecer de seu antecessor, Rodrigo Janot, que, ao examinar o caso, assinalou que Temer não podia sofrer investigação por estar protegido pelo foro privilegiado.
Reportagem de Reynaldo Turollo Júnior, edição de ontem da Folha de São Paulo, destaca a importância do episódio. A procuradora-geral dirigiu-se diretamente ao ministro Edson Fachin para que a inclusão se torne um fato concreto.
A decisão de Rachel Dodge, não há a menor dúvida, surpreendeu o Palácio do Planalto. Não só porque no inquérito estão incluídos os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, mas também pelo fato de Michel Temer tê-la escolhido para o cargo diante de uma lista tríplice votada pelos integrantes do Ministério Público. Raquel Dodge fora a segunda mais votada e tornou-se a opção do Presidente da República.
HÁ SURPRESAS… – Michel Temer surpreendeu-se, porém surpresas são próprias tanto da política quanto da existência humana. Me lembro que em agosto de 54 o General Teixeira Lott foi escolhido ministro da Guerra pelo esquema da antiga UDN, que ingressou no governo com a posse de Café Filho após o suicídio de Vargas. A UDN e principalmente seu líder, Carlos Lacerda, acharam que Lott seria um instrumento para concretizar o projeto de poder que desabaria nas urnas de 55. Total engano.
Lott tornou-se a figura decisiva para assegurar a posse de Juscelino Kubitschek, vitorioso no pleito. Além disso, Lott sustentou a base militar do governo, anulando as tentativas golpistas de oficiais da Aeronáutica nos episódios de Jacareacanga e Aragarças. A surpresa asseguraria a manutenção da rota democrática abalada pela renúncia de Jânio Quadros, em 61, e a deposição de João Goulart em 64. Mas estas são outras questões.
SEM PREVISÕES – O fato predominante é que, a rigor, ninguém pode fazer previsões políticas com base em princípios matemáticos no jogo do poder. O destino das previsões é trágico. As falhas são enormes porque, a rigor, os fatores mudam repentinamente e as contradições se multiplicam ao infinito. Equação matemática não se aplica ao processo humano, sobretudo ao contexto político partidário. Raquel Dodge é mais um exemplo.
Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco se equivocaram . O ofício de Raquel Dodge a Edson Fachin comprova o grande equívoco, a grande ilusão, este o título de filme famoso de Jean Renoir.
02 de março de 2018
Pedro do Coutto
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